Melodia é aquilo que conduz, portanto, ela pode trazer sentido à vida e apaziguar muitas angústias existenciais porque é direção e constitui segurança sabendo de onde vem, onde está e para onde vai. O bom compositor é, antes de tudo, um bom melodista.
A direção espiritual deve ser somente uma forma de escuta, capacitando espaço criativo no ambiente interno e externo para que o orientando encontre sua própria melodia, isto é, aquilo que Deus de fato deseja nele e dele. Ninguém pode interferir na vocação de alguém; se assim o fizer, atravessará a melodia que Deus deseja compor na singularidade de cada um.
Jesus é a melodia da Igreja e precisa ser uma Igreja viva. Como identificar a direção da Igreja? Onde estiver a caridade, ou seja, o amor cáritas, ali estará a canção de Deus pulsando em seus compassos.
Vamos pensar um pouco sobre duas coisas importantes: a primeira é sobre o barulho excessivo nas igrejas, que revela um flagrante vazio na alma e a completa falta de sentido, de direção, portanto, é a ausência de melodia. O barulho e o volume excessivo nos templos revelam a ausência de caridade porque não há espaço para escutar o outro. A segunda coisa é a “assepsia ritualística” que transforma a caridade em uma “impecabilidade” sem vida: tudo está certo, mas o perfeccionismo não leva o sujeito, o adepto, o membro, a lugar algum. É um perfeccionismo neurótico desgastante, até bonito no contexto externo, mas que não conduz, não anda e nunca sai do lugar.
A proposta de Jesus é melódica e deseja que o discípulo saia do lugar, caminhe, desprenda-se das amarras, de seu passado pesaroso, de suas glórias terrenas, e que leve no brilho dos olhos, no silêncio, na humildade a mensagem benfazeja do Evangelho. Santo Antônio Maria Claret propõe uma melodia muito bonita e, sobretudo, muito segura: ser filho do coração de Maria; quem segue o coração daquela que soube escutar e fazer a vontade de Deus com alegria dificilmente perderá o fio da meada do Evangelho. Evangelizar por todos os meios possíveis depende de uma única palavra: “caridade”! A alegria da mensagem do Evangelho é concreta quando o coração arde em caridade.
A Missa é o lugar onde a orquestra de Deus se encontra. Cada um é um instrumento de Deus e ali o Maestro executa o grande concerto de amor. Não há espaço para a vaidade fútil e inútil. Não há espaço para o narcisista que não deseja, ao menos por enquanto, sair de si e ir ao encontro do outro. A Missa é a melodia suprema que transforma o mal em bem, o passado triste em futuro alegre, a angústia existencial em esperança teologal.
É necessário investir e insistir no caminho da humildade para que a melodia do Cristo se torne cada vez mais segura, inteligente, mansa e capaz de levar o coração ao encontro da caridade. Fique bem atento: você realmente está cantando o amor do coração de Jesus? Reflita. Podemos mentir para nós mesmos, mas, nossa voz nunca mente.
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