Quando pensamos em mãe, Maria, a maior delas, sempre surge como uma grande referência. Aquela que guia os caminhos, inspira e acolhe nos momentos mais difíceis. A que caminha junto de tantas outras mães há infinitas gerações. Não por acaso, o mês de maio, além de ser dedicado às mães, é também o mês de devoção à Virgem Maria, que brotou a vida nova anunciando o Sol Maior, o próprio Jesus Cristo. “Sempre que olhamos para Maria, voltamos a acreditar na força revolucionária da ternura e do afeto”, ratificou o Papa Francisco, ressaltando a importância da devoção à Virgem.
A maternidade pode chegar de diferentes formas, mas atua sempre da mesma maneira, sendo transformadora e revolucionária. O amor, a cumplicidade e a doação a partir do vínculo que se forma já desde a concepção são imensuráveis e cada vez mais latentes. Um verdadeiro aprendizado diário com a convicção de que o amor genuíno transborda afeto e faz surgir os mais sinceros sentimentos de amor e doação. Isso é praticamente uma unanimidade entre as mães. Seja de primeira viagem ou não, a experiência da maternidade nos tempos de hoje também implica outros tipos de concessões e o desafio diário de “equilibrar os pratinhos”, conciliando maternidade e trabalho (doméstico ou não) com a criação dos filhos. Como é possível na prática?
Há um ano, Leticia Cunha vive a maternidade desde o nascimento da primeira filha, Clara Maria, de pouco mais de 1 aninho. Professora de Ciências, Leticia recorda que a chegada da pequena aconteceu de forma natural, mas que a responsabilidade em continuar a vida humana é algo muito forte, tanto pelo aspecto da educação religiosa quanto familiar. “Sempre foi meu sonho ter filhos. Mesmo eu sendo filha, tendo sobrinhos próximos, irmã mais velha, tornar-me mãe é algo inexplicável. Até mesmo as situações básicas tornam-se complexas, como uma simples ida ao banheiro”, diz, com bom humor. Leticia optou por não voltar ao mercado de trabalho. “Meu dia é dedicado 100% a ela e quero curtir cada fase da minha menina. Tomei essa decisão também pela questão financeira. As creches e escolas têm valores altos para um piso salarial do professor de rede privada”, compara.
Antes da chegada de Clara Maria, Leticia viveu uma experiência desoladora. “Perdi meu primeiro bebê com quinze semanas. A primeira frase que me lembro foi pedir que Nossa Mãe recebesse meu filho. E que se fosse da vontade de seu filho, que eu pudesse me tornar mãe. E o qual pedido de mãe o filho não atende? (risos) Sendo assim, sempre peço a sua intercessão para criar minha menina com muita paciência e sabedoria”, reflete. A professora lembra que passou um ano aguardando a vontade de Deus até conseguir gestar Clara Maria. “Não foi fácil, algumas intercorrências, mas chegamos ao dia do grande encontro, seu nascimento”, lembra emocionada.
Para ela, a maternidade é um eterno servir: “Ver minha menina crescendo sorridente, saudável e a certeza de que estamos fazendo o melhor para que por meio dela tenhamos um mundo um cadinho melhor”, diz reforçando que a Virgem Maria é seu maior exemplo. “Rogo à Virgem Maria para me sustentar, pois não é fácil. Sempre tive carinho por Nossa Senhora, mas por meio do meu esposo a minha devoção aflorou e hoje somos consagrados à Virgem, pelo título de Nossa Senhora de Guadalupe. Inclusive o nome Maria, de minha filha, vem por conta dessa devoção, Clara Maria. E ressalta a importância da ternura de Nossa Senhora em nossa vida. Como aprendemos quão difícil é, mas, ao mesmo tempo, se estamos em sintonia com nosso Pai, torna-se simples”, finaliza.
O sonho de se tornar mãe também chegou para Viviam Rodrigues das Neves desde que Elisa, de 2 anos e 8 meses, nasceu. Na verdade, até antes disso. “Costumo dizer que me tornei mãe há cerca de três anos e quatro meses, porque, desde meu positivo, já me senti mãe. Meu eu mudou, senti-me diferente, plena, realizada, feliz”, explica. A rotina mudou na mesma frequência: “Alterou bastante, mas para melhor. Reduzi o tempo de serviço, preocupei-me menos com coisas menores e, acima de tudo, percebi que o controle da minha vida está nas mãos de Deus”.
