A parábola é uma das formas da pregação de Jesus: “Muitas coisas lhes falou em parábolas” (Mt 13, 3). Jesus fala aos discípulos e às multidões em parábolas, pode silenciar a sua palavra, embora esta revele um mistério de salvação que sempre supera o homem. Aos discípulos é concedido conhecer os mistérios do Reino (Mt 13, 11) e “compreender” (Mt 15, 51), enquanto que as multidões pareçam incapazes desta compreensão profunda (Mt 13, 11.34-36).
A parábola permite então uma avaliação da profundidade das relações que cada pessoa tem com Jesus: o critério de nossa intimidade com Cristo está no fato de sermos seus discípulos (Mt 12, 48-49; 13, 55-57).
Para Jesus, a parábola não é primeiramente uma questão de literatura, de didática ou de gêneros literários, mas é o surgir do Reino mediante o “aprofundamento” das coisas e das situações. A parábola leva a ir além da percepção sensorial ou da interpretação técnico-racionalista do presente. A parábola é “sacramento”, isto é, a parábola é um gesto de Deus para o homem, um chamado e uma “provocação” de Deus ao interlocutor humano.
Os “superficiais” são aqueles que olhando não enxergam e ouvindo não escutam nem compreendem” (Mt 13, 13): a estes é preciso fazer compreender que a superfície das coisas é parábola, enquanto contém e revela um mistério que está além da superfície.
O dom da fé permite não só perceber que tudo é parábola, mas que tudo é parábola do Reino de Deus. Os discípulos conseguem ver naquilo que é visível, o invisível divino, que revoluciona toda a vida deles: os ideais, as relações e as quedas.
Que significa tudo isto para o catequista? O catequista é chamado pela Igreja para ser o anunciador dos “mistérios do Reino dos Céus” (Mt 13, 11) e o instrumento, mais transparente possível, da revelação da verdade que é Cristo. Sua primeira tarefa consiste portanto em ajudar os ouvintes a não serem superficiais, mas a saber ir além do visível e o sensível para perceber os apelos de Deus e dos sinais do seu Reino.
O que, particularmente hoje, caracteriza a missão do catequista é o esforço para afastar as convicções e os preconceitos de uma mentalidade refratária ao mistério. É a fase da pré-evangelização, que dispõe para a acolhida da boa notícia de Jesus.
Para Jesus, a parábola é um questionamento que pretende despertar a atenção dos presentes, convidando-os a tomar posição. Através de seu conteúdo e de seu ponto provocatório, a parábola leva a descobrir alguma coisa completamente nova e a interrogar-se sobre seu significado.
A inclinação permanente de cada cristão é a de considerar-se satisfeito com o seu presente, cair no hábito ou de deixar sempre para depois o comprometimento com Cristo.
Toca ao catequista “provocar” as perguntas nos ouvintes, despertar neles a expectativas mais amplas e dar-lhes respostas novas à luz da experiência de fé. A palavra do Senhor corre o risco de ficar ineficaz se cair num contexto humano vazio e o banal (Mt 7, 6). Muitas vezes o catequista se encontra trabalhando em grupos refratários ou apáticos: a parábola lhe ensina o tipo de abordagem ou método que convém usar.
Na parábola, Jesus retoma casos e imagens da própria vida: o campo, a semeadura, a casa, o mercador, a ovelha, o patrão, o empregado… É da realidade terrena e da vida vivida de cada dia que Jesus chega às realidades sobrenaturais. É a lógica da encarnação.
Também do catequista se requer esta capacidade de “concretização” e esta aderência ao cotidiano, evitando um anúncio genérico ou abstrato. Partindo da atualidade de seus ouvintes, o catequista deve fazer brotar os significados e os valores ocultos no seu dia-a-dia. A obra do catequista é uma reação contra o processo de massificação de hoje e uma ajuda para a acolhida personalizada da mensagem cristã.
