A festa de Nossa Senhora Aparecida, neste ano, já se coloca na perspectiva da grande celebração que está prevista para o ano de 2017, quando vão se completar 300 anos do encontro da imagem, nas águas do Paraíba.
A preparação para esta celebração especial já começou, com a iniciativa de levar para as dioceses do Brasil um “fac-simile” da imagem original, que sempre permanece no santuário nacional.
Dada a tradição que o santuário já tem, de administrar bem as multidões que sobretudo nos finais de semana convergem para Aparecida, não será difícil organizar a sequência de peregrinações, que certamente se farão ao longo do ano de 2017.
A Igreja Católica no Brasil tem pela frente, portanto, um momento muito intenso. O próprio Papa Francisco, que não visitou ainda a Argentina, mas que já esteve no Brasil, acenou com a possibilidade de vir especialmente para Aparecida, em 2017.
O curioso é que o ano de 2017 está sendo olhado com forte expectativa também pelos luteranos, e por extensão, por todos os evangélicos.
Acontece que em 2017 se completam quinhentos anos da reforma protestante, tendo como referência o dia em que Lutero expôs suas 95 teses, que se constituíram no ideário teológico de toda a reforma protestante.
São dois eventos bem distintos, é claro. E não há nenhum problema para celebrar um e outro. Mas não deixa de ser uma valiosa oportunidade, para um olhar mais abrangente sobre o caminhar da fé cristã nestes últimos séculos, cuja herança ainda carregamos, expressa de tantas maneiras.
Uma primeira atitude, já amadurecida, é de respeitar as manifestações religiosas que a fé cristã pode ir suscitando. E ao mesmo tempo, buscarmos uma compreensão mais tranquila dos fatos que explicam toda a vasta questão levantada pela reforma protestante.
Com a recente aproximação ecumênica, sobretudo a partir do Concílio Vaticano II, hoje em dia católicos e luteranos se veem muito mais próximos do que tempos atrás. E não deixa de ser curioso o fato de que os iniciadores da reforma protestante, os luteranos, são hoje, entre os evangélicos, os que mais tranquilamente abraçam a causa ecumênica, deixando uma esperança muito grande de que os protagonistas da reforma sejam hoje protagonistas da reconciliação e da aceitação mútua das diferenças eclesiais que podem legitimamente existir.
Que o ano de 2017 seja vivido intensamente no seio da Igreja Católica, mas que a coincidência com o aniversário da reforma protestante seja tido como um estímulo a superar problemas históricos, que nas atuais circunstâncias perdem força e motivação de ainda existirem.
Enquanto é tempo, seria mais do que oportuno, motivar as lideranças eclesiais, para que os dois eventos sejam assumidos positivamente. Que esta coincidência, que parece só aleatória, se transforme em causa a ser assumida de maneira consciente e realista, mas sempre com esperança.
Assim, os trezentos anos de Aparecida, sejam vinculados com os 500 anos da reforma protestante, para benefício da causa ecumênica entre todas as Igrejas.
Por Dom Demétrio Valentini – Bispo de Jales
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