A Igreja encerra o ano litúrgico com a Festa de Nosso Senhor Jesus Cristo Rei do Universo e o texto de reflexão é o do evangelista Mateus.
No texto dele, Jesus diz que o juízo será sobre o amor que praticarmos para com os nossos irmãos e irmãs necessitados. Em verdade, trata-se de um convite a colocarmos em prática seu exemplo de vida e mandamento do amor.
Os capítulos 24 e 25 do Evangelho de Mateus contêm um longo discurso de Jesus aos seus discípulos (cf. 24,3). É anunciada a manifestação definitiva do Filho do Homem e é feita a advertência de que, enquanto se espera, é preciso estar vigilante. O discurso que percorre esses dois capítulos está escrito na linguagem da época, chamada apocalíptica, e tinha por objetivo mostrar algo que estava oculto. Os seus destinatários eram geralmente grupos em crise e o seu objetivo era levar-lhes uma mensagem de encorajamento e de esperança.
O que é que se passava com a comunidade de Mateus para precisar dessa mensagem? Sua comunidade apercebeu-se de que a segunda vinda do Senhor estava atrasada (esperavam um retorno iminente). Apesar da morte e ressurreição de Jesus, a história parecia seguir como antes. A injustiça continuava, Deus era esquecido, os pobres continuavam a ser espezinhados… Entre os próprios cristãos, havia sinais de abandono, de perda da força da mensagem de Jesus, de desânimo. O evangelista encorajava-os com palavras do Senhor, recordando-lhes que Cristo voltará em glória e que a história terá um fim feliz, mesmo que esse fim esteja agora escondido. No entanto, essa segunda vinda não será imediata, é preciso estar vigilante e empenhado, porque o futuro se constrói a partir do presente. Essa exortação ao compromisso é particularmente acentuada na parábola do juízo final. Ela encerra o ministério público de Jesus e inicia a narrativa da paixão.
Na visão de Mateus, a vinda de Jesus no fim dos tempos será, antes de tudo, um ato de discernimento no qual aparecerão as consequências do comportamento de cada um enquanto espera a vinda do Senhor. É então que se tornará clara a distinção entre o trigo e o joio (cf. Mt 13,24-30), entre o peixe bom e o peixe mau (cf. Mt 13,47-50), entre o servo fiel e o servo mau (cf. Mt 24,45-51), entre as jovens previdentes e as jovens imprevidentes (cf. Mt 25,1-13) e entre os servos leais ao seu senhor e os que não o são (cf. Mt 25,14-30).
O que é mais surpreendente é a medida utilizada nesse julgamento. O que é decisivo é a atitude de amor ou de indiferença para com os pobres e os excluídos. Segundo Mateus seremos julgados pela nossa capacidade de amar essas pessoas. Esse amor tem de ser concreto: dando de comer, de beber etc.; em outras palavras, criando condições de vida justas e fraternas. A razão última está na solidariedade íntima que existe entre eles e Jesus: o que se faz com eles, faz-se com Jesus.
“Filho do Homem” é uma expressão judaica que significa simplesmente um ser humano. Daniel (cf. 7,13-14) usa-a para se referir àquele que recebe de Deus poder, glória e reino, portanto, o Filho do Homem é o Messias que inaugura o Reino eterno e universal de Deus.
Os representantes de Cristo são os pobres (cf. Mt 25,37-40). Aqueles que acolhem os excluídos são chamados “justos”. Isso significa que a justiça do Reino não se alcança por meio do cumprimento de regras e leis, mas, auxiliando os necessitados. Porém, os próprios justos não sabem quando é que acolheram Jesus necessitado. Jesus responde: “Quando o fizestes a um destes meus irmãos mais pequeninos, foi a mim que o fizestes” (Mt 25,40) . Quem são esses “mais pequeninos dos meus irmãos”? São os membros mais abandonados da comunidade, os desprezados que não têm lugar e não são bem-vindos (cf. Mt 10,40). Jesus identifica-se com eles, mas, isso não é tudo. No contexto alargado dessa última parábola, a expressão “os meus irmãos mais pequeninos” estende-se a todos aqueles que não têm lugar na sociedade. São todos os pobres e os excluídos e os “justos” e os “benditos de meu Pai” são todos aqueles que acolhem o outro com total gratuidade, independentemente de serem cristãos ou não.
São “malditos” os que não entram no Reino. Aqui o motivo é um só: não acolheram Jesus, que tinha fome, sede, era estrangeiro, estava nu, doente e preso. Não é Jesus que nos impede de entrar no Reino. É a nossa prática e o nosso modo de acolher, ignorar ou ser indiferente ao outro; é a cegueira que nos impede de ver Jesus nos pequeninos.
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