Nós temos a alegria da fé e podemos rezar sem ver. Os olhos da fé são mais penetrantes que os olhos do corpo, conseguem ver além, contemplar o invisível. A saudação de Jesus depois da ressurreição é maravilhosa, “a Paz esteja com você”.
O santo Papa João Paulo II abriu para a humanidade a porta da misericórdia que estava meio aberta e fez entrar no coração de cada cristão uma intuição de Santa Teresa do Menino Jesus. Devemos nos oferecer como vítima não à justiça de Deus, mas à sua misericórdia, esta ideia que encontrou a maior difusora em Santa Faustina, que era devota de Santa Teresinha e que viu na Sexta-feira Santa o dia da divina misericórdia. Jesus, que carrega com amor o altar da sua morte, cruz, nos mostra uma maneira da qual não podemos duvidar, o seu divino coração, de onde nasce o rio da divina misericórdia que apaga, destrói todos os pecados.
O maior câncer que corrói a humanidade é o pecado pessoal, comunitário, social, individual, que é a rejeição do amor; se vencermos isso, começamos um novo caminho e uma nova construção de um mundo novo feito de amor e de vida. Não devemos nos deixar tomar pelo medo que nos afasta de Deus, porque nos afasta do amor. Há uma ladainha do Sagrado Coração de Jesus que eu medito muitas vezes nos momentos em que o medo tenta fechar o meu coração: “Fornalha ardente de amor.
É nesta fornalha ardente de amor que lanço todos os meus pecados para que sejam queimados e destruídos. Do coração de Jesus nasce o rio da misericórdia, que vai fecundando todos os orações desérticos pelo egoísmo, pela inimizade, pela indiferença, pelo ódio, pela rejeição dos valores humanos de solidariedade. A vida nunca pode ser marginalizada e descartada, jogada no lixo ou deixada morrer.
Não é permitido salvar uma pequena minoria, um pequeno grupo de ricos privilegiados e deixar morrer uma ultidão de pobres. A vida não tem valores diferenciados, tem sempre um único valor: a vida.
Este segundo domingo da Páscoa, dia da misericórdia, nos obriga a parar, a descer no íntimo do nosso coração para verificar qual é a água que corre dentro de nós e de qual nascente ela vem. Se vem da nascente humana uma água contaminada, podre, fedorenta, que deve ser purificada com a água viva, que nasce da nascente do coração de Deus. Verificar se somos misericordiosos conosco mesmos, exigindo perdão e nova chance de vida e ainda assim somos terrivelmente duros e exigentes com os outros. É preciso mudar a maneira de pensar e sonhar – misericordiosamente –, dando a todos e sempre uma nova chance de conversão e de vida nova.
Deus misericórdia não se fecha em si mesmo, mas se abre aos pecadores para entrarmos por esta porta escancarada, bebermos da misericórdia e levarmos misericórdia a todos os que encontramos. Aqui se pode aplicar as palavras da oração de São Francisco de Assis: é dando misericórdia que se recebe misericórdia.
Como é belo seguir com fé a força da ressurreição de Jesus, que foi um forte tsunami nas consciências de todos os seus seguidores e de quem não queria vê-lo ressuscitado, e achava que com a morte na cruz o problema estava resolvido. A morte jamais resolve os problemas, mas os aumenta. Quem resolve os problemas é a vida, porque ela ressuscita em nós tudo que é mais alegre e cheio de esperanças.
Lucas nos relata como a ressurreição de Jesus despertou conversões, e uma multidão de homens e mulheres seguia a pregação dos apóstolos; imediatamente parece em destaque Pedro. Ele que parece ter mais forças do Espírito Santo para operar os mesmos milagres que perava. Jesus curava os doentes, expulsava os espíritos malignos, fazia o bem. E todos imaginavam se não era possível tocá-lo ou pelo menos ser cobertos com por sua sombra.
A sombra dos santos é sempre fortalecedora e consoladora. Uma sombra de amor e de santidade. E todos eram curados. Todos os que creem em Jesus são curados integralmente na alma e no corpo. Jesus, como diz São João da Cruz, é doença e saúde, é chaga que cura.
Tenho só um arrependimento na vida: de ter amado tarde demais o livro do Apocalipse. Eu o achava quase um livro inútil, fantasioso e, no entanto, com o passar do tempo, descobri-o mais belo, pois nos projeta na eternidade e nos faz compreender toda a beleza de Jesus ressuscitado. O livro da manifestação de Jesus, onde ele se revela na sua grandeza, no seu poder e na sua glória.
João, o evangelista, nos fala do seu testemunho do Ressuscitado, do vencedor da morte. João Evangelista, nosso companheiro e companheiro de Jesus, que amou Jesus e se deixou amar por ele, é também nosso companheiro que nos ensina o caminho a seguir para chegarmos à glória definitiva.
Não se pode entrar no paraíso sem passar pela morte, mas quem tem a chave da morte e da vida? Jesus é vencedor. Ele ressuscitou para sempre. Quem crê na ressurreição não pode ter medo da morte, das trevas, do pecado, porque tudo está destruído pela força de Jesus, nosso Salvador.
João Evangelista tem uma preocupação: contar, com detalhes, como Jesus se manifestou e a quem se manifestou depois da sua ressurreição, a Pedro, aos doze, a Tomé, à multidão, às mulheres, que foram as primeiras agraciadas pela coragem que tiveram de enfrentar a noite e os guardas para verem Jesus e irem anunciá-lo aos discípulos fechados e medrosos no cenáculo. No texto do Evangelho deste domingo da misericórdia vemos como Jesus se manifesta a Tomé, o irmão incrédulo que desafia Jesus e é desafiado por Ele, que tem um anúncio novo: quem crê não precisa ver.
Nós temos a alegria da fé e podemos rezar sem ver. Os olhos da fé são mais penetrantes que os olhos do corpo, conseguem ver além, contemplar o invisível. A saudação de Jesus depois da ressurreição é maravilhosa, “a paz esteja com você”; só se nós crermos na ressurreição de Jesus podemos compreender o que é a verdadeira paz, não como a dá o mundo, mas como Deus a dá. Esta é a declaração que Jesus a Tomé, que nunca podemos esquecer na nossa vida.
“Acreditaste por que me viste? Bem-aventurados os que creram sem terem visto.” Estes somos nós. Isto é misericórdia, é crer na misericórdia. Peçamos ao Senhor que renove a nossa fé.
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