Quando nasceu Jesus diz o Evangelho (Mt. 2,1) que sua estrela revelou a boa nova aos magos do Oriente. Foi assim que, na Jerusalém do respeitadíssimo e crudelíssimo Herodes, aqueles sábios justificaram a sua presença: “Vimos sua estrela no Oriente e viemos adorá-Lo (Mt. 2,2)”. Os magos não dizem, “uma estrela”. Eles afirmam taxativamente. “sua estrela — stellam eius”.
Trata-se, pois, de uma estrela singular, única — a estrela de Jesus “etellam eius”. Ou seja, a estrela a que por si mesma, por uma relação de sua própria natureza anunciava, a quem a compreendesse, o nascimento do Rei dos Reis, o Messias ansiosamente esperado.
Toda a narração evangélica procede coerente, com base no fato de que o caso é de uma estrela especial, diferente de todas as outras. Ela, com efeito, aparece no horizonte e revela um acontecimento. Ocorrido em outra região distante. Ela se movimenta, apontando o caminho aos magos: em Jerusalém desaparece para reaparecer, assim que os fiéis estrangeiros deixarem a cidade apostata; ela, conduz, enfim, os peregrinos até Belém, e ai se detêm sobre o lugar onde estava o menino (Mt. 2,9). Terminado seu papel, ela desaparece.
Ele é, pois, a “estrela de Jesus — stellam eius”, isto é uma estrela, cuja existência e missão estão vinculadas à pessoa do Filho de Deus Humanado. Eis que, vendo-a os magos não tem dúvidas sobre a revelação Jesus Cristo, tanto de seu nascimento como da sua singular realeza divino humana; pois, apenas viram o menino, “prostraram-se em adoração — procidentes adoraverunt eum”.
O episódio dos magos é indicador do plano da Providência na obra da salvação. É, portanto, de interesse vital conhecer a estrela de Jesus de nossos dias, isto é, o que no mundo de hoje, leva as almas ao conhecimento salutar do Salvador. Como a dos magos esta “estrela” deve, por si mesmo criar nos homens a credibilidade do Salvador, e evidenciar a autenticidade de sua obra. Será visível não apenas um grupo seleto, mas a todos os homens, que os magos não eram mais do que as primícias cristãs do mundo pagão.
A estrela de Jesus hoje, que ele mesmo criou e deixou no mundo, é a Santa Igreja.
Proclama-o o 1º concílio do Vaticano: a Igreja é um sinal levantado no meio dos povos, que convida os incrédulos a se converterem e dá consistência na fé aos que aderirem leal e totalmente a Jesus Cristo. A razão é que as características da Igreja procedem de Jesus cristo e apelam para Jesus cristo. O 1º Concílio do Vaticano as enumera. Vamos destacar uma só, intrínseca, que dá consistência a todos os demais. O Concílio a chama de catolicidade, e consiste não apenas no fato de que a Igreja se tenha espalhado pelo mundo todo — qualquer delírio filosófico encontra adeptos em todos os continentes —.
A catolicidade da igreja está na sua unidade de Fé, Moral e Governo, que se que se conservam os mesmos nos vinte séculos de sua existência e se manterão os mesmos até o fim do mundo, em qualquer parte, onde haja Igreja de Cristo. É o que S. Paulo resumia na conhecida frase: “Chistus heri et hodie ipse et in sæcula (Heb. 13,8). Cristo é o mesmo ontem, como é hoje e será por todos os séculos”. E o Apóstolo entende na doutrina de Cristo, pois logo adverte contra as doutrinas peregrinas. S. Vicente de Lerins, mestre citado pelo próprio 1º Concílio Vaticano, resume numa sentença a catolicidade da Igreja: “quod semper quod ubique quod ab amnibus creditum est — o que sempre. Em toda parte e por todos foi aceito como de fé, isso é católico”. Em outras palavras, a Igreja é tradicional. Igreja nova não é Igreja de Cristo.
+ Dom Antonio de Castro Mayer
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