Viviam é nutricionista em um hospital estadual no Rio de Janeiro (RJ) e as escalas com plantões de 24 horas de trabalho ainda são angustiantes. “Recentemente, comecei em outro emprego, aumentando a jornada fora, mas dormindo em casa, com ela”, enumera e cita o eterno conflito que aflige muitas mães no retorno ao mercado de trabalho: “Foi desafiador, ao mesmo tempo que maravilhoso, ver-me de volta como mulher, profissional, pessoa, individual, mas doeu o coração deixá-la por tantas horas seguidas”.
Outro aspecto que Viviam ressalta é a participação da Igreja como meio norteador da educação, segundo ela, essencial. “Ter um ambiente de religião faz com que se entenda o respeito e a empatia, o que faz com que valha a pena Jesus ter morrido por nós”. A nutricionista relembra que a família sempre foi “católica de IBGE [Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística]”, ou seja, só dizia que era, mas não praticante. “Ao entrar na catequese, eu e meu irmão começamos a frequentar e não paramos mais”, lembra. A inspiração em Maria como mãe, com sua delicadeza, com os ensinamentos, com as preocupações está presente desde sempre: “Peço, em oração, para que eu a leve sempre como exemplo em todas as minhas ações”. Viviam dedica a Nossa Senhora Aparecida a alta da filha na unidade de terapia intensiva (UTI). “No momento mais difícil da minha maternidade, quando só me restava a fé, foi a ela que recorri e recebi a bênção na mesma hora”, relembra.
No eterno aprendizado na função de mãe, ela chama a atenção para situações corriqueiras, que se tornam experiências dolorosas, mas que poderiam ser evitadas quando a pauta é mães com crianças na Missa. “Muitos julgam, olham atravessado, mas poucos sabem quanto é importante para a mãe manter sua religiosidade, a participação na Missa e cumprir os preceitos. Se ela está ali com seu bebê que faz bagunça ou chora, ela precisa, acima de tudo, de acolhimento, de zelo, de alguém que olhe para ela com carinho. Tudo que não precisamos é de recriminação. Um olhar pode afastá-la da igreja”, pondera.
Já para Aparecida Mota da Silva, o sonho de engravidar aconteceu quando a pandemia da covid-19 ainda estava em evidência. Ainda assim, ela sentia que era o momento de aumentar a família e viver essa experiência tão intensa. Aparecida lembra que levou exatos nove meses para engravidar. Professora de Educação Física e instrutora do método de ovulação Billings, ela acreditava que logo na primeira tentativa já conseguiria, porém, isso não ocorreu: “Acredito que a ansiedade e a falsa ideia de que temos o controle de tudo pesou bastante. Só depois que realmente resolvi relaxar e entregar nas mãos de Deus é que a gestação enfim veio”.
O nascimento de Maria Teresa aconteceu em fevereiro de 2022 e desde então a vida de Aparecida mudou completamente. “Antes eu tinha uma rotina, agora cada dia é uma surpresa”, brinca. Ela conta que tem a rede de apoio dos pais e a parceria do marido. “Foi muito difícil voltar ao trabalho após a licença-maternidade, até porque eu já estava em casa antes mesmo de engravidar devido à pandemia. É como se seu tivesse me ‘desacostumado’ ao dia a dia de uma sala de aula”. Sobre a educação da filha, Aparecida preza pelo diálogo na resolução dos conflitos. “Sou de uma geração cujos pais muitas vezes não ouviam os filhos para que suas ordens prevalecessem. Tentar agir de forma diferente, mas sem ser autoritária, é um desafio bem grande”, ensina.
Aparecida faz questão de exaltar Maria como exemplo de mãe e a melhor referência que pode existir: “Ela esteve com Jesus em todos os momentos. Sofreu todas as suas dores e nunca o deixou de lado. Então, quando os desafios da maternidade parecem uma cruz muito pesada para carregar, procuro lembrar dessa mãe tão doce e busco conforto no seu colo acolhedor”.
