A catequese, que significa repercutir a fé, passá-la adiante, depende de princípios e doutrinas, mas também se prende fortemente a pessoas e pregadores. Fui formado nos mesmos bancos de seminário e de faculdade que outros trinta ou quarenta colegas meus que hoje pregam a palavra de Deus. Mas o tempo, as leituras e as experiências nos levaram a enfoques diferentes da fé católica. Alguns de nós, por causa dos professores que tivemos e dos livros que lemos, privilegiamos o enfoque “pensar e compreender”. Outros, por movimentos pelos quais se encantaram, por livros e professores que decidiram seguir, optaram pelo enfoque “sentir e vivenciar”.
É natural que as nossas pregações divirjam. A doutrina da Igreja é a mesma, mas com algumas nuances. Contudo, os enfoques são tão fortes que se puser as duas correntes, uma depois da outra num púlpito, os fiéis de um lado e de outro estranharão aquele tipo de catolicismo. No entanto, foi sempre assim. A igreja teve São Clemente e Tertuliano, São Bernardo de Claraval e Pedro Abelardo, Meister Eckhart e Richard Rolle e tem hoje, aqui no Brasil, a teologia da libertação e os grupos pentecostais e carismáticos. Cada lado dirá que o seu é mais eclesial.
A mesma igreja que canonizou santos e pensadores e católicos que viveram para compreender e explicar e aprofundar a fé como Tomás de Aquino, Alberto Magno, Agostinho, Tereza de Ávila, também canonizou santos que trabalharam a vivência e a afetividade, como Terezinha de Lisieux, Padre Pio. João Maria Vianey, e inúmeros santos que não eram muito ligados a livros e a estudos, mas viveram intensamente o que sabiam.
Entre nós, a santidade se atinge pelo pensar, pelo viver e pelo fazer. Em alguns casos os instrumentos de santificação foram os estudos e os livros, e em outros foram os joelhos esfolados, os dedos num rosário… Todos eles decidiram levar adiante o enfoque que mais os tocou. Enveredaram ou pela mística de saber mais, ou pela mística do sentir mais. Os dois enfoques não precisam ser opostos. Quem estuda mais tem a obrigação de chamar a atenção do irmão que não lê muito e sabe pouco. O irmão que não lê muito, mas vive intensamente o serviço aos irmãos, tem todo o direito de exigir que o irmão mais instruído seja coerente na sua fé. Há santos com livros e santos sem livros.
É santa a humilde irmãzinha religiosa que ora pelos enfermos, passa a vida cuidando de crianças ou dos mais carentes enquanto dedilha seu rosário numa fé sem muita informação. Ela pratica o que sabe. E isto e melhor do que saber e não praticar. É santo o estudioso que se debruça sobre calhamaços e procura impregnar de mais filosofia e teologia a fé católica O cansaço de ambos aponta para a santidade de querer Deus mais amado e mais conhecido. Interfiramos nos enfoques apenas quando o enfoque sair de foco. Quem sabe mais, ensine. Quem vive mais, empolgue.
Artigo escrito por padre Zezinho,
publicado em seu site oficial
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