A figura do coroinha ou acólito é conhecida por toda a comunidade eclesial. Trata-se daquela criança ou jovem que auxilia nas funções litúrgicas no altar e nas paraliturgias, mas a missão desses ajudantes tão importantes vai muito além do momento celebrativo.
Pessoalmente e também na comunidade, o serviço do coroinha e também do acólito é uma oportunidade de crescimento na fé e na compreensão da missão da Igreja. É uma pastoral essencial, a Pastoral dos Servidores do Altar (coroinhas e cerimoniários).
“OLHO PARA OS COROINHAS E ME VEJO”
Para alguns é o início de um caminho de descoberta vocacional. Foi o caso do Padre Gabriel dos Santos Mota, 33 anos, pároco da Paróquia Nossa Senhora do Carmo, em Salvador, na Bahia.
“Fui coroinha por oito anos, dos 10 aos 18 anos, na minha comunidade de origem, Santa Maria Madalena. Desde sempre desejei ser padre, aos 3 anos já celebrava minhas missas durante as brincadeiras. O serviço de coroinha ajudou a amadurecer esse desejo, pois a proximidade com o altar fazia sempre o coração arder pelo desejo de um dia estar a presidir a santa Eucaristia”, disse à reportagem.
O sacerdote ficou marcado pelo exemplo do seu pároco, à época, Padre Maurício Abel, um missionário belga. “ Ele veio para o Brasil e construiu mais de quarenta capelas, entre as quais a minha comunidade”, recordou.
Padre Gabriel salientou que a pastoral dos coroinhas é um grande instrumento para manter as crianças e jovens atuantes na Igreja. “Olho para os coroinhas e me vejo neles, tento fazer com que me vejam com o mesmo olhar e inspiração que eu via em meu pároco”, afirmou o sacerdote.
Ele enfatizou que na pastoral dos coroinhas desenvolvem-se vocações tanto sacerdotais e religiosas quanto à vida matrimonial, pois “Fecunda no coração das crianças e jovens o principal para viver bem uma vocação: o desejo de amar a Deus de todo coração e amá-lo no serviço à Igreja e ao próximo”.
JÁDILA, UMA JOVEM CAMINHANTE
Jádila de Barros Pereira é acólita, tem 18 anos e participa da Paróquia Santa Teresa de Calcutá, no bairro do Limoeiro, periferia da cidade de São Paulo (SP).
“Iniciei minha caminhada como coroinha no ano de 2019 na comunidade Santa Rita de Cássia. Tinha acabado de me mudar e comecei a ir para a igreja perto de casa. Após alguns meses, o coordenador da igreja chamou a mim, à minha irmã e à minha prima para sermos coroinhas. Hoje já sou também cerimoniária e coordenadora dos coroinhas”, contou a jovem.
Jádila comentou que, ao olhar todo o esforço da caminhada, sente-se muito gratificada: “Os coroinhas são os responsáveis para que tudo saia certo durante a Missa, ajudam em tudo dentro da igreja, não se trata de ir só na hora da Missa e servir. Nessa função conheci pessoas maravilhosas e sinto-me mais perto de Deus”.
O que mais a motiva a continuar é saber quanto sua presença e serviço fazem a diferença: “Quando me tornei coroinha, aconteceu um encontro dos coroinhas na praça da Sé [em São Paulo] e tinha muito coroinha, nunca tinha visto tantos juntos”, lembrou.
Ao ser questionada sobre o futuro, a jovem disse: “Quero estar no mesmo lugar, só que evoluindo, não vou sair e nem desistir. Pretendo continuar firme nessa estrada e incentivar mais crianças e adolescentes a caminharem comigo”.
“O SERVIÇO AO ALTAR FAZ COM QUE MUITOS DESCUBRAM SUAS VOCAÇÕES”
Padre Elson Paulo Correia Lopes, 33, é membro da Congregação dos Missionários do Espírito Santo (espiritanos). Ele nasceu em Cabo Verde e atualmente é missionário em São Paulo.
