Para reflexão no mês bíblico deste ano de 2023 foi escolhida a Carta aos Efésios.
O seu autor é um judeu-cristão, discípulo de Paulo, do fim do século I. Utilizou o nome de Paulo para que o escrito ganhasse autoridade. A carta é dirigida não somente à comunidade de Éfeso, mas a todas as comunidades cristãs.
Um texto surge ao interno de um contexto, por isso, para sua leitura e estudo é fundamental conhecer o contexto político, social, econômico, cultural e religioso em que uma obra é composta.
O autor se dirige aos fiéis de origem pagã para lhes fazer contemplar o bem adquirido ao abandonar o paganismo para se unir ao corpo de Cristo e gozar das mesmas prerrogativas que o povo judeu tinha tradicionalmente.
A formação das comunidades é mista, ou seja, pessoas provenientes do contexto judaico e outras oriundas do contexto gentílico, do paganismo. A carta conclama a união dos de todos os cristãos: “Lembrai-vos, pois, de que outrora vós, gentios por nascimento – que sois chamados incircuncisos por aqueles que se dizem circuncidados, os que levam na carne a circuncisão feita por mãos humanas” (Ef 2,11). É preciso superar os muros que separam as pessoas e construir pontes, pois estas unem os lados.
O relato está organizado em duas partes. A primeira, Efésios 1-3, apresenta diversos temas teológicos. A segunda, Efésios 4-6, apresenta o anúncio do Evangelho de Jesus Cristo com uma série de exortações éticas e teológicas.
A carta inicia-se com um extenso louvor litúrgico: “Bendito seja Deus, Pai de Nosso Senhor Jesus Cristo, que do alto do Céu nos abençoou com toda a bênção espiritual em Cristo” (Ef 1,3-14). O tema é o mistério de Cristo (cf. Ef 3,4), que é o plano divino da salvação, presente desde toda a eternidade em Deus, anunciado pelos profetas e plenamente revelado e realizado em Jesus Cristo. Recorda que a iniciativa desse plano pertence ao Pai, que nos escolheu e predestinou para sermos seus filhos adotivos.
Jesus, o Filho muito amado (cf. Ef 1,6) é quem realiza a ação salvífica do Pai, por meio do Espírito, que é a antecipação da nossa herança na glória (cf. Ef 1,14). Cristo foi constituído, acima de tudo, como cabeça de Igreja (cf. Ef 1,22). A essa Igreja, que é o seu corpo, comunicou, abundantemente, os dons do Espírito (cf. Ef 2,4-11) e a ela compete levar à plenitude a obra salvífica do Senhor, tornando cada vez mais efetiva a reconciliação dos homens com Deus e entre si.
Trata-se de um mistério a ser vivido. Como em Cristo todas as coisas foram reconciliadas não é aceitável que os membros das comunidades cristãs vivam em desunião. Essa é a infeliz realidade que se encontra nos campos político, social, cultural, econômico… A diversidade de funções existente na comunidade não é para a divisão, ao contrário, deve construir e tornar mais forte a responsabilidade da unidade, de reconhecer a riqueza da graça e dons divinos.
Na comunidade cristã existe diversidade de ministérios, que é necessária; longe de ser um obstáculo à sua unidade, motivo de divisão, deve contribuir para enriquecê-la e tornar mais evidente o esforço e o contributo de todos para que a Igreja possa crescer de maneira harmoniosa na busca de atingir aquela maturidade que corresponde à plenitude de Cristo (cf. Ef 4,13). Cada qual se faz responsável pela unidade.
O caminho é a reconciliação de judeus e pagãos, uma vez que todos fazem parte do plano salvífico de Deus (cf. Ef 1,11-14). Jesus Cristo reconciliou a todos pelo seu sangue. O que estava separado na Igreja, como um único templo, é integrado (cf. Ef 2,11-18).
No Batismo, cada um é revestido de Cristo e, por sua força e Palavra, produz vida nova com muitos frutos de fraternidade. As trevas que causavam variadas e diversificadas formas de divisão foram vencidas, pois somos filhos e filhas da luz (cf. Ef 5,8). A prática do amor plenificado de Jesus constrói novas relações alicerçadas no amor. Esse amor deve resplandecer em todas as ocasiões, situações e vivências.
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