“Mãe, Deus tem barba assim como papai?”
As crianças nos embaraçam, muitas vezes, com suas perguntas que, na sua inocência, não deixam de ser inteligentes e provocadoras.
A respeito de Deus, muitos pais e até catequistas não sabem como responder. Ficam confusos. Quantas mães ensinam a seus filhos que quem está na cruz é Papai do Céu. Mostramos às crianças, e também aos adultos, imagens da Santíssima Trindade: um homem velho de barba, um jovem com a cruz e uma pomba que representa o Espírito Santo. Será que pensamos poder explicar com isto a profundidade do mistério de Deus?
Na Bíblia, lemos que era proibido ao povo fazer imagens de Deus. Uma razão era que, vendo uma imagem de Deus, feita por eles mesmos, se curvavam diante da imagem para adorá-la.
Mas, havia uma outra razão, muito sábia, que proibia fazer imagens de Deus, porque é impossível representar materialmente o que transcende infinitamente nosso entendimento. De modo que qualquer imagem que se faça de Deus é muito limitada, para não dizer: errada.
Os grandes místicos nos ensinam que não podemos definir Deus. Que qualquer ideia que fazemos dele não pode expressar a realidade. Já aprendemos, desde pequenos, que Deus é espírito, o que quer dizer que não pode ser pensado em termos humanos.
A Bíblia nos conta uma experiência que Moisés teve de Deus. Moisés quis ver a face de Deus, quis conhecer Deus. Em linguagem poética, a Bíblia narra uma conversa entre Deus e Moisés (cf Ex 33,18-23). Deus diz: ”Não poderás ver minha face, porque ninguém me pode ver e permanecer vivo.”
Mas, devemos reconhecer que mesmo o Povo da Bíblia, que não pode fazer imagens de Deus, se expressa, muitas vezes, aplicando a Deus sentimentos humanos. Deus fica com raiva, tem compaixão, se arrepende, castiga … Fala de Deus até como de uma mulher grávida que, em dores, gera o povo.
Como seres humanos, temos necessidade de imagens. Na poesia, expressamos os mais profundos sentimentos através de uma linguagem cheia de símbolos e comparações.
Mas, Deus nos providenciou uma imagem dele: seu Filho Jesus. Jesus é a revelação do Pai para nós. Ele é a imagem do Pai. Viveu entre nós, ensinava, agia, julgava, amava. Conhecendo Jesus podemos, então, imaginar como é Deus. Porém, devemos distinguir bem: Jesus não é o Pai, mas revela o Pai, Deus.
Jesus falava constantemente de seu Pai e diz que Deus é também nosso Pai. Os Evangelhos nos dizem que Jesus estava cheio do Espírito de Deus. E Jesus prometeu mandar esta força de Deus também a nós.
Sendo Jesus verdadeiro homem, podemos fazer imagens dele. Mas, mesmo assim, devemos ter cuidado, pois cada pessoa e cada povo ou raça faz a imagem de Jesus conforme lhe agrada. Vi imagens bonitas de um Jesus japonês, vi gravuras de Jesus Libertador mais parecido com Ché Guevara, vi imagens de um Jesus negro e maltratado, e vi muitas imagens de um Jesus adocicado, louro, de olhos azuis, importado pelos europeus em séculos passados. Deve-se ter bom senso para apresentar Jesus como os Evangelhos nos mostram e que podem inspirar o seguimento deste Jesus.
Há ainda uma palavra muito importante na Bíblia: mesmo proibindo fazer imagens de Deus, a Bíblia diz que o próprio ser humano é imagem de Deus. “Criou o ser humano à sua imagem, à imagem de Deus o criou. Homem e mulher ele os criou” (Gn 1,27). Que orientação profunda para nós! A imagem de Deus está ao nosso lado, está presente no nosso irmão, de modo especial nos mais sofridos e rejeitados (cf Mt 25 …. ) E eu mesmo sou imagem de Deus para o outro.
Como, então, apresentar Deus na catequese, no trabalho com jovens e adultos? Diria: Cuidado com as imagens. Será que é necessário fazer uma imagem de um homem velho de barba branca para explicar quem é Deus? Na Bíblia, a barba branca significava sabedoria, mas para nós, hoje, creio que fale pouco. Será que os judeus e certos grupos cristãos que não fazem imagens, têm uma ideia menos esclarecida a respeito de Deus, Mistério profundo e insondável? Será que, hoje, a pomba explica algo a respeito do Espírito de Deus que penetra a criação e, especialmente, o ser humano? Talvez devamos corrigir um pouco nossas ideias e passar para os catequizandos e educandos a imagem de um Deus que acompanha seus filhos, está presente na vida deles e os incentiva a respeitar sua imagem na pessoa dos seus irmãos. Deus é Mistério insondável que nos envolve com seu amor e sua força.
Para refletir:
– Qual a imagem de Deus que você tem? Será que precisa mudar?
– Na sua catequese, você tem cuidado em apresentar imagens? São inspiradoras?
Comments0