Como é bom constatar quão importante se tornou a música no contexto da evangelização no nosso país e no mundo!
Para contar minha experiência de trinta anos cantando e ministrando essa música “católica”, preciso começar relatando com a música entrou em minha vida e como a Palavra de Deus também entrou nela.
Quando tinha apenas 6 anos de idade, vivia numa fazenda onde também nasci, em 1964, um lugar lindo e simples. Meus pais trabalhavam na indústria de papel dessa fazenda, eram operários que se revezavam em três turnos, às seis, às catorze e às 22 horas. Minha casa era simples, o banho era de bacia, o banheiro era a casinha de madeira no fundo do quintal, o fogão era a lenha, a geladeira era a lata de banha, o colchão era de capim e no fundo do quintal também tinha um galinheiro e foi onde tudo começou.
No meu aniversário de 6 anos, em 1970, ganhei de minha irmã um compacto simples dos Beatles com as músicas Help e Girl. Isso deu início ao meu amor pela música.
Na última rua da fazenda, todos os dias depois da aula eu cantava a todo vapor com meu primo, que hoje também é musicista, até o dia em que o meu pai precisava dormir e não conseguia, por isso transformou o galinheiro no nosso primeiro clube. Do poleiro ele fez uma arquibancada, do lugar dos ovos que eram chocados, fez um palco, construiu uma bateria de latas de tintas, microfones de cabo de vassoura e guitarras de folhas de madeira. Assim, cantamos por seis anos no galinheiro.
Um dia meu pai foi nos ver cantar e perguntou como estávamos; eu disse: “Pai, um dia vou cantar na terra dos Beatles”. Ele riu e disse: “Isso fica longe, fica pra lá de São Paulo”.
Anos se passaram e tive outros sonhos e também pesadelos. Com 14 anos, entrei no mundo das drogas e foram anos difíceis. Foi com 18 anos que me encontrei com Deus num grupo de oração e isso mudou tudo. Foi quando descobri que podia servir a Deus cantando.
Ganhei uma Bíblia da Editora Ave-Maria, aquela que nos anos 1980 todos tínhamos nas mãos, marrom e de zíper. Então começou a paixão pela Palavra de Deus.
Dessa forma, eu tinha dois amores: a Palavra de Deus e a música.
A cada versículo que lia, a cada capítulo e livro concluído nascia em mim o dom da composição. Tudo se formava: as ideias, as poesias, as estrofes, os refrões e a vontade de cantar o amor de Deus.
O grupo que me acolheu me tinha como ministro de música e louvor. Nascia ali um músico genuinamente católico. Isso foi em 1983.
Em 1991, ingressei na comunidade Canção Nova. Em 1994, gravei meu primeiro long play (LP) e oficialmente me tornei cantor católico. De lá para cá foram dezesseis compact discs (CDs), três digital video discs (DVDs) e sete livros.
A constância no estudo da Palavra, sempre com a Bíblia da Editora Ave-Maria, fez-me compor 298 músicas, das quais muitas são cantadas mundialmente.
Sempre exerci meu dom de cantar, preparando grandes massas para escutarem a Palavra de Deus por meio de grandes pregadores como Padre Jonas, Padre Leo, Dom Alberto e outros de importância nacional.
A música se tornou parte da minha vida. Sua importância no contexto da evangelização é extrema, pois contamos as riquezas da nossa Igreja, dogmas, doutrina, devoção, Bíblia e tradição.
Impossível imaginar um povo sendo evangelizado por meio da pregação sem antes preparado pela força da canção. É como uma anestesia antes de uma grande cirurgia. É a comunhão entre a música e a Palavra de Deus, entre cantor e pregador, seja na liturgia ou em eventos como em rádios, canais de televisão e hoje também pelas plataformas digitais.
Desde o ventre materno, passando pelo colo de uma mãe, a música da conversão, de um Sacramento, Primeira Comunhão, ordenação, no momento da mais profunda solidão ou da mais extrema alegria, a música está ali e com a letra específica para marcar para sempre o momento.
Seja o canto gregoriano ou rock, seja erudita ou pop, ela serve a um propósito, elevar nossa alma ao Criador e nos conectar à sua vontade de nos elevar ao mais alto grau que um ser humano pode chegar, louvando, adorando na presença dele.
Música boa é aquela que nos faz cantar aquilo que gostaríamos de dizer para Deus, aquilo que por algum motivo não conseguiríamos se não fosse a melodia que nos envolve na unção do momento da visita de Deus à nossa alma.
Canto o que Deus plantou em mim, o que ouvi de meus pais, o que li na Bíblia, o que aprendi com meus catequistas e o que Deus em seu amor me inspira às vezes, assim, do nada.
A Palavra de Deus e a música católica seguem juntas, de mãos dadas, levando mais um a cada momento a descobrir a largura, a altura e comprimento da misericórdia de Deus. É como um pano que constantemente está molhada pela água, que por ele passa. Assim é o meu coração por ter visto tantos olhos cheios de lágrimas por cantarem o que não conseguiam dizer.
Cantei em presídios, hospícios, embaixo de pontes, estádios, prostíbulos, 28 países e em todas as capitais do Brasil. Cantei para três papas, mendigos, pobres e ricos. Para mim, em todos os lugares e momentos, Deus disse: “Continue, não pare! Sempre terá alguém disposto e precisando do que plantei em seu coração”.
Sou um garçom que antes de servir a comida no salão a experimenta no fogão.
Música católica é o remédio para o coração!
Comments0