Quatro documentos foram fundamentais para a renovação da paróquia nos últimos quinze anos: o Documento de Aparecida (2007), que conclamou a paróquia a ser discípula-missionária; a Exortação Apostólica pós-sinodal Evangelii Gaudium (2013), do Papa Francisco, documento programático que refletiu sobre a dimensão evangelizadora da Igreja; o Documento 100 (2014), da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB),“Comunidade de comunidades: uma nova paróquia. A conversão pastoral da paróquia”; e, por fim, as Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil (DGAE) 2019-2023, que abordam as comunidades eclesiais missionárias como “casas” estruturadas sobre quatro pilares: Palavra, pão, caridade e ação missionária. Trata-se, portanto, de documentos que representam o caminho proposto pela Igreja universal, latino-americana e no Brasil.
O Papa Francisco afirma, na Exortação Apostólica Evangelii Gaudium, que a paróquia é uma instituição eclesial que possui enorme plasticidade, capaz de renovar-se constantemente. Sem dúvida, os novos contextos e desafios, bem como o desenvolvimento da Eclesiologia e da Teologia Pastoral, lançaram as bases para a renovação da paróquia no século XXI. Nascida em meados do século IV d.C., a paróquia (do grego “paroikia”) permanece fiel à sua vocação como “vizinha”, Igreja que vive “no meio das casas de seus filhos e filhas”. Enquanto “casa”, “domus”, a paróquia abriga e nutre cada cristão em sua vida de fé: é a casa do novo nascimento em Cristo (Batismo), da catequese e da fé na ressurreição. Casa do recém-nascido, das crianças, dos jovens, casais, famílias e idosos. A paróquia, em analogia ao mistério da encarnação do Verbo, é a encarnação concreta da Igreja no meio do povo.
Todavia, mais do que “casa” a paróquia intenta ser “minha casa”: “minha”, pronome possessivo que indica uma relação bastante subjetiva, de vínculo e pertença. Soa bem aos ouvidos e o coração rejubila quando escutamos alguém dizer assim “Lá na minha paróquia!”, porque a comunidade paroquial é “lar”, casa onde convivemos e nos santificamos juntos. Nesse mundo líquido, a crise do compromisso comunitário revela o perigo denunciado pelo Papa Francisco na Exortação Apostólica Evangelii Gaudium: o “pragmatismo cinzento da vida cotidiana da Igreja”, da normalidade de quem cumpre o preceito das missas dominicais como se a paróquia fosse uma espécie de “prestadora de serviços religiosos”, mas não se envolve na vida comunitária. A paróquia é a casa do perdão e da festa, numa referência explícita ao livro de Jean Vanier, Comunidade, Lugar do Perdão e da Festa (1995). Que mais católicos possam, ao dizer “minha paróquia”, alegremente sentir que é sua casa.
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