Por: Maria Helena Brito Izzo
Psicóloga e terapeuta familiar. Fonte: Revista Família Cristã
Definida como um estado de espírito, a solidão, quando se instala no interior de uma pessoa, pode servir-lhe de grande bem ou como algo negativo e prejudicial. Pode ser um bem, à medida que o ser humano necessita estar só, quando realiza um trabalho que exige concentração ou reflete sobre sua vida. Há aqueles que até abençoam a solidão em que vivem, porque sabem desfrutar de seus benefícios. A solidão é negativa quando passa a ser um recuo diante da vida.
Há quatro grandes aspectos em que é possível o ser humano se realizar: o afetivo, o profissional, o social e o pessoal. Ele até pode ser bem-sucedido em alguns deles. Mas justamente no aspecto pessoal, em que descobre quem é, o que deseja, com quem gostaria de estar, que se instala a solidão. Quando a pessoa não está bem consigo mesma, quando não digere mágoas, perdas e tristezas, apresenta o terreno propício para que nela se instalem sentimentos negativos. Pode haver, nesses momentos, dois tipos de reação: a daquela que se sente só e definha, e a de quem se sente só e agride. A solidão é o estado de quem não sabe participar da vida.
A solidão não é apenas circunstancial. Alguém pode morar sozinho e ser muito feliz, pois curte o que faz e se encontra de bem com a vida. Mas para quem não alimenta sonhos, não tem objetivos, não vibra positivamente e não é otimista diante dos acontecimentos, é difícil viver. Pára no tempo e ali fica, emperrado.
As pessoas solitárias normalmente são pessimistas, pois ruminam sempre o lado negativo de seu passado: aquilo que não deu certo. Queixam-se de tudo e de todos, e não sobra nada para ser avaliado.
Algumas até gostam de sofrer e se comprazem em chamar a atenção dessa forma. Porém, outras já nascem com esse sentido de solidão – um vazio interior. Experimentam uma tristeza que não explicam, mas que as afasta dos outros. E preciso vasculhar muito para saber o que aconteceu com elas, para ajudá-las a sair dessa situação.
Os que vivem circunstancialmente sós às vezes são solitários, mas nem sempre sentem solidão. Por exemplo: uma pessoa de 80 anos, que não tem mais parentes, está só pelas circunstâncias. Mas, além das circunstâncias, pode se sentir mais só ainda. Dependendo do temperamento, apesar da situação, ela não sente o peso da solidão: faz-se acompanhar pelo rádio, pela televisão, lê um livro, curte sua casa e suas lembranças. Curte o mundo dela. Existe diferença entre a pessoa que se sente sozinha pela vida e a que se coloca sozinha perante ela. Quantas vezes não ouvimos alguém dizer que, no meio de muita gente, se sente só?
Há ainda a solidão do casamento. Tanto a mulher quanto o homem, quando são fechados diante do companheiro e dos filhos, não sabem como trocar experiências. Já a pessoa só não tem com quem repartir, não tem quem lhe dê a mão.
A primeira coisa que alguém em estado de solidão deve fazer é saber por que se sente só, vazio, infeliz, rejeitado e desinteressado de tudo. Há nele uma mágoa profunda que vem de longe. Tem medo das pessoas, sente depressão e angústia.
Nesses momentos, o importante é ir ao encontro da verdade e tentar administrá-la, com o intuito de superar esse estado. Ficar sentada esperando que tudo caia do céu é utopia. Se há interesse em participar da vida, atualizar-se, ocupar-se com algum trabalho manual, a vida se torna mais suave.
Solidão é um estado de espírito. Quem a sente não está bem consigo e com o mundo. Porém, isso depende da história e da natureza de cada um. Na natureza, há a índole e o meio ambiente, duas forças muito poderosas. Às vezes, o meio ambiente é péssimo, mas a índole é ótima. A pessoa supera esse aspecto negativo de sua vida. Outras vezes, acontece o contrário, e ela também supera. Porque há naturezas iguais com histórias diferentes, de pessoas que reagem de forma distinta. Irmãos da mesma família, por exemplo, criados do mesmo jeito, com as mesmas dificuldades, posicionam-se distintamente diante da vida: um se torna encolhido para sempre; outro é a personificação da agressividade, enquanto o terceiro caminha tranqüilo pela vida afora. Sua natureza difere da dos demais irmãos. É algo maior que não se explica e que nós, seres humanos pequenos e finitos, não entendemos.
Para vencer a solidão, além de saber a causa, o indivíduo precisa saber o que o tiraria desse estado. E batalhar para conseguir isso. Para cada pessoa existe um caminho diferente, e deve-se lutar para alcançá-lo. A resposta negativa da vida ela já tem, agora é preciso buscar a positiva, pois a solidão costuma matar de tristeza. A pessoa vai se atrofiando e, quanto mais fraca ficar, menos condições de reagir tem.
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