Quer dizer boa nova e, realmente, nada do que aconteceu antes ou depois de Cristo tem a importância da Revelação que o Evangelho nos traz. As pessoas convertidas logo o percebem. Todos os que descobrem Jesus sabem disto: o Evangelho é a boa nova, todas as outras coisas não passam de novidades mais ou menos interessantes.
Os Evangelhos são quatro: de S. Mateus, S. Marcos, S. Lucas e S. João. Tendo cada um o próprio estilo, todos narram a vida de Jesus. Santo Agostinho vê neste número o símbolo dos quatro pontos cardeais, que significa que os evangelhos devem ser pregados nos quatro cantos da terra.
O profeta Ezequiel (Ez 1, 5s), falando de suas visões, afirma que lhe apareceram quatro animais simbólicos: em um sobressaia o rosto humano, e nos outros, respectivamente, a cabeça de boi, de águia e de leão – estranhos seres figurativos dos evangelistas.
São Mateus
Começa seu Evangelho pela série dos antepassados de quem, como homem, Jesus descende, ele é representado pelo animal com rosto de homem. Escreveu visando, particularmente, converter os judeus. Insiste nas profecias messiânicas e demonstra sua plena realização em Jesus Cristo.
São Marcos
Inicia sua narrativa com a história de São João Batista, cuja “voz se faz ouvir no deserto”, tem, por símbolo, o leão. Destinou seu Evangelho aos pagãos convertidos, procurando demonstrar a Divindade de Jesus pelos prodígios que praticou, por seu comprovado poder sobre os elementos da natureza e sobre os demônios, cuja inegável representação eram os ídolos do paganismo.
São Lucas
Inicia seu Evangelho falando do sacerdócio de Zacarias, sacerdote e sacrificador da Antiga Lei, motivo por que é designado pelo touro. Foi companheiro de São Paulo. Destinou seu Evangelho a pagãos e judeus. Narra particularidades que os outros calaram, principalmente sobre a Virgem Maria.
São João
Inicia seu livro com o belíssimo “No principio era o Verbo…” só poderia ser figurado pela águia. Foi o “discípulo amado” e o que deu maiores provas de fidelidade a seu mestre, sendo o único a não abandoná-lo em sua paixão. Escreveu com o fim expresso de demonstrar que Jesus é o Messias prometido no qual é necessário crer para alcançar a vida eterna.
Os quatro evangelistas se entrelaçam e se completam. No entanto, diz São João que “muitos outros prodígios fez ainda Jesus, na presença de seus discípulos, mas que não foram escritos neste livro”. E acrescenta: “Estes, porém, foram escritos, a fim de que creiais que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus, e para que, crendo, tenhais a vida em seu nome” (Jo 20, 30-31).
Mas “a fé sem obras é morta” – ensina São Tiago (2, 17). E é pela vida na Caridade que a provamos. Um grande ato de Caridade é levar a fé – este tesouro – aos outros. Como é um crime inqualificável colaborar para o seu enfraquecimento (ou até sua morte) em alguém – crime que vem sendo cometido, diariamente, por vários meios de comunicação.
As pessoas que tem o dever de ensinar (pais, sacerdotes, etc.), tem uma grande responsabilidade. Pois teremos de dar contas de nossa missão. A parábola dos talentos (Mt 25, 14-30) é muito séria. Os que sabem têm obrigação de ensinar. Ensinar pela palavra e pelo exemplo – como o Mestre ensinou. A fé é um Dom de Deus. Deve ser pedida, procurada e alimentada. “Senhor, que eu Veja” (com os olhos da fé). “Senhor eu creio, mas aumentai a minha fé”.
A fé não contraria a inteligência – pelo contrário, a supõe. Só os racionais têm fé. A fé é própria do homem – do homem inteligente. E é alimentada pelo estudo e meditação. “Quem procura a Verdade, encontra Deus”. “Deus nos capacita a crer em Deus – não é circulo vicioso: é circulação de amor”.
“Deus se revela nos humildes”- está no Evangelho. E os humildes são os verdadeiros, porque “a humildade é a verdade”. A fé é um tesouro insubstituível. É uma força. Sim, é uma força. Sim, é um força, algumas vezes, a única que nos pode sustentar. (“O justo vive da fé”.)
Infelizmente muitos passarão a vida toda sem esse precioso dom, sem jamais ouvir falar de Jesus ou conhecendo-O de maneira deturpada. É muito importante saber que existem no mundo dois tipos de ignorância: a vencível e a invencível. Porém, mais importante ainda é, com sinceridade, examinar-se a esse respeito. “Não procureis vãs desculpas para vossos pecados”. A Deus não se engana.
Ignorância vencível
É a que temos possibilidade de dominar e, neste caso, somos culpados se nela permanecemos. São muitas as pessoas, que por comodismo, covardia, medo de responsabilidade, iludem-se a si mesmas, e fogem de uma busca sincera. Não são muitos os que têm a coragem de se lançar na maravilhosa aventura dos caminhos de Deus. “O reino dos céus pertence aos violentos, e só estes podem alcança-lo”, isto é, só os que fazem violência contra o orgulho próprio e contra a sensualidade. Porque são o orgulho e a impureza os maiores inimigos da fé.
Spirago, refere-se às pessoas que, julgando-se esclarecidas, lançam um olhar de piedade e desprezo sobre os que praticam conscientemente seus deveres religiosos. “Ora, de fato são eles os desprovidos de cultura e ciência, pois não são inteligentes diante dos bens mais preciosos da vida e são ignorantes em relação aos atos de maior importância”. A vaidade e o pedantismo cegam, obscurecem a inteligência (desde Adão e Eva sabemos disso). “Deus se revela aos humildes”.
Além do orgulho, também a imoralidade nos afasta de Deus. “O sol se reflete na água límpida e tranquila e não, nos pântanos”. São Paulo falou: “O homem animal não percebe aquelas coisas que são de Deus; para ele é insensatez e não O pode entender, porque é espiritualmente que O entendemos”.
Ignorância Invencível
Quando, se trata da ignorância invencível, é claro que não há culpa. As pessoas nessa situação, vivendo na sinceridade, podendo-se supor que, se conhecem Cristo, O seguiriam, certamente O seguem, sem o saber. Por isso, nesse sentido, Cristo é a salvação para todos.
Enganam-se os que procuram tornar Cristo mais aceitável, deturpando-O. Ninguém é mais fascinante do que Jesus – mas o Jesus autêntico. São Paulo nos preveniu contra falsos profetas: “… Tempo virá em que os homens não suportarão a sã doutrina e, aos sabor de suas paixões, se entregarão a uma multidão de doutrinadores. Com cócegas nos ouvidos, eles os afastarão da verdade para os inclinar às fábulas” (2Tm 4, 3-4).
Ninguém é mais fascinante do que Jesus – mas Jesus autêntico, Jesus fonte de Vida. De Vida em plenitude.
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