Os diferentes contextos religiosos
A experiência religiosa dos jovens é fortemente influenciada pelo contexto social e cultural em que vivem. Em alguns países a fé cristã é uma experiência comunitária forte e viva, que os jovens partilham com alegria.
Noutras regiões de antiga tradição cristã a maioria da população católica não vive uma pertença real à Igreja; não faltam, todavia, minorias criativas e experiência que revelam um renascimento do interesse religioso, como reação a uma visão reducionista e sufocante.
Noutros lugares, ainda, os católicos, juntamente com outras denominações cristãs, são uma minoria, que conhece por vezes discriminações e até perseguições.
Há por fim contextos em que há um crescimento das seitas ou de formas de religiosidade alternativa; aqueles que as seguem não raro ficam desiludidos e tornam-se adversos a tudo quanto é religioso.
Se em algumas regiões os jovens não têm a possibilidade de exprimir publicamente a sua fé ou não vêem reconhecida a sua liberdade religiosa, noutros sente-se o peso das escolhas do passado – inclusive políticas –, que minaram a credibilidade eclesial.
Não é possível falar da religiosidade dos jovens sem ter presente todas estas diferenças.
A busca religiosa
Em geral os jovens declaram estar à procura do sentido da vida e demonstram interesse pela espiritualidade. Essa atenção, no entanto, configura-se por vezes como uma busca de bem-estar psicológico mais do que uma abertura ao encontro com o mistério do Deus vivo.
Em particular em algumas culturas, muitos consideram a religião uma questão privada e selecionam das várias tradições espirituais os elementos nos quais encontram as suas convicções. Difunde-se assim um certo sincretismo, que se desenvolve sobre o pressuposto relativista de que todas as religiões são iguais.
A adesão a uma comunidade de fé não é vista por todos como a via de acesso privilegiada ao sentido da vida, e é flanqueada e por vezes substituída por ideologias ou pela procura de sucesso no plano profissional e econômico, na lógica de uma auto-realização material.
Ainda assim, permanecem vivas algumas práticas transmitidas pela tradição, como as peregrinações aos santuários, que por vezes envolvem massas de jovens muito numerosas, e expressões da piedade popular, frequentemente ligadas à devoção a Maria e aos santos, que protegem a experiência de fé de um povo.
O encontro com Jesus
A mesma variedade encontra-se na relação dos jovens com a figura de Jesus. Muitos reconhecem-no como Salvador e Filho de Deus e, muitas vezes, sentem-se perto dele através de Maria, sua mãe, e comprometem-se num caminho de fé. Outros não têm com Ele uma relação pessoal, mas consideram-no como um homem bom e uma referência ética. Outros, ainda, encontram-no através de uma forte experiência do Espírito. Para outros, Ele é uma figura do passado privada de relevância existencial ou muito distante da experiência humana.
Se para muitos jovens, Deus, a religião e a Igreja emergem como palavras vazias, eles são sensíveis à figura de Jesus, quando é apresentada de maneira atraente e eficaz. De muitas maneiras também os jovens de hoje dizem: «Queremos ver Jesus» (João 12, 21), manifestando assim essa saudável inquietação que caracteriza o coração de cada ser humano: «A inquietação da busca espiritual, a inquietação do encontro com Deus, a inquietação do amor» (papa Francisco).
O desejo de uma liturgia viva
Em diversos contextos os jovens católicos pedem propostas de oração e momentos sacramentais capazes de intercetar a sua vida quotidiana, numa liturgia fresca, autêntica e jubilosa. Em muitas partes do mundo a experiência litúrgica é o recurso principal para a identidade cristã e conhece uma participação ampla e convicta. Os jovens reconhecem nela um momento privilegiado de experiência de Deus e da comunidade eclesial, e um ponto de partida para a missão.
Noutros lugares, em vez disso, assiste-se a um certo afastamento dos sacramentos e da Eucaristia dominical, percecionada mais como preceito moral do que como feliz encontro com o Senhor ressuscitado e com a comunidade.
Em geral, constata-se que mesmo onde se oferece a catequese sobre os sacramentos, é débil o acompanhamento educativo para viver a celebração em profundidade, para entrar na riqueza do mistério dos seus símbolos e dos seus ritos.
In Documento final do sínodo dos bispos, 27.10.2018, nn. 48-51
Trad.: Rui Jorge Martins
Publicado em 30.10.2018 no SNPC
Via Catequese Hoje
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