Estimado(a) leitor(a) da Revista Ave Maria: começo nossa reflexão mensal de junho propondo uma compreensão sobre a linguagem da tolerância em nossos relacionamentos, sobretudo dentro de nossas casas com nossos familiares.
O mandamento do amor, para nós, parece ser bastante exigente: suportar os outros. Suportar quer dizer tolerar generosamente as atitudes e ações desagradáveis ou ofensivas dos irmãos. Suportar ainda nos dá a ideia de que a justa repreensão, disciplina ou correções por atitudes e ações pecaminosas serão adiadas pelo maior prazo possível, na esperança de que o próprio ofensor reconheça o mal que praticou e tome providências para corrigi-lo. Às vezes, a espera pode demorar bastante; é preciso ter muita paciência e esperança.
O próprio Deus nos dá o exemplo. Ele nunca manda fazer nada que não está disposto a fazer. A paciência de Deus tem sido uma das grandes maneiras de expressar amor ao mundo. O Salmo 78 fala que somente depois de muito tempo e de muitas advertências é que Deus passou a castigar a nação de Israel. As Sagradas Escrituras também nos falam da paciência de Deus no Novo Testamento: em Romanos 2,4; 2Pedro 3,9; Colossenses 3,12-14; Tiago 1,19.
Qual é a nossa atitude quando suportamos os irmãos? Obedecer ao mandamento resmungando, contrariados, fazendo-o por constrangimento? Pelo contrário! Devemos fazê-lo motivados pelo amor, querendo contribuir ativamente para o maior bem-estar de cada irmão. Qual o bem que o mandamento de suportar traz à família? Suportarmo-nos uns aos outros é uma maneira de preservarmos a unidade do Espírito e a paz entre os irmãos. Se os cristãos forem propensos a criticar uns aos outros, apontando hábitos indesejáveis, defeitos de personalidades, pecados, o temperamento difícil de alguns, o resultado poderá ser um ambiente enfumaçado por críticas e condenações – situação pouco acolhedora, principalmente com os novos, que estão chegando à célula e logo percebem o ambiente tenso e as alfinetadas durante a partilha na reunião celular. Quando os cristãos são impacientes uns com os outros, as sementes da discórdia germinam.
Por outro lado, se os irmãos cobrirem os pecados uns dos outros (no sentido de tolerância, não de omissão) em vez de atacá-los com as picaretas da crítica, a fim de expô-los à vista de todos, os pacificadores contribuirão para a formação de um ambiente de amor: “Sobretudo, conservem entre vocês um grande amor, porque o amor cobre uma multidão de pecados” (1Pd 4,8). No entanto, devemos lembrar que o próprio Deus não tolerou para sempre a desobediência de Israel. Depois de ter persistido por muito tempo no pecado, desprezando as muitas advertências, aquela nação recebeu um castigo exemplar. Se é vontade de Deus, que sejamos tolerantes com os defeitos e pecados dos outros para que venham, por si mesmos, corrigi-los; também é verdade que poderá chegar o momento em que precisaremos adverti-los a respeito de seus pecados, fazendo uma correção fraterna, sempre com muito amor e empatia, mostrando real interesse e disponibilidade em ajudar o irmão (ou irmã) a superar aquele pecado. O cristão terá de se manter sensível e obediente à direção do Espírito Santo para não incorrer no erro de excesso de tolerância. Tal excesso seria prejudicial à vida e à saúde espiritual da Igreja e da família.
Se os cristãos, na família, tornarem-se mais dispostos a procurar meios de ajudar os irmãos e irmãs a crescer na semelhança a Cristo, sendo tolerantes uns com outros, criarão um ambiente de amor e, com certeza, os cristãos sentirão mais vontade de confessar e abandonar qualquer coisa que venha a ofender os irmãos.
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