“O Filho do Homemnão veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate portodos” (10,45).
OAutor
Conforme a tradição da Igreja o autordeste Evangelho é João Marcos, de origem judaica, filho de certa Maria, em cujacasa se reunia a comunidade de Jerusalém (At 12,12). Com Barnabé, seu primo,Marcos acompanhou Paulo durante algum tempo na primeira viagem missionária (At 12,25.13,5.13;15,37.39) e depois aparece com ele, prisioneiro em Roma (Cl 4,10). Mas liga-semais a Pedro, que o trata por “meu filho” na saudação da sua primeira Carta(1Pd 5,13).
Características,Local, Data e Forma
Dos 4 Evangelhos o de Marcos é o maisantigo. Antes a “Boa Nova” era anunciada somente via oral (de boca em boca), ouseja, não havia nada por escrito. Entre os anos 65 e 73 d.C., por volta domartírio de Pedro, corria-se o grave risco de se perder o contato com asorigens do Evangelho, pois as testemunhas e os discípulos de Jesus, queanunciavam oralmente o Evangelho, estavam desaparecendo; a expansão da Igrejapara fora da Palestina e a reflexão teológica em choque com as culturasestrangeiras poderiam distorcer a doutrina cristã da sua originalidade. Poresta razão Marcos registrou por escrito a pregação que até então era oral,criando o Evangelho que teria sido escrito em Roma, depois da perseguição deNero, em 64 d.C. Essa data de composição é confirmada pelas alusões à GuerraJudaica e à destruição de Jerusalém (66-73 d.C.), que se verifica sobretudo nocapítulo 13 do evangelho. O texto bíblico apresenta-se sob a forma de umaseqüência de narrativas geralmente breves e sem conexões muito precisas.
Destinatários
O cuidado que Marcos teve de explicaros costumes judaicos (Mc 7), de traduzir as palavras aramaicas, de frisar oalcance do Evangelho para os pagãos supõemque o livro se destina a não-judeus, fora da palestina.
Finalidade
Marcos mostra que Jesus não é umMessias de sucesso fácil, tal como muita gente imaginava e imagina ainda hoje,mas um Messias diferente (“inesperado”). A princípio, nem mesmo seus discípuloso compreenderam. A melhor forma de sustentar a fé da comunidade é esclarecê-la.Para tanto é preciso voltar sempre àquilo que Jesus disse e fez. Por issoMarcos apresenta Jesus de Nazaré como o verdadeiro Messias que, com sua morte eRessurreição, demonstrou ser verdadeiramente o Filho de Deus (15,39) que atodos possibilita a salvação (10,45).
Conteúdo
Ao colocar por escrito o seuEvangelho, que até então era transmitido oralmente, Marcos mantém a originalidadeda vida e da pregação de Jesus, “reevangeliza” a comunidade em crise, respondeàs dúvidas que a rodeavam e oferece-lhe um “manual” para o novo impulsomissionário e a expansão da comunidade. A insistência na necessidade de seguirJesus carregando a própria cruz (8,34) se deve, certamente, ao abalo sofridopela comunidade devido a cruel perseguição de Nero. Tal como para os outros evangelistas, Marcosapresenta-nos a pessoa de Jesus e o grupo dos discípulos como o primeiro modelode Igreja.
OJesus de Marcos
Mais do que em qualquer outroEvangelho, Jesus, “Filho de Deus” (1,1.11; 9,7; 15,39) revela-se profundamentehumano, de contraste por vezes desconcertantes: é acessível (8,1-3) e distante(4,38-39); acarinha (10,16) e repele (8,12-13); pede segredo acerca da suapessoa e do bem que faz (1,44) e manda apregoar o benefício recebido (5,19);manifesta limitações (13,22). É verdadeiramente “O Filho do Homem”, título dasua preferência (2,10). Deste modo, a pessoa de Jesus torna-se misteriosa:porque encerra em si, conjuntamente, um verdadeiro homem e um Deus verdadeiro.Aqui reside a dificuldade da sua aceitação por parte das multidões que oseguem, e mesmo por parte dos discípulos. Na primeira parte do Evangelho (1,14– 8,30) Jesus mostra-se mais preocupado com o acolhimento do povo, atende àssuas necessidades e ensina; na segunda parte (8,31 – 13,36) volta-seespecialmente para os apóstolos que escolheu (3,13-19): com, sábia pedagogiavai-os formando, revelando-lhes progressivamente o plano da salvação (10,29-30.42-45)e introduzindo-os na intimidade com o Pai (11,22-26).
Jesuse os Discípulos no Evangelho de Marcos
Conforme vimos acima, a pessoa deJesus é essencialmente misteriosa e por vezes controversa. Para o seguir odiscípulo precisa de uma fé a toda prova: sente-se tentado a abandoná-lo vendon’Ele apenas o carpinteiro de Nazaré. Por isso, Jesus é também umincompreendido: os seus familiares pensam que Ele os trocou por outra família(3,20-21.31-35); os doutores da Lei e os fariseus não aceitam a interpretaçãoda Lei (2,23-28; 3,22-30); os chefes do povo e os sacerdotes vêem-no como umrevolucionário perigoso (11,27-33). Daí que, desde o início do Evangelho, sedesenhe o destino de Jesus: a morte (3,1-6; 14,1-2). A incompreensão é uma dasmais negativas características no discípulo do Evangelho de Marcos. Talvezporque queriam, como os discípulos de todos os tempos, um cristianismo semesforço e sem grandes compromissos. Apesar disto Jesus não desanima e continuaa ensiná-los (8,31-38; 9,30-37; 10,32-45). O efeito não foi muito positivo: nofim da caminhada para Jerusalém e após Ele lhes ter recordado as dificuldadespor que iria passar a sua fé (14,26-31), a verem traído por um dos doze e preso(14,42-45), “abandonando-o, todos os discípulos fugiram” (14,50). Este é,certamente, o Evangelho onde qualquer cristão se sentirá melhor retratado.
Fontepara os demais Evangelhos
Por ser o Evangelho mais antigo dentroos quatro, só ele conserva o esquema da mais antiga pregação apostólica,sintetizada em At 1,22: começa com o batismo de João (1,4) e termina com aAscensão do Senhor (16,19). Entre os estudiosos bíblicos é comum se afirmar quetodos os outros Evangelhos, sobretudo os Sinóticos (Mateus, Marcos e Lucas),utilizaram mais ou menos o texto de Marcos, assim como o seu esquemahistórico-geográfico da vida pública de Jesus: Galiléia, Viagem para Jerusalém,Jerusalém.
Divisãodo Texto Bíblico
I. ABERTURA (1,1-138): João Batista, obatismo de Jesus e preparação do seu ministério.
II. MINISTÉRIO NA GALILÉIA (1,14 – 7,23):Gestos e palavras do Reino, pão para todos, profissão de fé
III. VIAGENS (9,24-10,52): Por Tiro,Sidon e a Decápole. Instruções do caminho e do seguimento.
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