Para começar o assunto, gostaria de lembrar a mensagem de Bento XVI, pelo Dia Mundial das Comunicações Sociais (2009). A mensagem fala sobre as relações na internet e leva a uma reflexão sobre a amizade, esse desejo instintivo do ser humano de relacionar-se uns com os outros em busca de amor e reconhecimento, e de como esse conceito de “AMIGO” tem sido tratado nos meios digitais.
A exortação do Papa faz-nos lembrar as profundas mudanças que vem acontecendo nos modelos de comunicação e nas relações humanas, principalmente nos chamados novos “media” (mídias ou meios de comunicação), essa multiplicidade de vias por meio das quais é possível enviar imagens, sons e textos, instantaneamente, a qualquer lugar do planeta. Esses meios de comunicação “Verdadeiro dom para a humanidade”, lembra o Papa, devem ser postos a serviço de todos, principalmente dos mais necessitados e dos excluídos.
Essa mensagem fala aos jovens que cresceram em contato com esses novos meios de comunicação e que praticamente “vivem” nesse mundo virtual. A eles é atribuída a responsabilidade de utilizar esse enorme potencial tecnológico a serviço da compreensão e da solidariedade humana. A popularidade alcançada por esses novos meios atende ao anseio do ser humano de buscar relações de amizade inerentes aos seres humanos: “Quando sentimos a necessidade de nos aproximar da outras pessoas, quando queremos conhecê-las melhor e dar-nos a conhecer, estamos a responder à vocação de Deus – uma vocação que está gravada na nossa natureza de seres criado á imagem e semelhança de Deus, o deus da comunicação e da comunhão.”, diz Bento XVI.
Claro que é importante lembrar que, apesar dessas novas tecnologias favorecerem os contatos, a criação de novas amizades e o acesso a informação, nada substitui as verdadeiras relações de contato, de presença. Assim, é preciso cuidar para que a amizade, “uma das maiores riquezas de que pode dispor o ser humano”, não seja banalizada pelos meios digitais em seu conceito mais fundamental que é a estreita relação entre dois seres humanos, marcada, antes de tudo, pela afinidade de diálogo e pelo “encorajamento recíproco do desenvolvimento de dons e talentos e sua colocação a serviço da comunidade.”.
É através das amizades e dos diversos relacionamentos que se cresce e se desenvolve como ser humano. No entanto, é preciso verificar se essa necessidade de sustentar essas amizades online não está sendo trocada pelo convívio com a família e com aqueles que fazem parte do nosso dia-a-dia na escola, no trabalho e nos momentos de lazer. A mensagem do Papa emérito alerta que, quando esse desejo de ligação virtual se torna obsessivo, a pessoa se isola, não tem mais interação social, repouso, momentos de silêncio e reflexão, tão necessários ao desenvolvimento humano.
No final, a mensagem pede, dirigindo-se principalmente aos jovens, que levem ao mundo digital seu testemunho de fé e de valores que permeiam a vida de cristão. Pela facilidade e espontaneidade com que os jovens navegam nesse “continente digital”, eles são exortados a levar aos povos que necessitam a Boa Nova de Jesus, “Sede os seus arautos!”, finaliza o Papa.
Sobre essa mensagem cabe a nós, catequistas, uma reflexão: A maioria das crianças e jovens, com as quais trabalhamos a evangelização, cresceram nesse ambiente de evolução das novas tecnologias de comunicação. Encontramos aí duas realidades: a de um mundo urbanizado e elitizado onde todas as crianças possuem, no mínimo, acesso a Internet e muitas vezes o seu próprio computador; e o mundo daqueles que vivem nos meios rurais e nas periferias das cidades em comunidades extremamente pobres, sem qualquer acesso a esses novos meios digitais. Como trabalhar essas duas realidades? Como levar aos excluídos essas novas tecnologias? Como nos prepararmos para falar a mesma linguagem dos nossos catequizandos internautas?
Aos catequistas que fazem parte de comunidades onde crianças e jovens sofrem essa carência, cabe a sensibilização junto às suas lideranças para que se preocupem com essa realidade, sob pena de perder o bonde da história. Não é mais viável nessa grande “comunidade digital” em que vivemos que jovens cresçam alheios a essas novas tecnologias. Ou pior ainda, com conhecimento dela, mas sem possibilidade de desfrutá-la. É bom lembrar também da enorme contribuição que esses novos meios podem trazer ao projeto de evangelização da comunidade.
