No dia 2 de outubro, milhares de brasileiros comparecerão às urnas para exercer o direito do voto. Entre os novos votantes aptos ao pleito de 2022, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) registrou 2.042.817 novos eleitores em todo o país, entre 16 e 18 anos. Esse é um número histórico em relação aos anos anteriores, resultado positivo após uma grande campanha do Tribunal Superior Eleitoral intitulada Semana do Jovem Eleitor, incentivando a juventude brasileira a tirar o título de eleitor e a participar das eleições deste ano.
A convocação aconteceu principalmente nas redes sociais e demais meios de comunicação e recebeu apoio de vários artistas nacionais como Anitta, Zeca Pagodinho, Juliette, Pablo Vittar e ganhou ajuda até mesmo de artistas internacionais, como os atores Leonardo DiCaprio e Mark Ruffalo.
Certamente, essas e outras iniciativas colaboraram para aumentar o número de jovens que poderão votar neste ano, provando que é possível o engajamento e a ampla participação da juventude nas questões que envolvem cidadania.
Uma das ações de destaque foi um tuitaço com a #RolêdasEleições promovido para conscientizar a juventude sobre a importância do voto e da escolha dos representantes. A mobilização fez parte da Semana do Jovem Eleitor, que aconteceu entre os dias 14 e 18 de março do presente ano em todo o Brasil.
O Twitter afirmou que foram publicados, durante a mobilização, perto de 6,8 mil tuítes com esse tema, que chegaram às telas de mais de 88 milhões de pessoas, o que representa mais de 4,7 mil usuários da plataforma participando da iniciativa, seja com publicações próprias ou com a retransmissão de postagens feitas por seguidores que seguem na rede social.
O Tribunal Superior Eleitoral detalhou que, durante a Semana do Jovem Eleitor, foram emitidos 96.425 novos títulos para jovens na faixa etária de 16 a 17 anos, idade considerada facultativa e não obrigatória ao voto.
Com presença ativa nas redes sociais, o Tribunal Superior Eleitoral atingiu o recorde de 2.042.817 novos eleitores em todo o país entre 16 e 18 anos, que neste ano comparecerão às urnas para exercer o direito do voto pela primeira vez.
Em 15 de julho, o tribunal divulgou estatísticas eleitorais e o país tem mais de 156,4 milhões de pessoas aptas a votar. De acordo com seu presidente, ministro Edson Fachin, os números demonstram “a pujança cívica da cidadania” e correspondem ao maior eleitorado cadastrado da história brasileira.
Segundo a Justiça Eleitoral, houve um aumento de 6,21% do eleitorado desde as últimas eleições gerais do país, em 2018. Naquele pleito, o número de eleitoras e eleitores habilitados a votar era de 147.306.275. Nas eleições deste ano, 2.116.781 jovens poderão votar. Em 2018, essa faixa etária alcançou 1.400.617. Esse número corresponde aos eleitores com 16 e 17 anos que terão essa idade no dia na data do primeiro turno do pleito. Em relação a 2018, houve um crescimento de 51,13% nessa faixa etária do eleitorado.
As eleições gerais no Brasil em 2022 estão agendadas para o dia 2 de outubro, para o primeiro turno, e em 30 de outubro em caso de um segundo turno. Nesses dias, os brasileiros vão votar para presidente da República, governadores, senadores, deputados federais e deputados estaduais ou distritais.
Não é fácil estabelecer os critérios que levam uma determinada parcela da população, como, por exemplo, quem tem entre 16 e 17 anos, a votar neste ou naquele candidato. José Augusto Guilhon Albuquerque, fundador do Departamento de Ciência Política da Universidade de São Paulo (USP), explica em seu artigo “Identidade, oposição e pragmatismo: uma teoria política do voto”: “Os estudiosos do comportamento eleitoral se guiam por um punhado de conclusões empíricas bem estabelecidas. Uns dirão que os mais velhos votam conservadoramente e os mais jovens, ao contrário; que os mais instruídos são mais liberais e os mais ignorantes são autoritários; que os pobres querem mudanças e os ricos querem voltar ao passado. Tomada isoladamente, cada uma dessas previsões é rigorosamente correta, mas que fazer dos jovens pobres, dos ricos jovens e instruídos e dos velhos pobres e ignorantes?”.
Para Albuquerque, as pessoas votam por identificação, por oposição ou por expectativa de desempenho, portanto, é preciso entender o voto como uma ação racional estratégica. Todo eleitor, de forma mais ou menos consciente, transita entre uma correlação entre sua visão de mundo e uma leitura pragmática da realidade na hora de escolher em quem votar.
