CADA VEZ MAIS APLICATIVOS E COMPRAS PELA INTERNET PASSAM A FAZER PARTE DO DIA A DIA DOS BRASILEIROS, MAS, COMO SE PREVENIR DE GOLPES E MANTER SEUS DADOS PROTEGIDOS?
Com certeza, você já sofreu ou conhece alguém que foi vítima de golpe por uso indevido de dados ou compras pela internet. Isso incluiu cartões de crédito clonados, transações realizadas em sites falsos ou mesmo falsificação e uso de documentos por terceiros.
Fato é que a internet e os sistemas de dados têm sido cada vez mais utilizados hoje, seja para realização de compras ou cadastros e promoções. Com isso, acontece também o crescimento dos “golpes digitais”, ou seja, o roubo de dados e dinheiro por criminosos.
Roberto Abrahão é engenheiro de computação e tem mais de quinze anos de experiência em tecnologia, incluindo segurança da informação, auditoria e prevenção de fraude. Há seis meses criou o @umgolpepordia, perfil no Instagram que tem o objetivo de alertar as pessoas sobre golpes digitais. O perfil já alcançou a marca de 300 mil seguidores nas principais redes sociais.
Em entrevista à reportagem, Abrahão explicou que os golpes digitais sempre existiram, porém, nota-se um aumento significativo desde o início da pandemia, visto que as pessoas e empresas passaram a depender mais de soluções on-line, sem tempo suficiente para adaptarem sua postura de segurança da informação.
Segundo a empresa LexisNexis Risk Solutions, estima-se um aumento de 22,4% referente a custos com fraudes em comparação com os níveis pré-pandemia.
“Historicamente, as principais vítimas tem sido os idosos, devido a uma menor familiaridade com tecnologia. No entanto, foi a geração Z (menores de 24 anos) que sofreu o maior aumento em número de fraudes recentemente. Uma possível explicação é o fato de eles terem crescido no mundo digital e não se preocuparem com segurança”, disse Abrahão.
SEGURANÇA X PRIVACIDADE
“Existe um equilíbrio delicado entre segurança e privacidade”, comentou Abrahão, que apontou para o fato de que “o aumento da vigilância digital facilita a investigação e a prevenção de crimes, porém, retira liberdades individuais e aumenta o risco de autoridades usarem o acesso aos dados de forma inapropriada”.
Ele disse ainda que “Essa discussão não é nova. Basta ver as polêmicas envolvendo escutas telefônicas. Hoje em dia, a questão envolve acesso a comunicações criptografadas, logs dos provedores, anonimato on-line etc.”.
Por outro lado, o engenheiro da computação enfatizou a importância de modernizar a legislação para melhor tipificar e punir crimes digitais, sem descuidar da preocupação com a privacidade do indivíduo. “Diariamente dezenas de pessoas me reportam que elas ou algum conhecido foram vítimas de golpes. O que mais vejo são golpes em plataformas de compra e venda de produtos usados. Conheci pessoas que chegaram a perder o valor de um carro”, disse.
Outro tipo de golpe muito comum, descrito por Abrahão, é aquele que usa contas falsas ou roubadas de pessoas e empresas em redes sociais e WhatsApp. O golpista se passa por outra pessoa para pedir dinheiro emprestado aos contatos ou fazer comentários públicos, dando credibilidade a outros perfis fraudulentos. Também se passam por empresas oferecendo produtos e serviços com grandes descontos, mas que nunca serão entregues.
TECNOLOGIA E COMPORTAMENTO
Roberto Abrahão explicou que os cuidados podem ser divididos em duas categorias: tecnologia e comportamento.
“Tecnologia é o que vai construir os portões pra impedir o acesso dos criminosos: usar autenticação de dois fatores e senhas complexas, não usar a mesma senha em diferentes aplicativos e sites, trocar a senha de tempos em tempos, manter seus aplicativos e sistema operacionais sempre atualizados etc.”, comentou. Já no item comportamento, ele explicou o que vai impedir de entregar as chaves desses portões de mãos beijadas: “Não acreditar em coisas muito boas para ser verdade, não clicar em links sem antes verificar o endereço, não passar informações confidenciais ou transferir dinheiro sem antes confirmar em uma ligação se a pessoa é de fato quem diz ser, etc”.
VULNERABILIDADE
Gisele Canário mora em São Paulo e é professora em uma escola católica. Durante a pandemia de covid-19, mais precisamente em junho de 2021, ela acompanhou a distância a morte do pai, que mora em Santarém (PA).
Ela precisou, então, comprar passagens de forma emergencial, para comparecer ao enterro do pai e estar junto de seus familiares. “Numa busca rápida pela internet, achei um site de agência de viagens e pensei, inclusive, que fosse o mesmo que eu já tinha utilizado em outras ocasiões. O link dele aparecia em primeiro lugar dentro do buscador. Entrei em contato por um número de WhatsApp que constava no site e fui prontamente atendida”, explicou.