Àqueles que trabalham a realidade urbana, “digitalizada”, fica a responsabilidade de tratar esses novos meios, como veículo de propagação da Boa Nova. A acessibilidade que essas crianças têm aos novos meios de comunicação tem que ser aproveitada no sentido de que, além das novas amizades virtuais que são conquistadas, se trabalhe também a cultura da propagação da nossa fé e de nossos valores.
O catequista, em qualquer das duas situações, não pode, de maneira nenhuma, estar à parte dessa nova realidade. O cyberspace está aí. Essa nova arena digital é agora nosso espaço de luta. Não dá para tratar o celular como vilão. Ele praticamente é uma parte “acessória” da vida de muitos jovens e cada vez mais, também das crianças, que são “monitoradas” pelos pais, via whatsapp.
E como fica o encontro de catequese com o celular na mão de todos?
Primeiro cada catequista precisa fazer seu juízo de valor, mas, eu não faria “comparação” do tipo “Celular e Bíblia qual é o mais importante?” nos dias de hoje. Nas turmas de crisma, principalmente, o uso do celular é muito produtivo. O celular veio para ficar e não vai ser preterido pelos adolescentes nem agora e nem no futuro. Provavelmente teremos aparelhamentos tecnológicos cada vez mais dinâmicos. A Bíblia em si, como LIVRO, papel escrito, é só um “veículo” para levar a Palavra de Deus, assim como é o CELULAR, o Tablet, etc… Hoje se nossos catequizandos tem celular, eles TÊM A BÍBLIA, basta ensiná-los a utilizar um aplicativo. Acredito que é muito mais produtivo usarmos a Bíblia no celular dos nossos jovens – que vão ver que ele também serve para isso – do que fazer a “crítica” de que ele dá mais atenção ao celular do que a Bíblia. Pensemos: nunca foi tão fácil ler a Bíblia como agora que temos celular!
Nossa Igreja, por meio das mensagens do Papa sobre as comunicações, tem chamado a atenção para as novas mídias e meios de comunicação. É erro nosso achar que as novas mídias são só “ferramentas”, elas são na verdade um “mundo” onde vivem muitas pessoas, a maior parcela, jovens. Se não adentrarmos este “mundo” e não nos apropriarmos também destes recursos, corremos o risco de ficar definitivamente de fora da vida das gerações mais jovens. E o celular é usado sobretudo para “comunicação” e acesso à internet, e quem está do outro lado dos “fios”, conexões, cabos e fibras óticas, também são “pessoas”. É uma nova forma de se encontrar além do meio físico. O celular realmente não substitui o contato humano, físico, mas ele acrescenta muito aos relacionamentos em si.
Penso que é uma das tarefas do catequista, também orientar o uso das novas mídias e a presença amorosa dos cristãos na rede, combatendo, principalmente, tanta violência e mau uso da tecnologia. Obviamente é necessário um certo controle por parte do catequista para saber, realmente, o que o catequizando faz no celular. E a melhor forma de fazer isso é “incorporar” o celular ao encontro em alguns momentos: Leitura da Bíblia quando a criança esqueceu, pesquisa de temas, imagens, lugares. Sem falar na própria comunicação com o catequizado que hoje tem um meio direto de ser “encontrado”. E faça sempre do seu encontro, momentos únicos e interessantes. Vai ver que o interesse no celular vai se tornar bem menor.
Um outro ponto é que as famílias podem ser incluídas na catequese dos filhos, criando-se lista de contatos e grupos para este fim. Já pensou se depois de cada encontro, você enviar uma mensagem ao grupo de whatsApp dos pais contando o que foi visto no encontro? Incentivá-los a pedir aos filhos que contem como foi o encontro? Fora tantos avisos que são necessários no cotidiano da catequese.
Não trate o celular como inimigo e nem como se fosse só uma “ferramenta” de comunicação. Por meio dele, crianças, jovens e adolescentes e até adultos, adentram a um “mundo” que não se alcança por meio físico. Um mundo repleto de pessoas que buscam contato com as outras, buscam “presença” e “pertença” que muitas vezes não tem na vida comum. Trate como aliado. E saiba fazer da sua presença na vida dos seus catequizandos um diferencial, para que eles valorizem também os relacionamentos que tem no meio físico. Muitas vezes, a procura de contato, de ser visto e valorizado no meio digital é uma carência que se tem nos meios físicos.
Fonte de referências:
Mensagem do Papa Bento XVI para 0 43º Dia Mundial das Comunicações Sociais, CNBB, 2009.
Por Ângela Rocha – Catequistas em formação
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