Santa Elisabete da Trindade foi uma grande santa que soube louvar a Deus em “espírito e verdade” (Jo 4,23). Ela tem uma mística profunda sobre a inabitação trinitária e sobre como ser um “Louvor da glória de Deus”. Em sua concepção, para ser um “Laudem Gloriae” (Ef 1,6) deve a alma estar toda transformada em Deus, e Deus nela.
Mas para que a alma se torne de fato um perfeito louvor de glória, é necessário o silêncio interior, é preciso calar as paixões reunindo todas as potências para fazer apenas um exercício: amar, permitindo ter um olhar simples que vê a luz de Deus que a ilumina. A alma que discute consigo mesma e enxerga as próprias sensibilidades e não consegue se voltar toda para Deus.
Maria – irmã de Marta – é um exemplo de alguém que silencia tudo para ouvir apenas a voz do Mestre, e mesmo nas complicações da vida, sua alma não deixa o divino Filho só. Então a alma encerrada na fortaleza do santo recolhimento, tem um fundamento bem sólido e não importa o que aconteça – deserto ou graça; saúde ou doença; agitação ou calmaria – ela não se perturbará, pois o Mestre se dá, se entrega a essa alma segundo a sua abertura de coração.
Para se chegar ao “Louvor da Glória” é preciso andar na presença de Deus o tempo todo, a partir do amor, e é através do toque desse amor que Deus agirá no ser. É também ideal que ele contemple no Céu da alma a Deus assim como os bem-aventurados (claro que em grau menor, segundo a capacidade do homem na terra), e se assemelhe à criatura antes do pecado original, pois ele era “imagem e semelhança de Deus” (Gn 1,26), e assim Ele contemple a si mesmo nessa criatura. Assim ela se separa de tudo, inclusive dela mesma, para fitar o Objeto, e em todos os seus atos canta o “Canticum Magnum” (Grande música). Em resumo, a alma deve apagar todas as luzes e deixar que o Cordeiro ilumine tudo.
Então a pessoa se entrega a tudo quanto deve passar, e fica até feliz em sofrer pelo Amado, pois assim se configura ainda mais a Ele, mas sem que a tempestade abale a fortaleza de seu espírito, onde noite e dia louva a Deus, inclusive através da provação. E para ser mais preciso, é necessário morrer, ou ela viverá apenas alguns momentos em sua presença, mas não permanentemente, pois os defeitos e a própria vida vêm tirá-la de sua casa interior.
Se no Céu tudo é esplendor da glória de Deus, na alma não deve ser diferente, porém deve-se ter em mente as fraquezas e usá-las para conformar o espírito para ser esse esplendor. E quando Ele encontrar a alma livre de tudo – que não seja amor e glória – virá fazer dela o quarto nupcial. Então Seu fogo consome a lama e a transforma a tal ponto que “um parece o outro e ambos são apenas um” (Cântico Espiritual, São João da Cruz).
Ser alicerçado no amor pela graça de Cristo é a melhor maneira de proclamar esse louvor a Deus, pois tudo na pessoa se torna louvor, até os menores atos. É preciso se abismar em si mesmo, adorar a Deus, e adoração é um êxtase de amor.
As quatro paixões (dor, temor, alegria e esperança) devem estar orientadas para Deus, para que a alma possa silenciar. Para isso é necessário esquecer e deixar para trás tudo que não a leve a Deus, ainda que seja doloroso. Quando Deus a vê mergulhada em si para encontra-Lo, a colocará na solidão infinita, no “lugar espaçoso” (Sl 18, 20) que não é outra coisa senão Ele mesmo, e Sua palavra terminará o trabalho, permanecendo na pessoa apenas a tarefa de guardar essa palavra para poder continuar a contemplá-Lo.
Mas é preciso reconhecer que tudo isso só é possível porque o próprio Deus se encarnou e santificou o homem através de sua Páscoa, então venceu a morte e o pecado e permitiu à humanidade ser santificada. Ele deu acesso a todos junto ao Pai, e é por meio d’Ele que se pode ser “santo e irrepreensível no amor” (Ef 1,4), e ainda que se caia, Ele levantará a pessoa. Então haverá uma dúvida: “Quem nos separará do amor de Cristo?” (Rm 8,35), então revestido d’Ele, ela estará n’Ele enraizada. Então juntamente a Jesus, se dará ação de graças como Ele mesmo fez ao Pai, pois a fé inabalável o permite.
Para alcançar essa vocação, São Paulo se torna um bom exemplo, pois “não sou eu que vivo, mas é Cristo que vive em mim” (Gl 2, 20), e também: “para mim viver é Cristo” (Fl 1,21). Ser transformado em Cristo, o único Modelo, fazer tudo com Ele, por Ele e para Ele, eis o modo de ser digno para uma vocação tão perfeita: a santidade. Então junto ao Cordeiro que se fez carne, poderá cantar louvores a Deus, pois a vida desse cordeiro foi um ininterrupto louvor, e o fará mais perfeitamente pois d’Ele estará revestida, e no limiar da vida, seguirá para o sacrifício final como seu Mestre, e poderá dizer: “Pai, em tuas mãos entrego o meu espírito” (Lc 23, 46).
A Santíssima Virgem é a realização plena do projeto de Deus para a humanidade, pois todos “os segredos guardava em seu coração e os meditava” (Lc 2,19), e é Ela que vai formar Cristo na alma para que esta seja uma imagem viva de Deus. Ela é o mais perfeito exemplo de “Laudem Gloriae” da Santíssima Trindade. Ela, que é “Espelho de Justiça”, reflete tudo desse Deus tão majestoso. Em Seu martírio, onde tudo acontece no interior, a espada houve de transpassar seu Coração, mas se manteve forte em meio a tudo o que estava acontecendo. Na cruz de cada pessoa, Ela haverá de permanecer e cuidará de cada um.
Nesse dia de Santa Elisabete da Trindade, seu exemplo permanece para nós como uma alma que conseguiu de fato ser um “Louvor da Glória de Deus”, expressão muito cara a ela. Que possamos ter nela um exemplo para radical entrega a Cristo e contínua adoração a Deus, até estarmos com Ele na glória celeste, “unindo nossa voz a voz de todos os Anjos e Santos” (Missal Romano, prefácio comum).
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