“Para os avós, os netos são a sua coroa de glória, tal como a coroa dos filhos são os pais.” (Pr 17,6)
“Um coração tão capaz de amar sem pedir troco. E a verdade é uma só, todo avô e toda avó é pai e mãe, só que em dobro.”
(Bráulio Bessa)
No mês de julho, celebramos o Dia dos Avós. Eles são, na maioria das vezes, uma das nossas grandes referências sobre amor, doçura e cuidado. Reúnem em si a sabedoria dos anos vividos e a leveza de quem conheceu muito da vida e se encaminha para o reencontro com o Criador.
Reconheceram a sua finitude e a importância de viver cada dia com a reverência que ele pede. Aprenderam a ser pais e, com esse aprendizado, podem ser bons avós. Por isso ouvimos tanto a enciumada reclamação dos filhos: “Nossa! Quando era comigo era tão rígido, mas agora com os netos é um bobo!”. Esse é um reconhecimento de que os pais se tornaram avós.
Às vezes suas mãos trêmulas e corpo já sem muita destreza e viço de juventude guardam almas e corações maiores do que o mundo. Não cabem naquele corpo, transbordam em singelezas cotidianas. A voz doce, a palavra acertada e o afago sempre certo!
A casa dos avós é lugar de encontro para toda a família. O álbum de fotografias com as memórias de tempos que não vivemos conseguem nos ligar à raiz da nossa história, na cozinha a feitura de manjares com pitadas de segredos anunciados com “essa receita eu aprendi com minha mãe, tem um segredo que não conto a ninguém”. Na casa dos avós tudo é festa, tudo é segredo, tudo é partilha, tudo é carregado de sacramentalidade.
Na casa dos avós sempre há um doce guardado, um biscoito a ser servido é um café a ser passado. É lugar certo para os encontros de domingo ou de férias onde a “primaiada” se encontra. Nessa casa há sempre a disputa entre os netos para saber quem é o preferido dos avós. Sabemos que existe um! Sabemos que eles compram a marca de biscoitos do neto preferido só para agradá-lo. Sempre há um neto que recebe um pouco mais daquele dinheiro entregue às escondidas como se tentassem esconder um ato ilícito. Um segredo que todos conhecem, mas ninguém ousa revelar – aquele aperto de mão na hora da saída, quase sempre acompanhado de um sorriso e um piscar de olhos evidencia uma cumplicidade entre netos e avós.
Só quem viveu essas experiências sabe o valor que elas possuem. São sacramentais de amor, humanizam-nos.
Dia desses, li um texto intitulado “Quando a casa dos avós se fecha”. O texto trazia a narrativa de como tudo isso se torna lugar de saudade quando os avós voltam a morar no coração de Deus. Acabam-se os encontros de família, os objetos são partilhados, recorda-se que ninguém nunca conseguiu aprender o segredo daquela receita de sobremesa e, portanto, nunca mais sentiremos aquele mesmo sabor. Descobre-se, inclusive, que na partilha de heranças aquela casa que guarda a nossa história pode ir parar nas mãos de outras pessoas e que nunca mais teremos acesso ao seu interior.
Com a partida dos avós, abre-se em nossa vida um lugar de saudades que jamais será preenchido. Todos nós sabemos bem sobre as verdades contidas neste texto. Aqueles que ainda possuem seus avós reconhecem a maravilha de ter um lugar para encontrar e se reencontrar, para receber sempre o carinho daqueles que são expressão máxima da vida e do amor. Os que já não os possuem sabem quanto as memórias dessas pessoas e das experiências com elas partilhadas são preciosas.
Aproveitemos este mês de julho e rezemos à senhora Santana e a São Joaquim por nossos avós. Agradeçamos a Deus pela graça de sermos presenteados com pessoas que nos revelam o seu amor.
Dedico este texto às avós Arlete de Matos Andrade e Maria de Santana Andrade. Suas casas já foram fechadas, mas a felicidade vivida nelas se perpetua com sacramento de eternidade.
Dedico-o também a todos os avós e netos que continuam com suas casas abertas, celebrando a vida nos mais diversos encontros e manifestações de amor, carinho e cuidado, dentre eles minhas avós do coração, Maria e Neida Curi.
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