“Eu fui coroinha até 2007, quando viajei a Portugal para ingressar no seminário, onde estudei filosofia, em Lisboa”, contou à reportagem da Revista Ave Maria.
Quando foi coroinha, ele já tinha o desejo de ser padre. “Pedi ao meu pároco para ser coroinha, mas, como morava longe da igreja, ele disse que eu não iria conseguir chegar a tempo da Missa, mas, depois consentiu. Estar ali junto ao padre, no altar, ia me dando cada vez mais o desejo de fazer o mesmo, de seguir aquele caminho. Quando eu falava que queria ser padre, todos me apoiaram e rezavam comigo”, contou e acrescentou: “A convivência com os colegas e o incentivo deles, os passeios, encontros e ensaios, além daqueles momentos em que a igreja ficava cheia e as missas contavam com mil, 2 mil pessoas, cativavam-me muito, também. Infelizmente, depois da catequese e da Crisma, os jovens desaparecem da igreja. O serviço ao altar faz com que muitos permaneçam e descubram suas vocações, não só a sacerdotal, mas também a vocação matrimonial, laical”, ressaltou.
“Ainda sobre a questão da descoberta, eu, como coroinha, não entendia todo o simbolismo, o significado do rito e isso só me deixava ainda mais curioso, com mais vontade e desejo de servir enquanto sacerdote”, finalizou Padre Elson.
LIVRO COROINHAS: UM CHAMADO ESPECIAL
Priscila Duarte Ribeiro, 42, participa da Paróquia Catedral São Dimas, em São José dos Campos, interior de São Paulo.
Ela é coordenadora da pastoral dos coroinhas e sua filha, coroinha há sete anos, tornou-se cerimoniária.
“O chamado para a coordenação veio naturalmente, pois eu já ajudava na pastoral de forma indireta. A forma como o padre me convidou pra coordenar foi muito especial. Foi no dia de Corpus Christi. Eu estava com as crianças fazendo o tapete na rua”, contou Priscila, autora do livro Coroinhas: um chamado especial, da Editora Ave-Maria.
Lançado em maio deste ano, o livro foi pensado para um público especial, os próprios coroinhas, principalmente as crianças.
Priscila é publicitária, pós-graduada em Marketing e especializada em Liderança pela Florida Christian University, nos Estados Unidos. À reportagem, a autora explicou que o objetivo do livro é despertar nas crianças o amor por Jesus eucarístico e que ele mostra a preciosidade de servir ao altar e estar mais perto de Jesus Eucarístico. “Ser coroinha não é só ajudar o padre, é muito mais do que isso. É entender a que fomos chamados, quem somos e quem nos chamou. Além de viver a intimidade com Jesus eucarístico, respeito pela adoração e experiência com o amor de Deus”, disse Priscila.
Em relação à vocação, a autora destacou que viver bem esse chamado de coroinha ajuda no discernimento dela: “Muitos sacerdotes foram coroinhas e esse servir ajudou no discernimento. Quando há participação da família, vê-se ainda mais a responsabilidade, o engajamento na missão e vivência dos sacramentos”, completou, além de insistir que “Quando o chamado a ser coroinha é bem vivido, essa experiência dá frutos e a pessoa permanece a vida toda com essa sede de querer estar perto de Jesus eucarístico, buscando sua presença na Palavra e na Eucaristia”.
“Vocês escolheram ser ministrantes do altar e eu gostaria de agradecer-lhes do fundo do meu coração pelos esforços, e às vezes as renúncias, que fazem para se dedicar a esse compromisso de coroinhas enquanto muitos de seus amigos preferem dormir nas manhãs de domingo ou praticar esportes. Vocês não imaginam quanto podem ser modelos, pontos de referência para muitos jovens de sua idade. Vocês podem realmente se orgulhar do que fazem. Não tenham vergonha de servir ao altar, mesmo que estejam sozinhos, mesmo que estejam crescendo. É uma honra servir a Jesus quando Ele doa sua vida por nós na Eucaristia.” (Papa Francisco)
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