“O Senhor teu Deus esta contigo por onde quer que andes.” (JS 1, 9)
“O teu abraço apertado, mãos firmes e sempre ao meu lado, me dão forças ara caminhar.” (Leonardo André)
Coisa boa é ter com quem partilhar a vida. Uma presença amiga, ao longo da trajetória, é um porto seguro no qual podemos nos ancorar sempre que a caminhada parecer pesada e prosseguir sozinhos parecer impossível. No percurso da nossa existência, vamos encontrando presenças assim. Primeiro em nosso núcleo familiar, depois a nossa professora do jardim, os coleguinhas do ensino básico, os amigos de faculdade, do trabalho. Sempre estamos desejosos de uma presença com a qual podemos contar nos momentos mais difíceis e alegres.
Em tempos de comunicação digital e de redes sociais, podemos cair no engano de estar sempre acompanhados ou abarrotados de presenças amigas, pois basta postarmos uma foto, uma frase de efeito e os likes começam a surgir, dando a nós a ilusória sensação de que não estamos sós. Contudo, também é verdade que na hora dos perrengues, nos momentos mais difíceis, essas presenças não se fazem tão presentes.
Intuo que a permanência na vida do outro exige tempo de maturação e de conhecimento. Um percurso trilhado e partilhado na gratuidade de vidas que se encontram e se misturam com leveza e responsabilidade. Minha mãe dizia assim: “Só podemos chamar alguém de amigo depois de termos comido uma medida de sal juntos”. Com esse dito ela queria alertar sobre a necessidade de passarmos longo tempo para podermos considerar alguém como amigo. Ela compreendia as responsabilidades embutidas em uma partilha sincera de vida. Sabia bem que as vidas depois de misturadas não podem mais ser separadas, mesmo que exista a distância de corpos. Como dizia Saint-Exupéry, “Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas”.
Essa experiência foi vivida pelo povo de Israel e continua sendo em nossos dias com a presença de Deus em nosso percurso. Os israelitas, na libertação do cativeiro do Egito, fizeram um itinerário de construção de afinidade com Deus, é certo que marcado por idas e voltas, compreensões e incompreensões, alianças e infidelidades por parte do povo, mas, bem sabemos que Deus não os deixou sós.
Após os quarenta anos no deserto ou, numa linguagem diferente, após o tempo que foi necessário ao povo para a construção dessa relação, eles adentram a Terra Prometida e Deus reafirmou a sua promessa de estar com eles por onde quer que estivessem (cf. Js 1,9).
Essa é a confirmação de que jamais estaremos sozinhos, pois tal promessa é estendida àqueles que se fazem próximos ao Senhor. Essa presença é confirmada amplamente na literatura bíblica. Recordemos da confiança do salmista ao proferir “Ainda que eu ande pelo vale tenebroso, nenhum mal temerei, pois estás comigo, teu bastão e teu cajado me dão a segurança” (Sl 23).
Outra confirmação dessa presença pode ser encontrada no Salmo 37 em que, cheio de confiança, o salmista proclama “O senhor ama quem pratica a justiça, e não abandona os seus fiéis”. Ou ainda no primeiro livro de Samuel, “Certamente Yahweh jamais desamparará o seu povo, em honra ao seu grande nome; porque o Senhor decidiu fazer de vós o seu povo” (1Sm 12,22).
O Senhor, nosso Deus, caminha conosco e se manifesta em muitas presenças salvíficas que nos amparam e socorrem em meio às tribulações da vida. Estejamos atentos àqueles que se aproximam de nós e nos demonstram essa presença. De igual maneira, façamo-nos também presença junto ao Senhor que caminha conosco. Nos momentos de alegria ou de tristeza, busquemos o seu abraço e colo acolhedor. Ele está sempre conosco, estejamos também nós com Ele.
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