Narrando a parábola, Jesus focaliza a atenção do ouvinte exatamente sobre ele, que revela a imagem de Deus e inaugura o Reino. A parábola não pretende antes de tudo, transmitir um ensinamento, mas propor um “acontecimento”, isto é, um fato salvífico que já se realizou em Cristo. É a perspectiva cristológica, que vem sempre antes da eclesiológica e da antropológica. Toda parábola, com efeito, deve ser lida na perspectiva de Deus em Cristo, na Igreja, em favor do homem.
De sua parte, o catequista é aquele que se faz discípulo da Palavra para fazê-la ressoar junto aos outros. Seu papel é só de mediador e de mistagogo, porque o ponto terminal da sua obra de anúncio e de iniciação é sempre constituído por Deus, Cristo, a Igreja e a nova humanidade.
Na catequese, a leitura de uma parábola é sempre uma ocasião que solicita um adesão sincera e total ao Senhor.
E a aqui está o caráter positivo de toda parábola. Cristo não veio antes de tudo, para lembrar a vigilância (Mt 25, 1-13), o compromisso (Mt 25, 14-30), a sabedoria (Lc 16, 1-8), o julgamento divino (Lc 13, 6-9)… Sua mensagem é a “Boa Nova” porque revela e põe em ação a misericórdia divina (Lc 15), a festa do Reino (Lc 14, 16-24), a recompensa para os chamados (Mt 20, 1-16), a paciência divina (Mt 13, 24-30), o poder da fé (Mt 13, 31-33) e a abundância da colheita (Mt 13, 3-22). Todo dom se torna tarefa e todo chamado exige resposta. A dimensão moral é portanto inerente ao próprio anúncio da parábola.
A proclamação da parábola deve estimular o catequista a fazer os ouvintes perceber a beleza da vocação a que são chamados (Ef 4, 1), antes de sublimar os erros ou infidelidades. A verdadeira escrita da parábola tende a gerar uma nova existência.
Aplicando-se a Cristo, toda parábola revela sempre Deus e o homem: não um ou outro, mas um e outro. As parábolas se tornam um verdadeiro texto de catequese, que faz conhecer o Projeto de Deus para a humanidade e enumera as atitudes fundamentais e perenes da existência cristã: a oração (Lc 18, 1-8), o perdão (Mt 18, 21-35), a humildade (Lc 18, 9-14), o primado de Deus (Mt 22, 2-14), o amor ao irmão (Lc 10, 25-37), a pertença à comunidade (Mt 20, 1-15).
Nas parábolas Jesus se dirige, de preferência, aos adversários (Lc 10, 19) e põe em primeiro plano a alternativa entre a mentalidade corrente e a novidade cristã.
O catequista deve comportar-se com as primeiras comunidades cristãs, que não se limitaram a recordar as parábolas de Jesus, mas as interpretaram confrontando com as etapas e os problemas da própria caminhada de fé.
Toda parábola se concentra num específico ponto de comparação, vai ao essencial, imediatamente. Por isso, a descrição dos acontecimentos e dos personagens se reduz ao estritamente necessário.
No atual contexto de descristianização, convém que o catequista não divague sobre aspectos secundários, mas procure aprofundar o anúncio original. Hoje nenhum aspecto da proposta cristã pode ser considerado conhecido ou tratado superficialmente. Do catequista se exige discernimento espiritual, que lhe permite focalizar sempre o centro da fé e destacar aquilo que o Senhor mais deseja ensinar naquele momento àqueles particulares destinatários.
Enfim: enquanto Palavra reveladora de Deus, a parábola tende à celebração litúrgica, a qual realiza para os presentes o que a parábola proclama. A parábola não é, antes de tudo, uma verdade a ser apreendida, uma idéia a se discutir ou uma moral a ser observada: é a oferta do amor de Deus a ser celebrada com alegria.
Esta deve também ser a preocupação do catequista: conjugar anúncio e celebração. No encontro de catequese é indispensável a abertura à celebração litúrgica.
Colaboração: Maria Helena L. de Carvalho – Novo Hamburgo
Fonte: Luiz Guglielmoni – Revista Catechesi, Itália (1983/15, pp.11-19)
Orientações gerais e indicações práticas para uso das parábolas na catequese.
R. M. O. traduziu.
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