Frequentemente, no meu consultório de psicanálise, seja no modo remoto ou presencial, escuto a voz de quem busca a alegria do coração. Tenho atendido muitas pessoas de vários lugares do Brasil e ainda de alguns outros países. A tecnologia permitiu a todos uma comunicação ampla e muito interessante. Observei, como psicanalista e músico, que o contato remoto insistiu na melhora da escuta. Se duas pessoas falarem ao mesmo tempo, ninguém entende nada. É preciso escutar primeiro para depois falar e ser ouvido. Meus alunos também opinam que aproveitaram melhor o conteúdo de nossas aulas em grupo via internet. O que mais testemunhei nos últimos dois anos é que as pessoas que passaram a escutar melhor ficaram consequentemente mais alegres.
O coração sente muita alegria quando aprende a escutar. Sendo assim, o falar e o cantar são consequentes de boa escuta. Pode-se estudar qualquer instrumento musical, mas a primeira coisa a fazer é aprender a escutar as notas antes de ser executadas com a técnica correspondente ao instrumento. Na liturgia ocorre o mesmo: quem não escuta o seu irmão não sentirá a alegria de amar ao próximo. O canto cristão nasce do amor entre irmãos. Quanta beleza o Salmo desperta no coração durante a liturgia da Palavra! Salmodiar é amar a Deus junto ao amor do irmão! É permitir que a Palavra ressoe dentro do coração trazendo a alegria de quem canta o canto novo. São Basílio disse: “O canto do Salmo refaz as amizades, reúne os que estavam separados entre si, torna amigos os que estavam mutuamente inimizados. Pois, quem é capaz de considerar ainda como inimigo aquele com quem elevou uma mesma voz a Deus? Portanto, o canto dos Salmos nos procura o maior dos bens, a caridade, já que ele encontra algum pensamento ou algum vínculo para realizar a concórdia e reúne o povo na sinfonia de um mesmo coro”.
A música litúrgica deve ser preparada com a mesma alegria que se sente ao encontrar o Cristo eucarístico. O canto cristão expressa a comunhão com o coração de Jesus. O cristão escuta com alegria. O silêncio do cristão não é vazio, perdido, supérfluo. É silêncio de alegria porque sabe que Deus só pode se revelar aos mansos de coração. A cada Ave-Maria repetimos os versos que trouxeram a Maria a alegria, a Boa-Nova, o nascimento de Jesus. Assim, cada nota musical executada durante a celebração eucarística deve ser sinônimo do coração alegre que encontrou o sentido da vida, que sabe a resposta de amor dentro do peito.
A caridade é uma forma de escutar a vida e organizá-la em gestos de amor. Cantar a santa Missa é caridade que une corações e concretiza as palavras do Salmo 132:” Vinde e vede como é bom, como é suave os irmãos viverem juntos e unidos”.
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