Muita gente ainda pensa em evangelização e catequese como se o que aí se faz fosse uma espécie de curso que termina com uma festa de formatura marcada pela recepção dos sacramentos. Mas nosso encontro com Jesus é algo que deve nos acompanhar sempre e ir sendo aprofundado pela vida inteira. Desejamos que nossos catequizandos prossigam numa formação cada vez mais intensa e queremos para eles uma “catequese permanente”. Isso, porém, não é só para eles, é para nós também. Somos chamados a crescer o tempo todo porque Deus nos deu dons e possibilidades que Ele quer ver desenvolvidos. E não fazemos isso só para agradar a Deus. Crescer na fé e na intimidade com a Trindade é algo que vai transformar a nossa vida numa caminhada cada vez mais gratificante.
Certa vez pensei nisso lendo um livro de ficção científica da trilogia RAMA. Era a história de viajantes extra terrestres que saiam pelo universo para conhecer outros planetas. Para isso, em cada planeta pediam que 2 ou 3 pessoas passassem alguns dias na sua nave. Ao chegarem à Terra, uma mulher se entusiasmou por essa aventura e quis acompanhá-los nas outras viagens. Viajou muito, era congelada de um planeta para outro porque as viagens levavam muitos anos. No final, chegou ao planeta Rama e lhe disseram que agora ela só tinha 15 dias de vida porque suas células estavam desgastadas. Perguntaram onde ela queria passar esses dias e ela escolheu o grande museu onde eles guardavam todas as suas descobertas. Perguntaram o motivo da escolha e ela respondeu: Meu pai sempre me dizia que há duas coisas no mundo das quais nunca vamos ter o bastante: amar e aprender.
Catequese permanente é também continuar sempre amando e aprendendo cada vez mais. São objetivos entrelaçados, tanto para os catequizandos como para os próprios catequistas. Além de deixar a vida mais interessante, com isso vamos sempre ficando mais perto de Deus, vendo o mundo e as pessoas com um olhar mais maravilhado e descobrindo em nós potencialidades novas e mais construtivas. Vale muito a pena!
Mas é claro que, para ter vontade de prosseguir, cada vez mais amando e aprendendo, é preciso que a catequese seja vivida com alegria, entusiasmo, boa pedagogia e uma crescente intimidade com Deus na Bíblia, na Igreja e na vida. Só vamos querer continuar algo que realmente nos envolve e nos faz descobrir sempre novas coisas boas.
Por isso, a catequese não pode ser uma rotina, uma repetição entediante. Criatividade nos faz viver com mais entusiasmo a experiência evangelizadora. Mas não é só o catequista que torna essa experiência atraente. A comunidade inteira dá – ou não – um bom motivo para cada pessoa querer sempre continuar vivendo esse crescimento dentro da Igreja e na vida. Jesus nos mostra isso quando alguns lhe perguntam onde mora e ele diz : vinde e vede. Eles vão, vêem, gostam e ficam com ele (Jo 1,35-41). Nossas comunidades precisam passar no teste do “vinde e vede”. É muito difícil alguém querer permanecer num ambiente onde não se sente acolhido, onde não descobre motivações que animam sua vida. A catequese não é feita só para alguém aprender o que é Igreja. É importante que todos – tanto catequizandos como catequistas – queiram ser Igreja. E isso acontece especialmente quando construímos uma comunidade em que ninguém se sente isolado, todos estão em casa, como uma grande família. Também é importante que cada um se sinta realmente amado por um Deus que só quer o nosso bem e nunca desiste de nós.
Esse permanente crescimento na arte de aprender e amar é recíproco: catequistas e catequizandos aprendem e ensinam uns aos outros. Para isso é preciso saber contemplar o outro como um presente especial que Deus coloca em nossa vida. Assim vamos crescendo na arte de ouvir e aprendemos à medida que ensinamos, vamos servir e ser servidos. E só comunicamos com intensidade o que de fato vivemos. A arte de viver, caminhando sempre na direção do Reino de Deus, é luz para iluminar outros e sermos iluminados. E nunca vamos poder dizer que a tarefa está terminada porque isso seria fazer da vida uma rotina sem graça.
Podemos pensar numa pequena parábola, que fala da emoção de estarmos sempre a caminho, com novas oportunidades de amar e aprender:
Um mestre ensinava seus discípulos a contemplar o mundo, admirar as obras de Deus e caminhar sempre na direção de boas descobertas. Um dia, um deles lhe disse: _ Entendi que tudo isso é bom e agradeço a Deus por tudo que vejo ao meu redor. Só há uma coisa que não sei para que serve. É esse tal de horizonte, que a gente nunca alcança. Cada vez que a gente tenta se aproximar dele ele vai ficando mais distante… E o mestre respondeu: Essa é a grande utilidade do horizonte: como nunca o alcançamos totalmente, ele é um convite a continuarmos sempre caminhando, indo em frente… e aí descobrimos coisas novas o tempo todo.
Nossa caminhada para Deus tem um horizonte que nos chama sempre a continuar descobrindo, aprendendo, amando, criando novos modos de servir a Deus e aos irmãos. Sabemos comunicar e viver isso na catequese? Agradecemos a Deus por Ele nos dar sempre mais oportunidades de crescer e amar, novas coisas para aprender e ensinar?
Por Therezinha Motta Lima da Cruz (Via Catequese no Brasil)
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