Nos últimos tempos estamos diante de uma intensa mudança na comunicação humana, que se desloca para as redes informáticas e tem alterado toda a noção de mundo até então conhecida. É a revolução Telemática. É um novo contexto existencial que desponta num novo ambiente, o virtual. É um verdadeiro espaço humano, pois já é habitado pelo homem. O real e o virtual se misturam e as pessoas estão cada vez mais conectadas: 24 horas. Haja vista aos smartphones. Diminui assim a noção de público e privado e de real e virtual.
Sentidos como a visão e a audição reinam como absolutos neste meio. O modo como a experiência na internet acontece passa prioritariamente por estes sentidos. E isso impacta ativamente a religiosidade das pessoas. Pode-se aprofundar a fé e até ser ambiente propício para uma autêntica experiência de Deus. João Paulo II prenunciava uma “divinização da engenhosidade humana” e Bento XVI definiu como “um verdadeiro dom para a humanidade.” Assim sendo, devemos ter um olhar crítico, mas indubitavelmente positivo em relação às novas mídias. O ambiente virtual possui linguagem própria. Mesmo no mundo real percebe-se que tal linguagem tem interferido na maneira de comunicar. Verbos que fazem parte do fundamento cristão como salvar, converter e com-partilhar mudaram seu sentido a partir da rede. Exige de nós esforço e abertura, principalmente para dialogar com aqueles que chamamos de nativos da rede.
Uma das premissas básicas da internet é ser democrática. Há espaço para todos exporem sua opinião. Mesmo que com isso se cometa crimes como bullying, racismo, pedofilia, etc. Na rede encontramos lado a lado coisas que pareciam opostas, desde visões ultra conservadoras a liberais, de fundamentalismos cegos a relativismos vazios, de conteúdos edificadores e densos a preconceituosos e estéreis, enfim, corre-se o risco, sem discernir sobre aquilo que nos é apresentado na internet, de pegar elementos destoantes da fé cristã e fazer um estranho mosaico psico-espiritual. Por mais que estejamos na era da subjetividade, onde o indivíduo valoriza a experiência pessoal e assume para si o que lhe aprouver, a Fé cristã tem uma característica cara: a Tradição apostólica. Somos herdeiros do anúncio do núcleo da Fé em Jesus Cristo.
Na história do Cristianismo e no processo de inculturação, se assimilou diversos elementos que ajudaram ou atrapalharam a vivência da Fé cristã. As mídias comunicacionais ampliam este processo de inculturação. Para o bem ou para o mal.
Mas como discernir entre aquilo que é coerente com o núcleo da Fé e aquilo que é uma interpretação pessoal e sem fundamento? As mídias tornam visíveis as diversas propostas de caminho. Só uma formação sólida da Fé cristã somada com um senso crítico amadurecido ajudará, principalmente o catequista, a se orientar quando navega na rede. Com isso, o apurado contato com a diversidade poderá ser uma oportunidade para o Ecumenismo, onde podemos conhecer o que o outro tem diferente de nós e também o que tem de semelhante e em que pontos podemos dialogar e nos respeitar. Outra dica é buscar sites recomendados pelas coordenações diocesanas e olhar a fonte, geralmente com o nome Institucional ou Quem Somos. Não se iludir com sites de determinados grupos representativos da catolicidade sejam impecáveis no conteúdo apresentado na net, nem blogs que geralmente servem para visibilizar a opinião pessoal do desenvolvedor. Na dúvida dialogue.
Cuidado especial em “pegar” encontros catequéticos prontos da rede. Não existe material perfeito de catequese. Aquele encontro escrito num site de catequese pode ter dado certo numa realidade, mas não significa que dê certo na sua realidade. Como ajuda para discernir a CNBB lançou o estudo nº 53 – Textos e manuais de catequese – onde diante de um material o catequista deve questionar se: “educa para uma fé engajada, no seguimento de Jesus Cristo, na comunidade eclesial, a serviço da transformação evangélica da sociedade? Favorece a criatividade e a consciência crítica? Estimula a espiritualidade profética? Impulsiona a contínua educação comunitária da fé?”
Uma coisa valiosíssima do catequista é a criatividade. Hoje a internet abriu um leque enorme de possibilidades. De certa forma deixou o perigo da falta de criatividade pessoal do catequista, se este depender unicamente do que encontrar na internet para compor seus encontros. Soa até comodismo. É preciso valorizar a criatividade pessoal com bom gosto e boa formação, mesmo usando a internet para incrementar ideias.
Precisamos sempre é ter um eixo central para o qual vamos usar os recursos assumidos da Internet. Nossa catequese não pode se resumir em recursos, mas pensemos: qual mensagem queremos transmitir e fazer comunhão? Tudo que Jesus fez, viveu e morreu foi pelo Reino do Pai. Sendo assim, este também deve ser nosso eixo: fazer com que os catequizandos se encantem pela pessoa de Jesus e sua mensagem radical do Reino. Quando pegamos algum recurso na internet devemos ter lucidez sobre o que vai me ajudar a transmitir a mensagem do mestre Jesus e levar ao seguimento/discipulado.
Saibamos fazer escolhas que não destoem da mensagem de Jesus nem da realidade que vivemos. Do contrário corremos o risco de fazer encontros bonitinhos esteticamente por que vimos na internet, mas vazios de mensagem ou resposta interior dos catequizandos. Como a internet aceita tudo, muita coisa não passou pelo crivo da discussão entre o grupo de catequistas e da mensagem cristã. Vale a pena planejar os encontros com o grupo de catequistas e, se possível, chegar ao ponto de perguntar ao padre sobre certos encontros /conteúdos propostos na internet.
Texto de Ricardo Diniz de Oliveira.
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