1. Ter em conta a idade das crianças. A Quaresma a todas diz respeito, mas não a todas da mesma maneira. Às vezes ouve-se: «Oh, as crianças não são obrigadas a fazer a Quaresma!». Mas ninguém é obrigado! Não se trata disso. A Quaresma não é um peso, um tempo mau pelo qual se tem de passar; a Quaresma é um presente, um tempo de graça que nos é oferecido. Porquê privar os jovens dela? Dito isto – salvo exceção –, realidades como a conversão ou a penitência não fazem muito sentido para os menores de cinco anos. E 40 dias, para eles, são uma eternidade! Cabe aos adultos sentir quando e como podemos solicitar a atenção dos mais novos para nos os aborrecer das Cinzas à Páscoa.
2. Tenhamos em atenção o caráter de cada criança, as suas riquezas e limites. Por exemplo, o facto de materializar a subida até à Páscoa anotando os esforços realizados numa folha pode ajudar uma criança com tendência para o desencorajamento, que tem sempre a impressão que não faz bem as coisas; mas revelar-se-á desastroso para outra que, facilmente orgulhosa, se servirá dessa folha para provar aos outros e a ele mesmo que é o melhor; e também não convirá a uma criança demasiado voluntarista, que medirá o valor da sua Quaresma pela quantidade de atos – tantas orações, tantos sacrifícios, tantos esforços de partilha –, esquecendo que fazer a vontade de Deus não consiste forçosamente em fazer, mas também em deixar-se fazer.
3. Em todo o progresso espiritual, as aparências são por vezes enganadoras: o mais importante é o que não se vê. Lembremo-nos também que Deus tem uma história de amor única a viver com cada um de nós. É por isso que, ao orientar as crianças, a nossa atitude deve ser atenta e respeitosa. Atenta, para não arriscar sufocar ou esmagar as maravilhas que estão a nascer. Respeitosa, para não enclausurar em modelos pré-fabricados caminhos espirituais que só podem ser inéditos, e para não entrar à força nos jardins secretos.
O Xavier recusa participar nos esforços de partilha decididos em família: está fora de questão privar-se de doces para alimentar o mealheiro da renúncia quaresmal; mas, depois de uma conversa com a professora dele, os pais descobrem que ele gasta tesouros de amizade com um menino que habitualmente fica sozinho no recreio. A Sofia está sempre agitada e aparentemente distraída durante a oração familiar, mas, com um pouco de atenção, os pais acabam por notar que ela se recolhe intensamente no momento do sinal da cruz; alguns segundos, apenas… o tempo, talvez, de um profundo encontro com Deus.
4. Não esqueçamos que a caridade bem ordenada começa por si mesmo. Desejamos que as nossas crianças vivam verdadeiramente a Quaresma como uma subida para a Páscoa? Comecemos nós a pôr os pés à estrada! Um bom exemplo vale mais que grandes discursos. Mas atenção para não desempenhar o papel de pais “exemplares”. Ansiosos por dar o bom exemplo, arriscamo-nos por vezes a esconder a qualquer preço as nossas fragilidades e quedas.
O que as crianças precisam não é de pais irrepreensíveis, mas de pais que, sabendo-se pecadores, remetem-se sempre à misericórdia de Deus. Pais que vivem a Quaresma como uma subida, mas uma subida que se assemelha mais a um ascensor do que a uma escada. Esse ascensor de que Santa Teresa do Menino Jesus dizia: «Gostaria de encontrar um ascensor para me elevar até Jesus, porque sou demasiado pequena para subir a rude escadaria da perfeição (…). O ascensor que deve elevar-me até ao Céu são os vossos braços, ó Jesus! Para isso, não preciso de crescer, ao contrário, é preciso que eu permaneça pequena, que o seja cada vez mais».
Christine Ponsard
In Famille Chrétienne
Trad.: Rui Jorge Martins
Publicado em 05.03.2019 no SNPC
Via Catequese Hoje
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