O portal da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) publica mais uma matéria da série “Memória – CF 60 anos” que busca recuperar a história desta campanha, incluindo documentos, momentos importantes de sua consolidação, ações e frutos que surgiram das campanhas, hinos e pessoas que marcaram história. Dessa vez, a Campanha da Fraternidade de 1974 ganha destaque ao completar 50 anos em 2024.
Na Quaresma de 1974, o tema “reconstruir a vida” entoava a Campanha da Fraternidade de 1974. Na época, o foco estava em encorajar e abençoar a nova fase da iniciativa, que, além do mais, completava o seu décimo aniversário.
“Dez anos, de experiência feitos, são motivo, antes de tudo, para dar graças a Deus e congratular-nos, todos, em Cristo: a Campanha da Fraternidade parece ter lançado raízes fundas, que, ciclicamente, desabrocham em “privilegiado momento de unidade pastoral”, na obra comum da evangelização desse dileto País, e no promover gestos concretos de caridade”, afirmava o Papa Paulo VI à época.
“Eu vim para que tenham a vida e a tenham abundantemente” (Jo 10,10) foi a passagem que interpelou os fiéis a responder, leal e corajosamente, à pergunta do lema da Campanha de 1974 — “onde está teu irmão?”.
“Tema sugestivo, sempre atual e de suma importância, este da vida integral e em plenitude, em nós e nos nossos semelhantes, como algo por que fomos responsabilizados ao nascer na família humana, que Deus quis fosse uma só, e ao renascer para a “vida nova” pelas águas lustrais do Batismo, na “Família de Deus”, salientava o Papa Paulo IV em Carta Apostólica por ocasião da Campanha da Fraternidade de 1974.
O tema e o lema da Campanha da Fraternidade inspiravam à vida em plenitude, natural e sobrenatural. Em Carta Apostólica escrita pelo Papa Paulo VI, o pontífice exortava para que a Campanha “levasse todos e cada um dos seus filhos a ver e a iluminar com a luz da fé tudo o que é verdadeiro, tudo o que é honesto, tudo o que é puro, tudo o que é amável, tudo o que é de boa fama, tudo o que é virtuoso e louvável (Fl 4,8), para, animados pela esperança, serem autênticos reconstrutores de vida a todos os níveis; de uma vida plena que há de ser compartilhada abundantemente, em amor, como irmãos, sob o olhar complacente do Pai que está nos céus”.
Desde o ano de 1970 até o ano de 2004 houve as “missas temáticas” da Campanha, em que os cantos de entrada, oferendas e comunhão eram sobre o tema da CF. Em 1974, por exemplo, o canto de comunhão que entoava a Campanha da Fraternidade era o “Eu vim para que todos tenham vida”, de autoria do padre José Weber. A letra reflete os assuntos que a CF tratou naquele ano: o perdão, a reconciliação, a defesa da vida.
“Eu vim para que todos tenham vida
Que todos tenham vida plenamente
Eu vim para que todos tenham vida
Que todos tenham vida plenamente (…)”.
O padre Jair Oliveira Costa, assessor do Setor Música Litúrgica da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), fez uma reflexão sobre a melodia e o texto do canto. De acordo com ele, na melodia, os pontos mais agudos (mais “altos”) estão na repetição da palavra “todos”. E o ponto mais grave (mais “baixo”) está na palavra “vida”, assim como as notas mais longas da música.
“Desta maneira, o compositor, padre José Weber, destaca pela melodia, o que é mais importante: a palavra “vida” está no ponto mais baixo (poderíamos dizer no alicerce) da melodia, e a palavra “todos” está no ponto mais alto, o ponto onde devemos chegar no caminho da CF e do testemunho cristão: que todos tenham vida, e vida plena”, explica o padre Jair.
No texto do canto, o padre Jair destaca as estrofes de 1 a 3. “O verbo, no início da estrofe 1, não é uma sugestão, é uma ordem: “Reconstrói a tua vida em comunhão com o Senhor, reconstrói a tua vida em comunhão com o teu irmão”.
