Quase sempre, em conversa com os amigos, ouço seus relatos de desencantamento. As queixas são as mais variadas e chegam dos mais diversos campos de relações da existência humana. No trabalho, parece que caímos numa roda dentada de trabalharmos infinitamente, executando as mesmas tarefas, ouvindo cada vez mais exigências, mas sem uma causa que alente o nosso coração e nos faça prosseguir. No campo das relações interpessoais não é diferente, pois, em sua maioria, andam amplamente fragilizadas e descartáveis, ou líquidas, como assinala o sociólogo polonês Zygmunt Bauman.
No campo eclesial, o descontentamento segue balançando a fé de muitos, isso acentuado pelos discursos polarizados de “progressistas” e “conservadores” doutores da sã doutrina e da salvação alheia. No cenário político estamos exacerbados de representantes que em pouco ou nada representam de verdade os nossos interesses.
Diante de tantas realidades nos perguntamos: como vencer o cansaço, o desânimo, e encontrar forças para prosseguir?
Pergunta semelhante parecia ecoar no coração de Pedro e de seus companheiros no relato apresentado pelo evangelista Lucas em 5,1-11. Após uma noite de muito trabalho em vão, o dia já raiara e nem sequer um peixe fora apanhando; o coração daqueles homens, pescadores com experiência, encontrava-se desesperançado, pensando ser inútil prosseguir na labuta daquele dia.
A ação de Jesus, que pede ao barqueiro que se afaste da margem e avance para as águas mais profundas, é um convite para sairmos das margens da nossa vida em seus diversos aspectos: familiar, social, profissional, espiritual etc. e irmos em direção a relações e ações mais profundas, mais cheias de sentido e plenas de Deus.
A sequência do relato feito pelo evangelista é de que, se não bastasse pedir que aqueles, até então pescadores, fossem para águas mais profundas, Jesus ordena que eles lançassem as redes novamente, mesmo depois de uma exaustiva noite de trabalho em vão.
Pedro, pescador experiente, sabe que àquela hora seria inútil, pois o momento já não era mais propicio à pesca, mas, tocado pela Palavra do Mestre, lança as redes.
A pesca abundante, realizada por aqueles pescadores, é um símbolo para eles e para nós de que devemos ouvir a Palavra de Jesus, que nos convida a prosseguirmos, a mudarmos as rotas do nosso coração e das nossas ações, a abandonarmos as nossas pseudosseguranças para seguirmos e fazermos o que Ele nos pede.
Bem sei e sou testemunha de que o nosso coração pode assinalar que já não tem esperança; o nosso corpo, de igual maneira, emite sinais de que está exaurido, mas confiemos nas palavras do Mestre de Nazaré, Ele está ao nosso lado. Com o coração confiante e em prece digamos como uma oração: “Senhor, pediu conversão, orientou os meus passos, mostrou-me o caminho. Mestre, em sua palavra desejo sempre caminhar e, em atenção a ela, lançarei as redes muitas vezes mais. Amém!”.
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