Uma leitora italiana nos enviou esta pergunta:
Prezados editores, eu acredito que a cruz que Deus nos dá é apenas a da fidelidade aos seus ensinamentos, custe o que custar. Mas Santa Teresinha escreveu: “Cristo reconheceu a vontade do Pai por trás da mão dos algozes que o pregavam na cruz; também nós devemos reconhecer e adorar a vontade do Pai por trás da vontade malvada dos homens, que tantas vezes nos crucifica”. Como interpretar essa frase? (Ezia D., leitora da Aleteia)
Prezada Ezia,
O sofrimento e a dor, especialmente dos inocentes, são o verdadeiro grande mistério da nossa vida. A própria cruz é um instrumento de tortura. Toda tentativa de entender esse mistério precisa ser feita com “temor e tremor”, com respeito. Qual é a causa do sofrimento? Por um lado, há os limites da nossa natureza humana; a fragilidade da criação; por outro, há o pecado, que traz ao mundo a injustiça, a violência, os abusos. Em última análise, tudo vem de Deus no sentido de que é graças a Ele que o mundo criado continua a existir. No entanto, Ele não quer o mal, que, na verdade, consiste na ausência do bem; mas Ele o permite porque nos criou livres e respeita a nossa liberdade – com todas as suas consequências, inclusive a ausência do bem.
Mesmo assim, Deus não nos deixou sozinhos à mercê do mal. Ele nos enviou o seu Filho para nos salvar e dar sentido à dor. O cristianismo, no fundo, é a única resposta verdadeira ao drama do sofrimento: nós acreditamos, afinal, que o próprio Deus, através do Seu Filho e compartilhando a nossa natureza humana, experimentou a dor, a injustiça, a perseguição e a morte. “Deus amou tanto o mundo que deu o seu Filho unigênito para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna” (Jo 3, 16). Jesus Cristo, Filho de Deus, se uniu ao padecimento de cada ser humano, de todos os que sofrem, dos torturados, dos marcados pela doença. Toda vez que vemos um irmão sofrendo, podemos reconhecer nele a presença de Cristo e nos esforçar para aliviar a sua dor e curar as suas feridas, como o bom samaritano da parábola. Esta experiência do amor em meio à dor nos humaniza e nos prepara para a vida plena, em que, livres da finitude da matéria, não mais sofreremos nem morreremos.
É importante entender que não é o sofrimento de Cristo o que nos redimiu do mal, e sim o seu amor por nós: um amor capaz de dar a sua vida até a morte de cruz. Como escreve São Paulo aos gálatas, Cristo “me amou e se entregou por mim” (2, 20). Esta é a vontade de Deus que Cristo aceitou e praticou: amar até o fim, aceitando o cálice da paixão. A paixão e morte de Cristo se tornaram neste mundo um sinal do amor de Deus, assim como a cruz se transformou em instrumento de salvação.
Assim também os nossos sofrimentos e a dor inocente adquirem sentido e se tornam sinal de amor, unidos à cruz de Cristo. São Paulo chega a escrever: “Sou feliz em meus sofrimentos por vós e completo o que, dos sofrimentos de Cristo, falta em minha carne” (Col 1,24). Como afirma João Paulo II na Salvifici doloris, “no mistério da Igreja como seu Corpo, Cristo abriu, em certo sentido, o próprio sofrimento redentor a todo sofrimento do homem”.
Como entender então as palavras de Santa Teresinha? Deus não quer o mal e o sofrimento, mas quer que em nossa vida se manifeste o seu amor, capaz de superar toda cruz.
Por Antonio Rizzolo via Aleteia
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