Por Juan Manuel Romero, traduzido por José Luís Silva
Nas últimas décadas, como resultado do Concílio Vaticano II e do desenvolvimento do mesmo nos anos seguintes, houve grandes mudanças na igreja em geral e, especialmente, na catequese. O Magistério dos Papas, como Paulo VI e João Paulo II muito contribuíram para essas mudanças na catequese, passando do pensado ao vivido. Uma dessas mudanças é a emergência de um modo mais experiencial do saber catequístico. Podemos perguntar o que é a experiência? Nestes dois mil anos da vida da Igreja não se fez experiência de Deus? Por que surge uma necessidade tão grande, neste momento, de fazer mais experimentável o amor de Deus na catequese? Todas estas perguntas podem-nos ajudar a pensar sobre esse assunto.
Antes de continuar é necessário esclarecer a que se denomina “experimental”, uma palavra que vem da palavra experiência; o Padre Jesús López Sáez na sua Obra Catequética Fundamental diz-nos: “Assim, experiência difere de experimento, operação que nas ciências físicas, químicas e naturais tem a intenção de descobrir, verificar ou demonstrar certos fenómenos ou princípios científicos. A experiência é a consciência mais imediata da realidade. É sempre algo sentido ou vivido; portanto, contrário à especulação ou pensamento puro”.
Experiência é algo sentido ou vivido, então podemos deduzir que o conhecimento teórico é também uma experiência vivida, uma experiência de conhecimento; por tanto, quando falamos sobre a experiência, falamos sobre diferentes situações vividas por homens de diferentes aspetos da sua pessoa.
Pode haver experiências sensoriais que apelam para os sentidos humanos – visão, olfato, audição, tato, gustação, – experiências intelectuais que apelam ao pensamento – os processos de aprendizagem, de compreensão, expressão, etc. – experiências sensoriais que apelam para a sensibilidade afetiva ou emocional do homem – alegria, tristeza, raiva, alegria, etc. -, podemos dizer, então, que tudo o que o homem vive é experiência, a vida do homem é uma experiência.
Nos últimos anos, tem-se contraposto erroneamente a catequese experiencial com a catequese doutrinal, como duas formas diferentes e separadas de chegar ao conhecimento de Deus.
A primeira carta do Apóstolo São João no seu capítulo 4 pode-nos ajudar a expressar que o conhecimento intelectual – doutrinal é experiência e que a experiência é fazer, deste conhecimento, um ato. ” Caríssimos, amemo-nos uns aos outros, porque o amor vem de Deus, e todo aquele que ama nasceu de Deus e chega ao conhecimento de Deus. Aquele que não ama não chegou a conhecer a Deus, pois Deus é amor.” (1 Jo. 4, 7-8)
Para o Apóstolo o conhecimento de Deus é fazer experiência do amor; é fazê-lo ato. Ao amor podemos-lho entender intelectualmente, podemos-lho raciocinar, podemos-lho estudar – é o caso de muitos filósofos, especialmente os clássicos, que falaram do amor e das suas classificações -, mas se não agirmos não temos realmente conhecido. Em nenhum momento, o Apóstolo contrapõe conhecimento com experiência, doutrina com experiência, mas coloca a ênfase sobre o ato. O mesmo pode acontecer quando fazemos experiência sensível do amor de Deus, mas não aproveitamos a graça desta experiência com o conhecimento da experiência vivida, ela está perdida.
O Papa Paulo VI reafirmou a posição do Apóstolo dizendo que o Mestre – o que sabe, o que conhece, o que ensina – é o que dá testemunho: “os homens de hoje escutam mais os que dão testemunho que aos que ensinam, ou então, se escutam os mestres, é porque eles são testemunhas”.
O contraste de ambas modalidades, experiencial e doutrinal, existiu porque durante muitos anos foi reafirmada uma sobre a outra; o grande desafio que temos pela frente é desenvolver uma catequese que não vá aos extremos de qualquer posição, mas que as vincule e as desenvolva de igual forma.
Neste ponto, é necessário unir o conhecimento intelectual com o conhecimento sensível, ambos os aspetos do conhecimento são necessários, como dois lados da mesma moeda.
O Papa Bento XVI, nestes anos do seu pontificado, convida toda a Igreja para um Nova Evangelização, desde o CELAN em Aparecida caminhamos como Continente uma missão evangelizadora que toca todos os aspetos da Igreja, e a catequese não fica de fora.
O Papa e os Bispos pedem que a catequese seja mais evangelizadora, mais vital, levando à conversão, ao seguimento e à adesão a Jesus como Mestre e Senhor da vida.
Neste pedido e nesta procura da catequese é que começam a desenvolver-se novos itinerários catequéticos, alguns desenvolvendo fortemente a modalidade experimental, outros permanecendo no modo doutrinário e alguns tentando este equilíbrio entre as duas modalidades.
Há uma margem desta questão que afeta a formação dos catequistas. Os Catequistas fazem catequese com a modalidade com que foram formados, transmitem o que aprenderam e o que eles viveram. Nesta posição existe um desafio tanto para os processos de formação, o qual deve ser de um tipo de laboratório, e os processos de assimilação e maturidade dos catequistas. Podemos dizer que não se pode dar o que não temos, pelo que não se pode acompanhar um processo experiencial se o catequista não experimentar primeiro, e não pode ensinar doutrinalmente se não aprendeu a dita doutrina.
A experiência da fé contribui com um grande tesouro para a nova evangelização, uma vez que pode ser transmitida com entusiasmo, com alegria, com a proximidade.
O grande desafio diante de nós, como Igreja universal, é por em contato e em intimidade as pessoas com Jesus, para que possam fazer experiência vital de um encontro salvador e transformador da vida, uma experiência evangelizadora tanto sensível como intelectual.
A catequese experiencial sempre foi, por vezes, mais intelectual que vivencial ou vice-versa, mas a experiência de um encontro pessoal com o Senhor é o que que fez que a Igreja caminhe estes 2000 anos em fidelidade.
No terceiro milénio, voltamos a apostar numa nova evangelização a partir da catequese como processo evangelizador, como experiência, entendendo o seu sentido amplo, e voltando a lançar as redes onde Jesus nos diz que muitos podem conhecer o amor que Deus nos tem e podem acreditar Nele.
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