Acredito que o amor tenha sido um dos temas mais explorados nas literaturas, nas canções e nas artes. Ao longo da nossa vida, vamos aprendendo sobre ele. Embora, objetivamente falando, não saibamos defini-lo, temos ciência de sua existência e concretude por meio dos atos que, imbuídos dele, ganham espaços em nossas vidas. Um carinho, um afago, uma palavra ou gesto de cuidado vão nos remetendo à sua presença.
Se, de algum modo, esse sentimento é tão popularizado, de outro o percebo banalizado. Basta abrirmos as nossas redes sociais para percebermos declarações e juras de amor eterno de pessoas que se conheceram há poucos dias. Há quem diga que isso pode ser explicado pela compreensão de “amor à primeira vista”; penso que a isso podemos chamar de atração à primeira vista. Sobre esses amores repentinos minha mãe nos alertava: “Só podemos dizer que amamos alguém depois de termos comido uma medida de sal juntos” – essa medida tinha a equivalência de quinze quilos. Esse era um alerta para dizer que o amor nasce, cresce e se fortalece na convivência, no conhecimento e, sobretudo, na capacidade de aceitação do outro em sua integralidade.
Jesus Cristo, o grande Mestre, sabia bem disso. Os textos que apresentam a sua vida estão permeados de reflexões e ações de amor. As parábolas da ovelha perdida (cf. Mt 18,10-14), do pai misericordioso (cf. Lc 15,11-32) e a do bom samaritano (cf. Lc 10,25-37) apresentam reflexões sobre conduta de misericórdia e valorização da pessoa humana em sua unicidade. A ovelha perdida é a demonstração do valor inestimável de cada um, o pai misericordioso é o retrato daquele que está disposto a perdoar, mesmo a mais dura ofensa, e o samaritano que se preocupa com aquele que está ferido é a indicação do cuidado com a vida dos nossos semelhantes.
Para além das parábolas, vemos o maior exemplo de amor, um amor comprometido até as últimas consequências e entrega. A doação da vida e a sua livre entrega na cruz.
Os evangelhos trazem como marca a insistente ordem de sempre amar, até os inimigos, disse Jesus no Evangelho de Mateus: “Amar o próximo como a si mesmo” (Mt 5,43) é lugar comum que os evangelistas repetiram à exaustão. No Evangelho de João, porém, esse mandamento do amor aparece com outro formato: “Amai-vos uns aos outros como eu vos amei” (Jo 15,12).
Nesse caso, percebemos a necessidade de levantar a reflexão sobre o tipo de amor que vivemos.
Nós, cristãos, seguidores do Mmestre de Nazaré, devemos buscar alicerçar o nosso amor no exemplo que Ele nos deixou. Necessitamos ir além da liquidez da compreensão de que o amor pode ser descomprometido da vida.
Para chamarmos de amor, necessitamos nos entregar, ser capazes de amar o outro como nós nos amamos, devemos ser ousados ao ponto de nos comprometermos com o outro em uma partilha sincera de vida. Só assim podemos nomear esse sentimento amor.
Coloquemos mais ações em nossas demonstrações de amor, ele necessita ser mais que verbalizado, urge expressá-lo em ações de defesa da vida, de promoção do ser humano em sua dignidade plena. Em nosso país, milhares de pessoas estão passando fome, outras tantas estão enlutadas, outras desempregadas e sem esperança para prosseguir. Esses são lugares privilegiados para agirmos com amor.
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