O povo brasileiro tem uma riqueza inigualável em comparação com outras nações do mundo: a miscigenação. Essa mistura de raças, povos, culturas e tradições surpreende a quem vem ao nosso país pela primeira vez. Eu mesmo sou uma mistura de duas raças. Meu pai é descendente de portugueses e minha mãe, dos povos indígenas. Contudo, quando eu era criança, uma coisa me intrigava: o nome de meu pai, Nagib, e os dos meus tios, que têm nomes árabes, gregos ou bíblicos, como Aziz, Alípio, Lídia, Nicolau e Elias.
Certa vez, conversando com eles, disseram-me que isso aconteceu porque meu avô era comerciante e muito amigo dos imigrantes árabes que vieram morar na minha cidade natal. Quando nascia um filho seu, logo homenageava um dos seus amigos, colocando o seu nome na criança. Essa convivência pacífica e amorosa me enchia de alegria e me fazia aprender muitas histórias que os árabes contavam. Existe uma lenda que ouvi de um deles, ainda na juventude, de que nunca me esqueci: um dia, lá no Oriente Médio, dois amigos caminhavam pelo deserto em busca de um oásis para descansar. Eles andavam, andavam… e nada! Até que, muito cansados, acabaram discutindo e brigando.
Aquele que se sentiu ofendido pegou seu cajado e escreveu na areia: “Hoje, o meu melhor amigo brigou comigo”. Eles continuaram a busca por água e comida até que, finalmente, avistaram um pequeno oásis no deserto. Aquele que escrevera a frase na areia saiu correndo, bebeu bastante água. Depois, pulou naquele lago para se refrescar. Mas, como estava exausto da viagem, começou a se afogar. Vendo isso, o outro correu, estendeu-lhe as mãos e puxou-o para fora. Depois de recuperar as forças, abraçou-o e agradeceu seu gesto de amor. Em seguida, gravou a seguinte frase numa pedra: “Hoje, o meu melhor amigo salvou a minha vida”.
Então, aquele que antes tinha brigado com ele e depois salvou sua vida perguntou: “Por que, quando o ofendi, você escreveu aquela frase na areia e agora, que o ajudei, você gravou essa frase numa pedra?”. O outro lhe respondeu: “Quando alguém faz alguma coisa que nos magoa, devemos escrever o fato na areia, para que o vento do amor e do perdão apague rapidamente aquelas palavras que nos machucaram tanto. Todavia, quando alguém nos faz o bem, devemos escrever o que ele nos fez numa pedra, para que possa ser lembrado por muitos e muitos anos”.
Sinto saudade daquele tempo em que convivia com esses grandes amigos de minha família. Rezo por eles e por todos os que deixaram suas terras para construir sua história de vida no Brasil…
Por Pe. Agnaldo José
Texto adaptado da edição de novembro da Revista Ave Maria.
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