Pe. Welington Cardoso Brandão, cmf* e Paula Jannotti*
Os avós ocupam lugares importantes nas vidas dos netos, criam memórias, transmitem valores, possibilitam o conhecimento da história familiar, contribuem para o desenvolvimento afetivo das crianças. Essa conexão de diferentes épocas, rica de saberes, é benéfica para ambos.
No contexto da família contemporânea, os pais, em função dos compromissos cotidianos, têm pouco tempo para se dedicar aos filhos, sendo assim, os avós se tornam fontes de apoio, suporte, assumem a prole dos filhos, muitas vezes em detrimento de seus interesses e cuidados pessoais.
A imagem dos avós frágeis, dependentes, sentados na cadeira de balanço é incomum, são cada vez mais funcionais, ativos no mercado de trabalho e, muitas vezes, provedores do domicílio. Com o aumento da expectativa de vida, a convivência familiar torna-se mais duradoura, sendo possível presenciar o desenvolvimento dos netos até a idade adulta.
Os depoimentos a seguir reproduzem lugares de amor e afeto habitados pelas lembranças da relação com os avós.
“Fui o primeiro neto do lado paterno e materno, convivi com três deles: Nelson e Lourdes, avós paternos, e Teresinha, avó materna. Meu avô Antônio faleceu quando minha mãe era muito jovem. A oportunidade de conviver com eles me moldou e me ensinou muito. O carinho e o amor que recebi deles marcaram minha vida pessoal e profissional. Três personalidades totalmente diferentes. Vovó Lourdes mais séria e centrada. Trabalhadora incansável, sempre encontrou tempo para se dedicar à caridade, à Igreja e à família. Lembro-me dela ensinando bordado a jovens carentes. Fé inabalável, a rocha da família. Nos almoços, não podia faltar o delicioso ravióli, totalmente caseiro (receita do sogro italiano) e, nos lanches, a famosa empada e a torta de queijos. Aprendi, com ela, a enfrentar momentos difíceis com serenidade. Vovô Nelson, um anjo na Terra. Alegre, carismático, sempre preocupado em comprar lembrancinhas para os conhecidos: o caixa do banco, a moça da lotérica, a funcionária da padaria e o rapaz do sacolão. Nos almoços da família, as brincadeiras: num calor de trinta graus aparecia de sobretudo e cachecol, para nos assustar, corria atrás do meu irmão com um cacho de banana (Thiago detesta banana), soltava bombinha, presenteava-nos com cobra falsa e muitas outras coisas. Sempre muito ativo, ensinou a mim o poder da alegria e do cuidado com o outro. Vovó Tetê sempre me trouxe sentimento de tranquilidade. Não reclamava e nem incomodava ninguém. Adorava reunir a família. Almoços deliciosos, preparava tudo, sempre tentava oferecer o melhor, lição importante que levo para a vida e para o mundo do trabalho.” (Vinícius Jannotti, engenheiro, 46 anos)
“Não tive contato com meus avós, relato a convivência da minha mãe com meus filhos. Minha vida atribulada, ligada no automático, para ter condições de criar a família, contribuiu para que minha mãe se ocupasse de parte da educação dos meus filhos. Foi catequista dos netos e, como morava comigo, um dos seus hábitos, de agradecer o alimento antes das refeições, foi incorporado ao cotidiano da família.” (Lilian Maria Oliveira Souza Pinto Coelho, médica, 53 anos, ministra da Eucaristia e coordenadora da liturgia na paróquia que frequenta)
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