No Tempo Pascal, o texto referência é o de João 20,19-31. Os acontecimentos presentes no texto acontecem na parte da manhã (cf. Jo 20,1-18) e à tarde do primeiro dia depois do sábado e oito dias depois, no mesmo local (cf. Jo 20,26).
João relata alguns dos sinais que Jesus realizou. Ele escreve “para que creiais que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus, e para que, crendo, tenhais a vida em seu nome” (cf. Jo 20,31). Crer é ter vida. Para João, tudo começa com a experiência e o encontro com Jesus (cf. Jo 1,35-39). O evangelista apresenta-se como testemunha dos atos e das palavras daquele que venceu a morte e ressuscitou. Esse testemunho é próprio dos discípulos, daquelas pessoas que o seguiam. Quando Jesus morreu, eles temeram que tudo estivesse acabado, ficaram desorientadas, mas o Senhor ressuscitado apareceu para eles. Sua presença dá-lhes paz – “A paz esteja convosco!” (cf. Jo 19-21.26) – ao mesmo tempo que significa uma nova exigência – “Como o Pai me enviou, assim também eu vos envio a vós” (cf. Jo 21). Eles são os continuadores da sua obra. Nós recebemos esse testemunho e, com ele, a paz e a missão. João insiste na experiência como fundamento da fé.
Inicialmente, os discípulos têm dificuldade em reconhecer o Ressuscitado, julgam ver um fantasma. É por isso que o pedido de Tomé para ver e sentir as marcas em suas mãos e no seu lado é muito interessante para sublinhar que o Crucificado e o Ressuscitado são a mesma pessoa, mesmo que seu modo de vida seja diferente. A ressurreição de Jesus não é o regresso de um cadáver à vida, mas a plena participação de um ser humano na vida divina. Tomé não acredita por intermédio das outras testemunhas oculares, ele quer fazer sua própria experiência, assim, o Evangelho apresenta a dificuldade de qualquer pessoa acreditar na ressurreição, sobretudo aqueles que não viram o Senhor. Tomé está disposto a acreditar, mas, quer resolver, pessoalmente, as dúvidas por temor de errar. Jesus vê em Tomé um homem em busca da verdade e lhe permite fazer a experiência; é, portanto, a ocasião de dizer aos futuros crentes “Felizes aqueles que creem sem ter visto!” (Jo 20,30).
Tomé é apresentado como o representante daqueles que não querem acreditar sem ver. Vencida sua incredulidade, o evangelista apresenta-o como um modelo de fé. Suas palavras contêm a autêntica confissão da fé cristã: “Meu Senhor e meu Deus” (Jo 20,28). Com essas palavras, o Evangelho de João atinge seu ponto mais alto: o reconhecimento de Jesus como Senhor e Deus. Essa clareza só tinha sido anunciada no prólogo “O Verbo era Deus” (Jo 1,1).
Ao verem Jesus ressuscitado no meio deles, os discípulos têm suas vidas transformadas. Experimentam o Espírito de Jesus sobre eles e abrem as portas porque se sentem enviados a viver a mesma missão que Jesus havia recebido do Pai. Também hoje o cristão precisa colocar Cristo ressuscitado no centro da sua vida e agir com todas as suas forças.
Pode suceder que a ideia da ressurreição de Jesus e da sua presença no meio de nós seja mais uma doutrina pensada e pregada do que uma experiência vivida. Jesus ressuscitado está no centro da Igreja, mas sua presença precisa estar mais viva em nós e na vida das nossas comunidades para, assim, alimentar e orientar os nossos passos e projetos.
Após vinte séculos de cristianismo, Jesus ainda não é conhecido e compreendido em toda a sua originalidade. Só a presença viva de Cristo ressuscitado pode dar-nos hoje a força, a alegria e a criatividade de que necessitamos para enfrentar a crise por que passamos na sociedade, no mundo. Nada nem ninguém mais o pode fazer. Sem a força do Ressuscitado, do seu Espírito, não sairemos da nossa passividade, continuaremos com as portas fechadas, sem alegria, nem convicção. Precisamos de Jesus mais do que nunca. Precisamos viver da sua presença, de recordar em todas as ocasiões a sua Palavra e o seu Espírito, de repensar a sua vida, de deixá-lo ser o inspirador de nossa ação. Ele está no meio de nós, comunicando-nos sua paz, sua alegria e seu Espírito.
Envia-nos em missão!
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