A catequese é um instrumento fundamental na construção do rosto da Igreja. É o campo específico onde as pessoas aprendem a conhecer melhor o que significa ser cristão e ser Igreja. É também o espaço onde cada um deve poder perceber melhor a identidade católica, ouvindo o que a nossa Igreja pede e sendo estimulado se comportar de maneira coerente com a adesão eclesial que vai marcar seu modo de viver a fé cristã.
Às vezes ouvimos dizer que a Igreja é, ao mesmo tempo, nossa mãe e nossa filha. Como mãe ela nos educa, nos faz herdeiros de suas características, de sua tradição. Como filha ela acaba recebendo de nós também um jeito de ser: nosso comportamento, nossas atitudes e sentimentos fazem parte do rosto que ela apresentará aos de fora. Podemos torná–la mais bonita ou podemos comprometer sua imagem.
Um rosto é formado por um conjunto bem combinado de características. Imagine um retrato seu em que olhos e boca estivessem pintados de forma artisticamente irrepreensível mas estivesse faltando o nariz… Seria uma imagem deturpada, mesmo com alguns detalhes bem trabalhados. É isso que acontece com a imagem da Igreja se a catequese cuidar bem de certas dimensões da pastoral e deixar outras no esquecimento. É claro que a catequese tem que educar os catequizandos para uma boa leitura bíblica, um conhecimento da tarefa missionária, uma participação consciente na liturgia e na comunidade. É fácil perceber como uma falha nessas áreas deixaria incompleto o trabalho catequético. Depois de tantos anos trabalhando a ligação entre fé e vida, que era uma preocupação central do documento Catequese Renovada, também se percebe a necessidade de termos, nos materiais catequéticos, uma preocupação com problemas pessoais, comunitários e sociais, como decorrência indispensável do compromisso cristão.
No meio de tudo isso, porém, não é raro que a dimensão ecumênica seja simplesmente omitida. É como se isso não fizesse parte do conjunto da mensagem, como se fosse uma atividade isolada que somente interessa aos grupos que costumam participar de eventos ecumênicos. Aí fica faltando algo no rosto da Igreja que é apresentado ao público atingido pela catequese, a imagem estará deturpada por estar incompleta. O ecumenismo e o diálogo inter-religioso costumam ser contemplados mais nos materiais e documentos que tratam da dimensão missionária. Isso é compreensível porque os missionários estarão sendo enviados aos que não são cristãos e estarão necessariamente em contato com sistemas religiosos diferentes. Mas hoje, no mundo pluralista em que estamos envolvidos, todo católico precisa saber como a sua Igreja deseja que aconteça o relacionamento com os que pertencem a Igrejas ou religiões diferentes. Esse conjunto de pessoas não católicas certamente marca presença na família, no ambiente de trabalho e na vizinhança dos que estão sendo educados na catequese. Além disso, a própria compreensão do mundo exige que as religiões sejam entendidas sem preconceito. O medo aparece quando alguém acha que isso pode ser uma ameaça à construção da identidade católica. Então, é preciso compreender que uma atitude de diálogo ecumênico e de respeito às convicções religiosas de outros faz parte da identidade católica. Não é algo que se faz contrariando a Igreja, é um jeito de por em prática o que a Igreja mesma ensina. É também um aspecto que torna ainda mais bonita a face da nossa Igreja. Saber dialogar é uma grande qualidade e um sinal de maturidade. E essa maturidade deve ser trabalhada na catequese. Educando para o ecumenismo e para o diálogo inter-religioso estaríamos formando pessoas capazes de lidar com o diferente também em outras áreas, aprendendo que respeito não significa concordar com tudo nem abrir mão da sua identidade. É difícil perceber como nosso mundo de hoje está necessitando da arte do diálogo amadurecido, firme em relação ao que cremos ser o melhor e, ao mesmo tempo, respeitoso?
Therezinha Cruz
Fonte: CNBB
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