Na estrofe 2, o padre Jair explica que o autor liga a comunhão eucarística com a comunhão na caridade: “quem comer o pão da vida, viverá eternamente… tenho pena deste povo que não tem o que comer…”. Nesta reflexão, o autor argumenta que a comunhão eucarística fica incompleta, se faltar a comunhão na caridade.
Já na estrofe 3 se explica o imperativo da primeira estrofe: Ele manda reconstruir a vida, porque ele mesmo assim agiu: “Eu passei fazendo o bem, eu curei todos os males. Hoje [o Senhor nos afirma:] és minha presença junto a todo sofredor”.
Segundo o assessor do Setor de Música Litúrgica da CNBB, padre Jair Oliveira Costa, existe uma relação de continuidade e aprofundamento:
“Em 1974 se afirmou o direito de todos à vida plena. E neste ano de 2024 se reflete sobre a amizade social, que como diz o Papa Francisco, é o “amor que rompe as cadeias que nos isolam e separam, lançando pontes; o amor que nos permite construir uma grande família na qual todos nós podemos nos sentir em casa (…). Amor que sabe de compaixão e dignidade” (Fratelli Tutti, n. 62, também no texto base CF 2024 n. 16).
Padre Jair enfatiza que a “Amizade Social”, temática da CF 2024, é uma maneira mais simples de falar do testemunho cristão, da caridade sem fronteiras, que abre caminhos de vida plena para todos. “E o refrão do hino da CF deste ano afirma a palavra de Cristo no Evangelho: “Vós sois todos irmãos e irmãs!”. E que este tempo seja “propício para abrir-nos, enfim, ao amor” que supera barreiras e abre caminhos de vida plena para todos”, finaliza o padre Jair.
O secretário executivo de Campanhas da CNBB, padre Jean Poul, comenta que o tema do canto de 1974 está no versículo bíblico do Evangelho de João, capítulo 10, versículo 10. E é a forma joanina em que Jesus resume a sua missão.
“Para que é que Ele veio? Para nos dar vida. Esse versículo bíblico tão bem cantado nessa música que faz 50 anos garante a vida dessa música porque a Palavra de Deus é viva. Cantar a Palavra é sempre cantar a vida, mas há um elemento sociológico também. Nós, há 50 anos, experimentávamos que essa vida em plenitude que Jesus veio trazer não acontecia entre nós. 50 anos depois, infelizmente, ela ainda não acontece, por isso, nós continuamos cantando, cantando a Palavra de Deus, cantando a missão de Jesus, cantando para que o Pai enviou Jesus ao mundo. Cantamos o mistério pascal de Cristo na vida dos cristãos e a vida dos cristãos no mistério pascal de Cristo”, explica o padre.
Ainda conforme o padre Jean Poul, o canto tem uma relação intrínseca com a Campanha da Fraternidade. “Eu arrisco dizer que “eu vim para que todos tenham vida” podia ser o lema de toda Campanha. Fosse ela sobre o que fosse serviria como lema”, finalizou.
Em agosto de 2004, o Conselho Episcopal Pastoral da CNBB, o CONSEP, definiu que “a partir do ano de 2006, ao invés de uma ‘missa’, cada CF terá um hino alusivo ao seu respectivo tema” e os “cantos para a celebração eucarística” seriam cantos quaresmais.
“Desta maneira foram preservadas a espiritualidade do repertório quaresmal e o caráter de “campanha” do hino, motivador para a vivência concreta da caridade fraterna a cada ano”, acrescenta o padre Jair, assessor do Setor Música Litúrgica da CNBB.
A Comissão Episcopal para a Liturgia da CNBB publicou, recentemente, uma extensa lista de cantos quaresmais adequados para a liturgia. Acesse em: https://www.cnbb.org.br/comissao-para-a-liturgia-da-cnbb-oferece-sugestoes-de-cantos-para-a-quaresma-2024
Baixe os materiais das Campanhas da CNBB em: https://campanhas.cnbb.org.br/
Acesse aqui a primeira matéria da série “Memória – CF 60 anos”: https://www.cnbb.org.br/portal-da-cnbb-resgata-documento-que-marca-o-nascimento-da-campanha-da-fraternidade/
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