Um encontro importante é aquele realizado entre Jesus e João. O discípulo, estupefato, exclama: “Eu devo ser batizado por ti e tu vens a mim!” (Mt 3,14). Por acaso a frase não nos faz lembrar da pergunta de Isabel a Maria, “Donde me vem esta honra de vir a mim a mãe de meu Senhor?” (Lc 1,43)? Jesus se deixa batizar por João Batista com água. Um gesto de profunda humildade. Os céus se abriram e o Espírito Santo se fez presente. Se em outros tempos foram seus pais que conduziram Jesus, nesse momento era o próprio Espírito Santo quem o conduzia (cf. Mt 4,1).
Nem todas as recordações são agradáveis e fecundas. Também o diabo quer ser “encontrado” e se faz encontrável, mas não sem antes preparar-se: aprende de cor trechos das Sagradas Escrituras, com o interesse e a pretensão de tentar o inocente: “Se és Filho de Deus, lança-te abaixo, pois está escrito: ‘Ele deu a seus anjos ordens a teu respeito; proteger-te-ão com as mãos, com cuidado, para não machucares o teu pé em alguma pedra’” (Mt 4,6; cf. Sl 91,11-12). Jesus alerta sobre os encontros que matam quando faltam a oração e o sacrifício em benefício da justiça. Esses dois elementos são indispensáveis para quando o diabo se aproxima, a fim de que ele saia frustrado e esgotado de tanto tentar sem resultados.
Jesus, uma vez tentado, começa a convocar seus discípulos: “Vinde após mim e vos farei pescadores de homens.” (Mt 4,19). Da mesma maneira que os pescadores vão atrás dos peixes, assim deseja Jesus que os seus vão atrás das almas para conduzi-las ao encontro e se transformarem com o amor do Pai. Pescar é dispor-se a entrar em contato com as águas. Não se pode pescar na superfície.
Por outro lado, os peixes não vêm ao encontro do pescador, é o pescador que sai ao encontro dos peixes. Assim como um pescador se arma de suas ferramentas para a pesca, quanto mais, melhor, da mesma forma os seguidores (pescadores) de Jesus devem armar-se de todas as condições para levar adiante sua missão. O primeiro encontro preenche tanto o coração dos discípulos que eles deixam, sem nenhuma frustração, seus bens pessoais. É o efeito imediato de ter encontrado o tesouro escondido, aquela capacidade de improvisar e tomar decisões diante de um bom negócio (cf. Mt 13,44).
Jesus alerta sobre os encontros que matam quando faltam a oração e o sacrifício em benefício da justiça. Esses dois elementos são indispensáveis para quando o diabo se aproxima, a fim de que ele saia frustrado e esgotado de tanto tentar sem resultados.
Cristo estende seu encontro mais além daqueles que escolheu para estar próximos dele. Ele se junta ao povo. Estar com Jesus realiza o milagre da cura: “Senhor, se queres, podes curar-me” (Mt 8,2b). As lepras desaparecem, a paralisia some, a febre vai embora, os demônios deixam de atormentar, a cama se acomoda entre os braços, o sangue deixa de ser derramado inutilmente, os olhos embaçados começam a enxergar, os ouvidos tapados começam a ouvir, as línguas outrora mudas engendram falas, as mãos paralisadas recobram o movimento, os mortos ressuscitam, as pessoas encurvadas se endireitam, os estômagos vazios se saciam.
Os frutos desses encontros com Jesus têm a ver com o projeto de vida trazido nas bem-aventuranças, o convite fecundo de ser sal, luz, para viver em justiça e santidade (cf. Mt 5).
Observa-se que o Senhor estabelece critérios para os demais encontros interpessoais da vida cotidiana. Nesse sentido, todo o Sermão da Montanha é magnífico: convida à discrição, à prudência, a não julgar (cf. Mt 6,16) e, sobretudo, assinala a regra de ouro de que “Tudo o que quereis que os homens vos façam, fazei-o vós a eles” (Mt 7,12a). Jesus deixa claro que todo encontro cristão deve estar marcado pela vida, não pela morte. Essa realidade influi em opções pessoais sobre as palavras que se quer comunicar, as atitudes que se deseja socializar, os olhares que se quer compartir, os abraços que se busca compartilhar, as proximidades que se sonha realizar, os muros que se pretende derrubar com a presença. O que diferencia nossa maneira de forjar encontros?
Texto escrito pela Ir. Ângela Cabrera, extraído da seção “Reflexão Bíblica” da Revista Ave Maria, na edição de outubro de 2017.
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