A partir da fala do Papa Francisco, onde ele diz que “a escuta corresponde ao estilo humilde de Deus”, vamos refletir sobre como os católicos leigos podem exercer a escuta, deixando de apenas ouvir para, de fato, escutar e se compadecer com a dor do outro. Seria interessante destacar momentos na vida de Jesus em que Ele escutou o interior das pessoas, mesmo sem que elas tivessem dito algo.
Como nos fala o Salmo 40, o Senhor “se inclina e escuta” o clamor de quem Nele espera. Este é um ato de humildade, que mostra ser necessária uma disposição interior para escutar com atenção e com o coração.
Em sua missão, ao anunciar a proximidade do Reino de Deus e a necessidade da verdadeira conversão, Jesus mostrou que a escuta é o primeiro passo para que grandes milagres aconteçam. Mesmo em situações em que a cura necessária poderia ser previsível, como diante do cego sentado à beira do caminho, Jesus faz questão de perguntar: “O que queres que eu te faça?” (Lc 18, 41), como quem diz: “Fala-me o que há em teu coração, desejo escutar tuas necessidades mais urgentes!”
Mesmo quando nada lhe falavam, Jesus escutava além, pois aquele ou aquela que estava diante Dele tornava-se o alvo central de sua atenção. Ele observava tudo: o olhar, os gestos, o silêncio… Tinha por certo que nada era mais importante do que entrar na vida daquela pessoa. A pecadora caída, apresentada no Evangelho de Lucas, não diz uma palavra sequer, mas, ao banhar os pés de Jesus com suas lágrimas e secá-los com seus cabelos, é por Ele escutada e recebe o perdão, diante de tanto amor expresso, para assim recomeçar a sua vida.
Em algumas ocasiões, como no encontro com a Samaritana (Jo 4, 1-29), Ele mesmo criava o momento de escuta, seguindo até o “poço da vida” de cada um para revelar sua verdade, escutando a vida escondida nas marcas, nas dores e nas lutas. O diálogo que Jesus inicia com esta mulher parece desinteressado quando lhe pede um pouco de água. Mas é justamente com essas interlocuções simples – e até banais – que Ele nos ensina algo fundamental sobre escutar com o coração: que todos têm algo a oferecer, ainda que seja um pouco de água, e que a boa escuta começa com a compreensão de quão importante é aquela pessoa que irá falar.
Santa Teresa de Calcutá nos ensina que “não devemos permitir que alguém saia da nossa presença sem se sentir melhor e mais feliz”. Este júbilo interior começa, certamente, com a escuta; quando, olhado nos olhos, alguém é interpelado: “Mas você está bem mesmo? Pode falar!” e, na confiança fraterna, pode dizer o que se passou e o que sente diante disso.
Se olharmos nossas vivências cotidianas, perceberemos que ainda nos falta algo para este “escutar com o coração”. E não podemos nos prender à justificativa mais corriqueira de nossos dias: “Não tive tempo para escutar…” A experiência com Cristo deve sempre nos motivar a imitar os seus gestos e seguir aquele “aprendei de mim” (Mt 11, 29) que Ele nos propõe.
Como na Última Ceia, no Lava-pés (Jo 13, 1-17), Jesus nos diz hoje que é preciso fazer com os outros aquilo que Ele faz conosco. Seja no silêncio do Sacrário ou na oração pessoal no quarto, o Senhor sempre se dispõe a nos escutar. Isso para que saibamos que Ele não nos abandona, mas também para que compreendamos que, ao escutar com o coração aqueles que chegam até nós, estamos cooperando com a manifestação de seu amor que abraça toda criatura.
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