Estudante do terceiro ano do ensino médio do Colégio Espírito Santo, em São Paulo (SP), Catarina Rebelo Nogueira Guercio, 17 anos, apresentou sua monografia falando sobre a importância de as pessoas conhecerem seus direitos e deveres e como a democracia se fortalece a partir disso e também sobre a importância do envolvimento dos jovens na política.
Em entrevista à reportagem, Catarina falou sobre seu engajamento político nas eleições de 2022: “Minha principal participação política tem sido estudar sobre democracia cada vez mais para não só viver inserida nela, mas também participar como cidadã. Além de buscar fontes confiáveis de informação, também busco incentivar a participação de jovens na política. Tirei meu título de eleitor neste ano. Busquei motivar os meus colegas a tirarem o título, mas não tive muito êxito ”.
Sobre os jovens desinteressados em não querer exercer seu direito ao voto, Catarina relata que as falas mais comuns entre os seus colegas eram de que um cenário político polarizado traz uma grande desmotivação. “Outros não veem a política como uma forma de mudança e não enxergam a importância da política ou até mesmo alguns que diziam que preferiam se isentar da responsabilidade de votar”, acrescenta.
Quanto mais se amplia e se valoriza a participação dos jovens em todos os processos políticos, mais essa porção da sociedade amadurece como seres políticos, foi o que concluíram Udi Mandel Butler e Marcelo Princeswal, professor de Antropologia Social da Universidade de Bristol (Reino Unido) e psicólogo pesquisador do Centro Internacional de Estudos e Pesquisas sobre a Infância (CIESPI) em convênio com a Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio), respectivamente.
Em apresentação durante o 2º Seminário Internacional sobre Crianças e Adolescentes intitulado “Culturas de participação: jovens e suas percepções e práticas de cidadania”, disseram: “A qualidade da participação se eleva quando as pessoas se sentem valorizadas, quando seu esforço e atuação são reconhecidos, quando elas se sentem capazes de fazer, de transformar o mundo e as relações que as cercam. A qualidade aumenta quando as pessoas sentem sua participação e os objetivos e valores do coletivo ao qual pertencem como repletos de significado, como profundamente gratificantes”.
O ambiente em que um jovem está inserido também faz toda diferença para um despertar do seu engajamento político.
Gabriel da Silva Ribeiro, 16 anos, estudante do segundo ano do ensino médio da Escola Marista Social Irmão Lourenço, na zona leste de São Paulo, em entrevista confidenciou que tirou seu título de eleitor em 2022 por incentivo dos pais e de sua irmã. Ele acredita que aqueles que não têm interesse em questões envolvendo a política isso se deve à falta de incentivo em suas casas e nas escolas: “Pode ser porque estão em um ambiente onde esse tipo de diálogo nunca é feito e nem é incentivado esses tipos de discussões”.
Sobre suas expectativas quanto ao poder do seu voto, o aluno revela: “Eu vou votar neste ano principalmente porque gostaria de ver mudanças e melhorias nas áreas voltadas ao trabalho, principalmente por ter pessoas do meu convívio que não têm condições de trabalho muito boas”.
Já Fernanda Chaves Holanda, 16 anos, colega de turma de Gabriel, destaca que nunca se interessou por política, achava chato, mas a jovem não estava contente com os rumos do país e resolveu tirar o título eleitoral para exercer seu direito ao voto e em busca de mudanças. Assim, também tentou incentivar os colegas de classe a fazerem o mesmo ato: “Eu acredito que os jovens que se interessam por política são pessoas com a cabeça aberta, que se importam com a vida delas e com o mundo, são motivadas por pensar que a nossa sociedade pode melhorar, com menos fome, desemprego, criminalidade”.
A aluna confia no poder do seu voto e sonha com o fim da desigualdade, da violência, da falta de sustentabilidade ambiental e da violação dos direitos humanos e completa: “Deveria haver mais representatividade feminina e negra no sistema eleitoral”.
O poder do voto é algo muito importante e um grande instrumento de mudança. É que pensa a estudante Emily Rodrigues Martins, 16 anos, do Colégio Saint Germain, em São Paulo. Ela pontua que muitos dos seus colegas não possuem interesse na política por acreditarem que o cenário político não vai mudar. “Na hora de votar temos que dar chances para candidatos menores, aqueles que ainda não tiverem chance no poder. Apostar nos novos para enxergar a mudança”, encerra.
O que todos esperamos é que a experiência do voto possa trazer aos jovens a consciência sobre a importância da democracia e da voz que podem ter na sociedade ao escolher seus representantes com base nas propostas que acreditam ser as melhores para o futuro do Brasil.
Comments0