Por Fernando Geronazzo
Antes da missa da Quarta-feira de Cinzas, dia 18, o Cardeal Odilo Pedro Scherer, arcebispo de São Paulo concedeu uma entrevista coletiva para apresentar a Campanha da Fraternidade aos jornalistas. Também estava presente o Padre Manoel da Conceição Quinta, responsável por acompanhar e promover a CF na Arquidiocese.
Ao explicar o tema da CF neste ano – “Fraternidade: Igreja e Sociedade”, com o lema “Eu vim para servir” (cf. Mc 10, 45). Dom Odilo salientou que trata-se de um tema muito abrangente e está inserido no contexto da comemoração dos 50 anos do Concílio Vaticano. “A Campanha da Fraternidade propõe-se a refletir, a retomar um dos aspectos importante do Concílio Vaticano II que foi trabalhado de maneira especial na constituição pastoral Gaudium et spes, documento aprovado em 1965, já na conclusão do Concílio, mas que teve uma grande incidência nas orientações depois do Concílio e cujas indicações continuam muito atuais e plenamente válidas”.
Este documento conciliar trata das relações da Igreja com o mundo e, por isso, destacou o Arcebispo, a CF-2015 repropõe a reflexão sobre os temas e buscam “superar certa postura de separação entre Igreja e sociedade, como se fossem realidades separadas, e a consciência de que a Igreja está inserida na sociedade e ali precisa passar a boa nova do Evangelho”, onde também está a mensagem da fraternidade, da dignidade humana, da solidariedade, da justiça social.
“A Igreja não está fora do mundo, não é contra o mundo, está inserida no mundo, como fermento na massa, como a luz que está situada em um ambiente e irradia, portanto, o seu brilho. A eventual tendência a um fechamento para dentro de si não é conforme a grande questão posta pelo Concílio Vaticano II”, acrescentou Dom Odilo.
O Cardeal ainda disse aos jornalistas que a Igreja tem muito a contribuir com o mundo também com as ações concretas, que testemunham em credibilidade em torno daquilo que ela prega. “O trabalho social, o empenho na superação da miséria da fome, socorro a todas as formas de vítimas de pessoas marginalizadas na sociedade, caídos ao longo do caminho, que não conseguem acompanhar o ritmo imposto pela sociedade”.
Ações concretas
Sobre ações concretas da CF-2015, Dom Odilo citou a coleta de assinaturas para Projeto de Lei de Iniciativa Popular “Eleições Limpas”, promovido pelo Movimento de Combate à Corrupção Eleitoral (MCCE) com a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil e várias entidades civis reunidas por uma proposta de Reforma Política. Há também o tradicional gesto concreto da CF, ou seja, a coleta feita em todas as igrejas do País, no Domingo de Ramos, em prol do financiamento de diversas inciativas pastorais relacionadas com o tema da Campanha.
Padre Manuel explicou que a Arquidiocese está se empenhando na CF, promovendo, desde dezembro do ano passado, formações nas regiões episcopais e setores pastorais. “Estamos incentivando a todos para que verdadeiramente a Campanha da Fraternidade seja um momento de evangelização e, ao mesmo tempo, com uma finalidade precisa, que é ir ao encontro das necessidades das pessoas menos favorecidas”.
A corrupção é um mal contra a fraternidade
Respondendo a uma pergunta sobre a corrupção na sociedade, Dom Odilo enfatizou que corrupção é um grande mal social e político e, claramente, a missão da Igreja é também ajudar a sociedade a superar “certa cultura ou até mesmo condescendência com relação à corrupção”.
“Corrupção é naturalmente depende de decisões pessoais e também mecanismos que também a favorecem o a implementam. Portanto, é um mal social, além de ser um mal moral. A corrupção é profundamente contra a fraternidade, é injusta em relação às pessoas, em relação ao conjunto da sociedade, porque faz desviar, justamente, recursos que deveriam ser aplicados em objetivos verdadeiros, justos e não com fins desviados ou privados”, reforçou o Cardeal.
Laicismo x laicidade
Perguntado sobre o trecho do Texto-base da CF que trata da questão da laicidade do Estado, Dom Odilo afirmou que vive-se uma situação particular em que se procura de todas as formas afirmar a laicidade do Estado. “A Igreja, naturalmente, não é contra a laicidade do Estado. Porém, há compreensões diferentes quando se pretende que o Estado seja até mesmo cerceador da prática religiosa ou, de alguma forma, contra a prática religiosa ou aqueles que são contra a religião argumentam que o Estado está seu favor. Seria isto o laicismo, ou seja, a laicidade transformada em ideologia contra a religião”.
Com Odilo destacou ainda que a Igreja entende que a laicidade do Estado seja boa e justa nos termos definidos na Constituição Brasileira, “que assegura que o Estado não impõe religião a ninguém, que assegura a liberdade religiosa aos cidadãos e que, por isso mesmo protege as organizações religiosas na sua apresentação dentro da sociedade”.
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