Para ela, a maternidade é um exercício diário de resiliência, repleto de alegrias que se sobrepõem a qualquer tristeza. Nesse processo, a Igreja sempre teve papel primordial. “Nunca abri mão da minha religiosidade, pois acredito piamente que sem a fé seria impossível viver a maternidade com maturidade. Frequento as missas desde que minha filha tinha 2 meses. Sua primeira vez na igreja foi em um domingo de Páscoa. Inesquecível”, recorda.
A dentista Mylena Suarez, de Salvador (BA), é mãe de Cintia, 23 anos, e de Cecilia, 20. Para ela, o maior desafio na criação das filhas é lidar com as diferenças e impor limites. “Educar em uma era de internet, em que temos jovens com baixo limiar de frustração e que socializam de forma diferente, é bem desafiador”, diz. Apesar das lutas, um grande motivo de grande alegria para Mylena é a felicidade das filhas. “Vê-las realizadas e felizes, independentemente de suas escolhas, seguindo a vida que elas escolheram é gratificante”, conta.
Mylena lembra que a caçula Cecilia nasceu com problema auditivo identificado ainda na maternidade após uma bateria de exames. “Hoje ela é oralizada, mas no início foi muito difícil, inclusive no período de retorno da licença-maternidade. A rotina era exaustiva”, recorda. Ainda assim, Mylena nunca deixou de recorrer à intercessão de Maria em todos os momentos de sua vida. “Sempre rezei e peço para ter discernimento para criar minhas filhas cumprindo os valores, reconhecendo o valor da família, da religiosidade e das boas pessoas em volta delas. Tenho um grupo de Terço que sempre reza pelos filhos e a gente segue assim”, explica.
Já a operadora de telemarketing Adriana Pio, mãe de Pietro Luiz, 9 anos, gosta de recordar a forma inusitada como descobriu a gravidez. Após três anos de casados, ela e o marido começaram a planejar aumentar a família. A ansiedade do casal interferiu um pouco no processo e alguns alarmes falsos, incluindo enjôos, frustravam quando era constatado o resultado. “Mas Deus faz uma programação para você”, acredita. Numa véspera de Natal, envolvida com todos os preparativos e com a casa cheia de parentes, o marido chega após uma corrida dizendo que estava se sentindo mal, enjoado. “Falei brincando para ele ir comprar um teste de gravidez na farmácia, já que das outras vezes eu que tive os sintomas e havia dado negativo”, lembra.
Adriana teve a ideia quando lembrou de um relato do cunhado de que foi ele quem passou mal na descoberta da gravidez da esposa. E assim a “tradição” familiar se repetiu. “Foi muito engraçado. Eu testei, deu positivo. Não conseguia acreditar e pedi a meu marido que fosse comprar outro teste para sanar qualquer dúvida. E quando veio a confirmação… que alegria! Foi emocionante e logo todos ficaram sabendo da notícia. Um Natal ainda mais especial”, relembra.
Hoje, quase dez anos após aquele dia, Adriana celebra as mudanças na sua rotina: “Tudo muda na vida da gente, porque você tem ali aquela pessoa, um ser miudinho para você cuidar. Além de todas as outras tarefas há a maior delas, que é a de ser mãe”, constata. Atenta à criação de Pietro, Adriana cita os aspectos tecnológicos como a internet como um dos maiores desafios: “As crianças e jovens têm muito acesso à internet. Querendo ou não, nossos filhos não vivem numa bolha, então, precisamos ter o olhar atento. Conversamos muito com ele e damos limites. A vigilância é necessária principalmente nessa fase, mas o diálogo é essencial também”.
Quando Adriana se lembra do que a Virgem Maria representa para todas as mães, isso ajuda a repensar também seus próprios desafios. “Ser mãe não é fácil. É tanta responsabilidade, atribuições… Mas, quando você se lembra da Virgem Maria, mãe de Jesus, mãe do Filho de Deus, e repassa toda a sua história de luta é um grande exemplo inspirador. Uma mãe que soube guiar seu filho e intercedeu por cada um de nós também”, conclui.
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