Por: Maria Helena Brito Izzo
Psicóloga e terapeuta familiar. Fonte: Revista Família Cristã
Parece que o mundo está de pernas para o ar. A gente olha para os lados e vê que os bons não chegam a lugar nenhum. E enquanto isso, os espertos, os desonestos e os indolentes quase sempre arranjam um “jeitinho” de passar a perna nos outros e levar a melhor. O “jeitinho” brasileiro já virou até folclore, e as notícias de corrupção envolvendo políticos nem chegam a causar espanto.
É claro que nem todo mundo é desonesto, mas, diante do relaxamento dos padrões de honestidade, hoje em dia todos nós acabamos nos vendendo um pouco. As pessoas se defendem, dizendo que são honestas porque não matam nem roubam, mas fazem vista grossa para os pequenos deslizes. Se estão com pressa, estacionam o carro num local proibido ou formam fila dupla no meio da rua, atrapalhando o trânsito. A mesma coisa acontece com os atrasos -“vou chegar atrasado porque todo mundo chega” -, e assim por diante: “vou cobrar acima da inflação porque todo mundo cobra”, “vou fazer um favor para ele, mas em troca quero uma vantagem para mim”.
E assim, quase sem perceber, cada um de nós é um pouco culpado pelo fato de o mundo estar de pernas para o ar. Isso é o resultado dos pequenos (e dos grandes) exemplos que cada um vai dando. Pois o comportamento humano resulta do meio ambiente, que, ao transmitir exemplos e valores, confere uma visão de mundo para a pessoa. Além desse fator, existe uma predisposição genética, que constitui a índole da pessoa, mas é o meio ambiente que molda essa índole para o lado positivo ou negativo. Como exigir que nossas crianças introjetem os verdadeiros valores, se nós mesmos não damos o exemplo?
É certo que isso não depende só de nós. A inversão de valores toma conta de toda a sociedade e de suas instituições – começando na família e nas empresas e terminando no governo da cidade, do estado e do País. Trata-se de uma crise de valores. Até os mais velhos, formados sob uma moral rígida, estão se acomodando.
A falta de respeito é generalizada. Muitos jovens não respeitam os adultos. E muitos adultos abusam nos cargos de comando – na família, nas empresas, nas repartições. A mesma coisa acontece com as escolas, que hoje limitam-se a informar – e não mais a formar os jovens. A crise de valores decorrente das rápidas transformações do mundo moderno é um fenômeno mundial.
E os meios de comunicação que visam ao lucro e à satisfação imediata acabam se aproveitando. As novelas fazem apologia do sexo sem responsabilidade, que transforma as pessoas em objetos, numa espécie de liquidação de mercadorias baratas. Glorificando o egoísmo, elas também valorizam a vingança, a mentira e a truculência, justificando os fins pêlos meios.
Isso acontece na televisão, na publicidade, nas músicas, no rádio, no cinema, nos jornais, livros e revistas. Alguns técnicos da publicidade afirmam que o sexo, principalmente o permissivo, aumenta a impulsividade das pessoas, ampliando seus impulsos para
comprar supérfluos e tornando-os mais manipuláveis. Eis a razão de tanto barulho.
Mas é fácil verificar que esse mundo sem moral, em que os maus sempre triunfam, também não corresponde à realidade total da vida. Os bons sentimentos existem, assim como as boas ações. A maldade também sempre existiu, e é tão velha quanto o mundo. Hoje se fala na falência da família, por exemplo. Mas os próprios meios de comunicação que apregoam isso também noticiam os menores abandonados, apresentando-os como sofredores, que de fato são. Depreende-se daí que a família continua sendo imprescindível – embora só se fale de sua necessidade nos casos em que ela falta.
A mesma coisa acontece com o sexo. Todos sabem que ele só tem sentido verdadeiro como um encontro de duas pessoas na plenitude do amor. E amor é comunicação, é compromisso, é lealdade.
Num mundo dominado pela Ciência e pela tecnologia, o homem mergulhou muito no concreto e perdeu um pouco de sua vida espiritual, de sua fé. Mas ela continua existindo. E pode lhe dar forças para enfrentar essas transformações e torná-las positiva. É preciso que cada um procure os verdadeiros valores dentro de si. Todos sabemos o que é certo e o que é errado.
Mais do que nunca, é necessário fortalecer as sementes boas. Elas germinarão. Nós reclamamos dos erros dos outros, mas não consertamos os nossos. E é por aí que devemos começar. Vencendo o egoísmo, poderemos fazer coisas boas em benefício da coletividade. Elas acabarão recaindo sobre nós. Basta que respeitemos os nossos princípios, tenhamos firmeza em nossas crenças e demonstremos isso em nossos atos concretos. Essa deve ser a contribuição de cada um para um mundo melhor.
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