As experiências passadas desempenham papel extremamente ambivalente na vida das pessoas. Umas servem de alento, de força vital, de incentivo para caminhar, crescer, abrir-se ao mundo. Outras paralisam, bloqueiam, inferiorizam as pessoas. É difícil entender por onde passa o divisor de águas. Tal constatação vale para os ex-seminaristas. Entre eles existem desde ateus e revoltados contra a Igreja, carregando escuras manchas do tempo de seminário, até pessoas que se comovem às lágrimas quando pensam nos idos da vida clerical.
Esse numeroso contingente de homens, hoje espalhado pelo país e fora dele, por profissões e atividades bem diversas, merece atenção pastoral especial. Além das habilidades que adquiriram depois da saída do seminário, muitos conservam excelente formação religiosa e teológica que prestaria valiosa contribuição para a comunidade eclesial.
Não temos a mínima ideia da riqueza humana e religiosa que os ex-seminaristas significam. Um primeiro passo para tomar pé nesse enorme oceano humano consiste em levantar-lhes os nomes e dados mínimos sobre a dupla experiência do tempo de seminário e depois dela. Acrescentar-se-ia a esse primeiro levantamento uma coluna de sugestões e de disponibilidade pastoral que oferecem.
Que tal se alguma cúria ou secretariado de pastoral criasse um site de ex-seminaristas e aí se conversasse com a finalidade de agrupá-los, pô-los em relação entre si e com alguém que os coordenasse? Quanta proposta maravilhosa surgiria!
Certas pessoas dispõem de potencial incalculável que, entretanto, não rendem frutos por falta de ocasião ou de algum empurrãozinho inicial. Talvez nem lhes tenha ocorrido que, com a formação recebida no seminário diocesano ou religioso, contribuiriam altamente para o enriquecimento da vida da Igreja. A catequese, a pastoral da juventude, o ministério da escuta, a ajuda em campos específicos – psicológicos, jurídicos, técnicos e outros – encontrariam inúmeras pessoas disponíveis que, além dos talentos profissionais, trazem experiências espirituais de valor.
Os seminários e a vida religiosa já viram passar por seus muros multidões inumeráveis de jovens que guardam recordações positivas e gratidão pelo que receberam. Falta acordar sua memória e impulsionar-lhes o desejo de pôr em prática sonhos um dia acalentados.
Mesmo em relação aos que sofreram traumas ou saíram marcados negativamente, há espaço para a reconciliação. Os antigos já nos semearam a memória com ditos segundo os quais o tempo é ótimo juiz das coisas, cura as feridas, lapida as pedras, abranda o ódio, muda a si e a nós com ele. Apostando no futuro, faz-se possível a dupla pastoral com os ex-seminaristas: de valorização de seu cabedal de riqueza espiritual, intelectual e humana e de “purificação da memória”.
Fonte: Revista Vida Pastoral
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