O Evangelho de São João apresenta Cristo como o Bom Pastor. Ao adjetivá-lo assim, o evangelista assinala que é possível que existam maus pastores; em virtude disso, o autor do livro sagrado dedica o capítulo 10 para exemplificar as atitudes de um Bom Pastor. É o próprio Cristo quem afirma: “Eu sou o bom pastor e o bom pastor dá a vida por suas ovelhas. Elas conhecem a minha voz” (Jo 10,11). Como tudo na vida de Cristo, sua Palavra e seus atos não possuem separação.
A imagem de Bom Pastor trazida por Jesus para si se dá no contexto em que o povo de Israel estava cansado de ser conduzido por falsos pastores que levavam por caminhos de morte e de desgraça, mas, como em Ezequiel 34, o próprio Deus vai, então, assumir a condução do seu povo; Ele porá à frente do seu povo o Bom Pastor, que o livrará da escravidão e o conduzirá à vida.
Embora para nós, em nosso contexto histórico e social, num Brasil cada vez mais urbano, a imagem do pastor pode perder a profundidade do seu significado pelo distanciamento com o contexto rural no qual ele vive, para os receptores primeiros dessa mensagem ela estava carregada de beleza, cuidado e, sobretudo, segurança.
O pastor é aquele encarregado do trabalho duro de sair em busca de comida para alimentar o seu rebanho e aqui falamos de um contexto do oeste da Ásia, extremamente marcado pela aridez climática, pela escassez de comida, de água e de acesso à terra. O pastor é ainda aquele que vigia o rebanho dos perigos e é capaz de curar as dores e feridas das ovelhas machucadas.
O Salmo 22, popularmente cantado por nosso povo em suas diversas versões, recorda-nos que “o Senhor é o meu pastor e nada me faltará”! Essa confiança das ovelhas em seu pastor, por si só, não é garantia de que elas estarão livres de todos os perigos, ela é a certeza de que o pastor cuida do rebanho e isso é o suficiente para prosseguir.
Ele, o Cristo, é o Bom Pastor para todos os povos, basta que ouçam a sua voz, a sua Palavra. A Palavra do Cristo não é uma mera repetição de salmos e orações.
É viva, vivida em atitudes, em sua totalidade, ao ponto de entregar a sua própria vida, como Ele mesmo o fez. O evangelista diz “Não há prova maior de amor que a de doar a vida por seus amigos” (Jo 15,13).
As únicas condições que o Bom Pastor apresenta para que alguém possa fazer parte do seu pastoreio são as de escutar e seguir a sua Palavra. Essa afirmação é de fundamental importância, visto que ela revela quais são as características fundamentais do pastoreio de Cristo e os critérios para pertencer ao seu rebanho: escutar e seguir.
Escutar a voz de alguém, na linguagem bíblica, não significa simplesmente a percepção e a decodificação de um som ou ruído, trata-se de aderir completa e irrestritamente àquele que fala. É deixar-se transformar e, consequentemente, conduzir-se pelas suas palavras, por isso, a escuta vem acompanhada de um segundo elemento, que é a sua consequência: o seguimento.
O Cristo que se apresenta como Bom Pastor quer arrebanhar para si todos aqueles que forem tocados e transformados por sua Palavra. A adoração, a prontidão e a entrega ao Cristo consiste nisso: atravessar as tribulações da vida, seguir e prosseguir decididamente, sem desanimar, convictos de que o Senhor, Bom Pastor, caminha conosco e nos ensina a viver.
Peçamos a Ele a graça de não desistirmos e nem desanimarmos. Caminhemos sempre orientados pela voz do bom e verdadeiro Pastor que nos leva ao caminho e ao abraço amoroso e misericordioso de Deus.
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