“Ora Jesus, vendo ali sua mãe, e que o discípulo a quem Ele amava estava presente,
disse a sua mãe: ‘Mulher, eis aí o teu filho’. Depois disse ao discípulo: ‘Eis aí tua mãe’.
E desde aquela hora o discípulo a recebeu em sua casa.”
(Jo 19;26,27)
“Minha mãe é a Virgem Maria.
É ela que agora vai me acolher,
me abraçar.”
(Irmã Maria Angélica, Irmã Maria da Imaculada Conceição)
A presença mariana na fé do povo cristão católico é um elemento que merece destaque, sobretudo nas pessoas mais simples. Em muitas das minhas andanças por este país, deparei com inúmeras representações da Virgem Maria, dos mais ricos brocados de ouro às imagens simples, todas elas carregadas de configurações com o seu povo.
De modo especial, recordo-me de uma que tínhamos em nossa casa. Era uma imagem simples, representando a fuga da Sagrada Família para o Egito. A Virgem com seu Filho no colo sendo carregada por um jumentinho. Desde muito criança, presenciava minha mãe acendendo uma vela e passando minutos em silêncio diante daquela imagem.
Nessa cena era como se as duas mães conseguissem tocar o coração uma da outra. Pouco a pouco, notava a transformação no semblante da minha mãe. Parece que a angústia cedia lugar à calmaria, o medo, à tranquilidade e a indigência, ao amparo. Ela saía daquele profundo momento de contemplação renovada.
Esse hábito, de tão costumeiro em nossa casa, tornou-se significante. Quando víamos minha mãe naquele momento de contemplação, sabíamos que algo muito forte estava acontecendo.
A memória dessa cena permanece viva em mim. Hoje, diante das dificuldades, sei a quem recorrer. A imagem não é mais aquela da nossa casa. Confesso que isso é só um detalhe; o que me motiva é saber que tenho, junto de Deus, alguém que foi gente igual a mim. Sentiu dores, teve medo, foi retirante e viu seu filho ser morto. Ela conhece a minha condição humana.
Em seu colo materno, encontro abrigo em meio aos meus medos e incertezas. Nela encontro o apelo para fazer tudo o que Ele disser (cf. João 2,5). Maria é aquela que toca o coração do seu povo para nos levar ao Cristo. Depois dela, não somos mais órfãos. Ainda que nossas mães biológicas já não estejam mais presentes fisicamente em nosso meio ela é aquela que sempre vai estar conosco, pois uma mãe jamais esquece um filho, ainda que ele esteja ausente.
Ela deseja morar conosco, basta que a acolhamos em nossas casas, em nossos corações. Assim como fez João, e a cada momento de alegria ou aflição, em suas imagens com ricos brocados de ouro e nas mais simples representações, a sua presença nos dirá “Por que tens medo, acaso não estou eu aqui que sou sua mãe?”, repetindo o que disse ao indígena Juan Diego.
Que neste mês de maio, dedicado às mães e à Virgem Maria, possamos voltar à nossa infância, recobrar o nosso contato com aquela que é a nossa mãe por excelência e, como bons filhos, dizermos a ela “Eis aqui o teu filho”.
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