“Jesus teve compaixão e tocou os olhos deles. Imediatamente eles recuperaram a visão e o seguiram.” (Mt 20,34)
“Que toque é este, que vem de ti, arrepia, contagia, atiça, comove? É sim, este, o teu toque, que me move, a reparti-lo com o toque” (Nice Aranha)
Uma das coisas mais gratificantes de receber é o toque de alguém que amamos. Todo mundo gosta de um chamego. De um cafuné, de um toque carinhoso. Quando um corpo toca o outro, as vidas são misturadas; uma troca de energia, que vai além das explicações científicas, acontece. Na partilha do calor das mãos, partilha-se também a vida, as esperanças e as dores.
Recordo-me com saudade das mãos suaves de minha mãe sobre meus joelhos esfolados. A pele em carne viva tinha suas dores suavizadas pelo gesto materno de cuidado. Parece um mistério, mas a mão estendida com gratuidade e amor tem poder sanador: é capaz de tocar o mais profundo do ser humano e amenizar sua situação de sofrimento.
Se as dores são físicas, uma mão estendida para levantar a gente depois de um tombo ou a leveza delas para fazer um curativo são coisas que ninguém dispensa. A dor continua maltratando, mas, quando partilhada, dói bem menos. Se as dores são na alma, um abraço amigo faz milagres. É tudo que a gente precisa para chorar as angústias e reencontrar o alento para prosseguir.
Não foi à toa que o Mestre de Nazaré operou grandes maravilhas na vida daqueles que se deixaram tocar por Ele ou daqueles que o tocaram. Nos relatos bíblicos, não poucas vezes aparece o refrão: “Jesus aproximou-se e o tocou”. Quantas vezes os evangelhos mostram a aceitação de Jesus em relação à oferta generosa do toque dos desprezados, dos caídos, dos sofridos, dos rejeitados… Não é o caso da pecadora que, aos seus pés, chorava e o tocava? E o que dizer da mulher com hemorragia, que, em busca de uma última saída para seu mal, tocou-o na clandestinidade?
Os evangelhos insistem em afirmar que temos um Deus que toca a gente ou se deixa tocar por nós; toca nossa realidade humana para transformá-la desde dentro.
Nenhum dos que se deixou tocar pelo Mestre continuou do mesmo jeito. Todos foram modificados, refeitos; tiveram suas vidas renovadas. Cada um, de acordo com sua necessidade, foi beneficiado pelo toque amoroso de Jesus. Uns voltaram à vida, outros recobraram a visão, outros escutaram os sons que antes eram inaudíveis para eles e ainda outros se reconheceram como gente diante do desprezo social que insistia em descartá-los.
Jesus de Nazaré, sempre preocupado com a vida, sabia da importância de uma mão estendida, de um braço a amparar, de um toque de carinho. E nossa gente não ignora isso. Ainda que não seja doutora em teologia, sabe por experiência própria da força do toque da fé. Não é sem menos que canta em alto e bom som, nas suas assembleias: “Toca, Senhor; toca, Senhor, com teu amor”.
Artigo escrito por Diego Lelis, extraído da seção “Crônica” da Revista Ave Maria, na edição de maio de 2018.
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