Por: Maria Helena Brito Izzo
Psicóloga e terapeuta familiar. Fonte: Revista Família Cristã
Quando falamos de mania compulsiva, estamos definindo um comportamento caracterizado por alguns exageros que beiram o fanatismo. Tudo o que foge ao normal, evidenciando uma idéia fixa, um desequilíbrio, acusa um distúrbio doentio. A mania compulsiva revela que a pessoa assumiu uma atitude, reforçada através de frustrações não resolvidas, que a impulsionou a fixar-se num único ponto e a viver em função dele. Pode-se dizer, então, que as pessoas com manias compulsivas, idéias fixas, obsessão e fanatismo demonstram claramente que outras áreas de sua vida estão desequilibradas e que elas estão fugindo de seus verdadeiros problemas.
Há manias leves e pesadas. Dizer, por exemplo, que uma pessoa tem mania de limpeza não significa tachá-la de obsessiva. E comum o uso dessa expressão para traduzir o gosto que o outro tem pela limpeza, porque aprecia as coisas ordenadas, limpas, organizadas, dentro da normalidade. A palavra mania, nesse caso, é usada no sentido de gostar de alguma coisa.
Mas há determinadas manias que viram obsessão e compulsão. Nesse caso, a pessoa adquiriu uma doença difícil de ser erradicada. Como não se encontra bem nas outras áreas da vida, descarrega suas tensões na compulsão adquirida, como busca de um perfeccionismo. No afã de compensar-se de uma frustração, por exemplo, entrega-se à mania de limpeza: lava as mãos dezenas de vezes ao dia, evita cumprimentar as pessoas para não se contaminar, lava tudo o que já estava limpo antes de usar etc. Quem se deixa dominar por tal obsessão estraga sua vida e a dos outros, pois se escraviza de tal forma à limpeza ou a outra compulsão qualquer, que não se permite viver nem deixa os outros viverem.
Há outro tipo de mania, talvez mais perigosa: o fanatismo. Não o do torcedor “doente” de um time de futebol, que briga, discute, esbraveja em nome da paixão que nutre por seu time do coração. Dentro do equilíbrio, isso é até um hobby saudável, pois ajuda a descarregar as tensões do dia-a-dia. Mas os fanáticos que extrapolam o equilíbrio são extremamente perigosos.
Aqui podem ser englobados os extremistas e os terroristas. Ao incorporarem uma determinada idéia, fixam-se nela, como certa e única, tornando-se seus escravos. Não percebem quando estão errados, pois acreditam exclusivamente na sua verdade, demonstrando ausência de bom-senso, horizonte limitado e desequilíbrio. Os obsessivos compulsivos ou fanáticos têm um único tipo de reação: a agressividade, pois não podem ser contrariados.
O que está por trás de uma atitude assim? Algumas vezes, a pessoa vive permanentemente numa situação de raiva, revolta, vingança. Em outras, é a explosão de seu gênio, que é ruim mesmo. Infelizmente, há no mundo pessoas voltadas totalmente para o mal, sem se darem conta de que suas vidas são destrutivas. Todos nós temos o lado bom e o ruim, mas a consciência, centralizada no equilíbrio, grita alto dentro de nós, quando estamos errados. O fanático e o obsessivo compulsivo não ouvem essa voz interior. Estão surdos e cegos para tudo o que não diz respeito à sua idéia fixa. Dentre as várias estradas para fugir da vida e não enfrentar a realidade, escolheram, talvez inconscientemente, a obsessão e o fanatismo.
As causas desse tipo de comportamento podem ser neurológicas e emocionais. As neurológicas, provindas do próprio organismo, exigem acompanhamento médico. As emocionais, fruto da carga genética, do temperamento, do estado espiritual e da influência do meio ambiente, pedem ajuda psicológica.
Desde que nasce, o ser humano necessita de um ambiente favorável ao seu desenvolvimento, com doses certas de amor, apoio, compreensão, orientação, estímulo, atendimento, para se desenvolver harmonicamente. À medida que se desenvolve, ele se descobre como gente. Portas que se fecham nesse período da vida – tragédias familiares, falta de atendimento às necessidades básicas – funcionam como um desvio do verdadeiro caminho.
Por isso, o trabalho do psicólogo é procurar as causas de tais reações, que são diferentes de pessoa para pessoa, para ajudar a sanar o problema. Cada caso de mania compulsiva, obsessiva e fanatismo é único, sendo muito difícil generalizar e diagnosticar as causas sem conhecer a história da pessoa que apresenta tais problemas. Quem chegou a esse grau de desequilíbrio não consegue mais sair sozinho dessa situação. Seu estado crônico exige um trabalho mais aprofundado junto a um profissional da área. A pessoa não percebe seu próprio comportamento, e é preciso que alguém capacitado a puxe de volta, para que retome sua caminhada.
Às vezes, o doente não quer ser curado. Fecha-se de tal modo, tem tanto medo da desacomodação e da dor de tocar nessa ferida, que se desvencilha de qualquer ajuda. Nesse caso, é difícil ajudá-lo, pois ele resiste a qualquer intervenção. Semelhante a um autista voltado para si mesmo e para seu mundo, permanece obcecado num determinado aspecto de sua vida. Não vive e não usufrui de seu direito de ser feliz.
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