O Pe. José Eduardo de Oliveira se tornou especialmente conhecido no Brasil após defender com brilhantismo a vida do nascituro na audiência pública do Supremo Tribunal Federal a respeito da descriminalização do aborto no país.
Nesta semana, abordando outro assunto de grande relevância espiritual, o sacerdote publicou uma esclarecedora postagem em seu Facebook sobre o “funcionamento” da absolvição sacramental.
O padre explica não é preciso angustiar-se com um detalhamento exaustivo e exagerado na hora de se confessar, com medo de não ser absolvido caso algum pecado seja esquecido ou não seja descrito minuciosamente. Calma: não é assim que “funciona” a misericórdia de Deus. Deus é muito mais simples e generoso do que isso!
A tendência a supervalorizar e exagerar o peso de cada mínimo deslize pessoal com medo do castigo divino é uma doença espiritual chamada escrupulosidade. Pela relevância do assunto, que deixa algumas pessoas angustiadas e com dúvidas, republicamos a seguir o texto postado pelo pe. José Eduardo:
A IGNORÂNCIA SOBRE O MODO DE ATUAR DA ABSOLVIÇÃO SACRAMENTAL
Há em circulação certa glamourização de uma delicadeza de consciência encenada, mais fruto da mania de minúcias que de uma reta compreensão doutrinal das devidas disposições do penitente.
Segundo o Catecismo de São Pio X (preste-se atenção à citação): “Quais sa?o os efeitos do Sacramento da Penite?ncia? O Sacramento da Penite?ncia confere a grac?a santificante, pela qual sa?o perdoados os pecados mortais e tambe?m os veniais que se confessaram com sincero arrependimento” (n. 691).
No imaginário do pseudo-escrupuloso existe a necessidade nervosa de uma confissão exaustiva dos pecados, para além da espécie e do número (ou seja, ele tem a necessidade psicológica de contar cada falta detalhadamente para sentir-se aliviado), como se a absolvição fosse conferida individualmente a cada idem do check-list apresentado, como se dependesse mais disso que do poder sacramental mesmo.
Na resposta de São Pio X fica claro que o efeito principal da absolvição sacramental é conferir a graça santificante perdida pelos pecados mortais ou danificada pelos pecados veniais e é mediante a graça santificante que são perdoados os pecados, não o contrário.
A força dessa infusão da graça é tão exuberante que São Pio X afirma: “quem deixou de confessar por esquecimento um pecado mortal, ou uma circunsta?ncia necessa?ria, fez uma boa confissa?o, desde que tenha empregado a devida dilige?ncia no exame de conscie?ncia” (n. 754), embora com a ressalva de que, “se um pecado mortal esquecido na confissa?o volta depois a? lembranc?a, somos obrigados, sem du?vida, a acusa?-lo na primeira vez que nos confessarmos novamente” (n. 755).
Algumas pessoas, movidas por pura ignorância, querem repetir confissões inteiras por sentirem que as mesmas são invalidadas por causa de um esquecimento.
São Tomás mesmo explica que quem confessa todos os pecados que tem na memória e, de maneira geral, aqueles que sinceramente se esqueceu não está procedendo dissimuladamente, mas com toda a simplicidade, e, deste modo, alcança o perdão (cf. Suma Teológica, Suplemento, q. 10, a. 5, sed contra), de modo que não há cabimento para considerar como dissimulação aquilo que é apenas um involuntário esquecimento.
Se entendemos bem aquilo que escrevi ontem, ou seja, que os pecados se confessam pela espécie e pelo número, e que se devem confessar integralmente aqueles de que se tenha lembrança, não há dúvida de que a graça divina é comunicada pela absolvição sacramental e, portanto, que se recebe validamente o perdão divino dos pecados por força da absolvição mesma.
Quando acentuamos a tônica mais na confissão, e nessa abusivamente detalhada, que na absolvição decaímos em certa tendência protestante, que considera esta última apenas como uma mera declaração de que os pecados confessados são perdoados (cf. Concílio de Trento, Cânones sobre o sacramento da penitência, c. 9) e não como causa instrumental para a infusão da graça.
Em resumo, não quero aqui retirar importância da integridade da confissão, quero apenas mostrar que certa impressão de escrupulosidade é tão somente falta de Catecismo! Para ser íntegra, a confissão precisa ser clara, completa, concisa e concreta: ir direto à espécie do pecado e ao seu número, sem precisar descer a detalhamentos angustiados e a histórias intermináveis.
Assim como um promotor de justiça acusa o réu apenas da espécie do crime, nós devemos sobriamente nos acusar ao sacerdote de nossos pecados. Isto é resultado de uma fé doutrinalmente formada acerca da natureza da absolvição. O que passa disso é ignorância disfarçada de requinte de informação e daí sobra teologia moral mal aprendida e falta o velho e bom catecismo da doutrina cristã.
Por Pe. José Eduardo de Oliveira, via Facebook
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