Por causa da situação e da pressa, Gisele fez todos os trâmites pelo WhatsApp. Forneceu seus dados e os da filha, que iria com ela, fez o pagamento do boleto bancário e tinha todos os dados do voo, como aeroporto, companhia aérea e horário, mas, nunca recebeu o localizador e os dados da passagem efetivamente.
“Quando cheguei ao aeroporto, com as malas e junto com minha filha pequena, a atendente da companhia área pediu meus documentos e não localizou o voo. Depois descobri que aquele voo nem existia”, contou. “Tive que comprar outras passagens para o dia seguinte e nunca tive nenhum tipo de reembolso ou retorno nem dos bancos, nem da polícia”, comentou.
Mesmo tendo feito o boletim de ocorrência on-line, ela levou todos os documentos para a Polícia Civil, mas foi desaconselhada pelo perito, que disse não ter o que fazer e que esse tipo de situação é comum : “Quando fomos até a polícia com todos os documentos fomos praticamente ridicularizadas pelo responsável por abrir o processo. O banco pelo qual fiz o pagamento e aquele que supostamente teria emitido o boleto também não deram nenhum retorno e a empresa continuou, por meses, com o link patrocinado lá no buscador do Google”, disse.
Para ela foi o momento de vulnerabilidade que pesou bastante para não se atentar aos detalhes. “Hoje eu vejo que todos os indícios eram de golpe, mas à época, devido à situação de estresse que eu vivia pela morte do meu pai, não me dei conta e fui uma vítima fácil para eles”, comentou Gisele.
“SÓ PERCEBI NO DIA SEGUINTE”
No dia 11 de novembro de 2021, Val Mendes, consultora automotiva, também foi vítima de um golpe. Ela estava na loja em que trabalha atendendo um cliente que, por coincidência, era policial e solicitou um Lalamove (aplicativo de entregas) para fazer a retirada de um recibo de um carro no despachante e entregar na loja em que ela estava.
Enquanto atendia o cliente Val estava de olho no aplicativo para avisar ao despachante qual era a placa e o nome do entregador, mas, todos os entregadores cancelavam recorrentemente a corrida.
“Chegou, então, na loja um entregador dizendo que era do Lalamove e que houvera uma falha no sistema e, por esse motivo, a corrida não aparecida como iniciada no aplicativo. O suposto entregador estava com meu envelope e disse que eu precisaria pagar a corrida para ele por conta da falha no sistema. Eu me recusei a pagar, visto que já tinha sido cobrado pelo aplicativo, mas, nisso, uma pessoa ligou confirmando as informações do entregador e reforçando a questão da falha e que o pagamento feito ao entregador seria reembolsado”, contou.
O valor da corrida era R$ 5,85 e ela então pagou. “Estava chovendo, o entregador todo molhado. O cliente na loja me esperando. Peguei o cartão de débito e inseri na máquina do suposto entregador. Eles simplesmente limparam a minha conta. Eu só percebi o rombo no dia seguinte, quando fui ao mercado e o cartão foi recusado. Não entendi o porquê, sendo que eu tinha certeza sobre o dinheiro que eu possuía”, explicou Val.
Em contato com a empresa Lalamove, a atendente observou o fato de que a empresa entregou a encomenda sem conferir a placa e, por isso, nada poderia ser feito.
“Pesquisando no site Reclame Aqui, vi que é muito comum esse tipo de golpe na plataforma. Os bandidos roubam a conta do entregador, conseguem todos os dados de quem solicitou o serviço e saem impunes. Quem tem prejuízo é o usuário e o motorista parceiro que teve a conta roubada. Nunca consegui nenhum tipo de reembolso”, disse Val.
VOCÊ JÁ OUVIU FALAR SOBRE A LEI GERAL DE PROTEÇÃO DE DADOS?
A Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD, 13.709/2018) tem como principal objetivo proteger os direitos fundamentais de liberdade e de privacidade e o livre desenvolvimento da personalidade da pessoa natural. Também tem como foco a criação de um cenário de segurança jurídica, com a padronização de regulamentos e práticas para promover a proteção aos dados pessoais de todo cidadão que está no Brasil, de acordo com os parâmetros internacionais existentes.
A lei define o que são dados pessoais e explica que alguns deles estão sujeitos a cuidados ainda mais específicos, como os dados pessoais sensíveis e dados pessoais sobre crianças e adolescentes. Esclarece ainda que todos os dados tratados, tanto no meio físico quanto no digital, estão sujeitos à regulação.
Fonte: mpf.mp.br
CINCO DICAS PARA A PROTEÇÃO DE SEUS DADOS PESSOAIS, EM MEIOS FÍSICOS OU DIGITAIS
Fonte: serpro.gov.br
Comments0