No dia 28 de dezembro, dentro da oitava do Natal, a Igreja celebra a Festa Litúrgica dos Santos Inocentes. Três dias depois de celebrar o nascimento redentor do Divino Menino, os cristãos recordam a morte daquelas crianças que, a mando de Herodes, foram assassinadas em Belém e redondezas depois da partida dos reis magos. Narrada pelo evangelista Mateus, a morte desses pequenos mártires antecipa o testemunho de fidelidade que os futuros cristãos, depois da morte e ressurreição de Cristo, dariam em defesa da fé.
Essa festa, celebrada na Igreja do Ocidente desde o século V, aponta para uma realidade importante da vida cristã, deixada um pouco de lado, infelizmente, no atual contexto religioso: a encarnação do Verbo traz consequências práticas para a vida de todo aquele que assume a fé em Jesus, tais como o desprezo e a incompreensão de quem, por ignorância ou mesmo intolerância à fé, não aceita ou se incomoda com o anúncio da Boa-Nova. “Ele veio para o que era seu, mas os seus não o acolheram” (Jo 1,11): essas palavras do Evangelho de João continuam a soar, de alguma forma, na vida daqueles que sinceramente procuram testemunhar Cristo e sua Palavra.
Não há racionalidade no ódio e na intolerância religiosa, como não havia racionalidade no medo que Herodes experimentou com o nascimento do Divino Infante, medo que o levou a cometer um verdadeiro massacre, ceifando vidas inocentes.
Também hoje inúmeros cristãos no Oriente Médio são perseguidos e assassinados, proibidos de se reunir ou testemunhar publicamente sua fé. A intolerância religiosa é, na sociedade contemporânea, uma das maiores afrontas aos direitos fundamentais do ser humano, pois cerceia a liberdade de culto e promove a segregação.
A festa dos Santos Inocentes nos ensina que o cristianismo, desde o seu início, com o nascimento do Redentor, traz consigo a marca do martírio. Mesmo sem confessar publicamente com a boca, os Santos Inocentes proclamaram com seu sangue e vidas a realeza de Cristo, verdadeiro Rei e Príncipe da Paz. Os cristãos perseguidos mundo afora têm nos Santos Inocentes um exemplo de simplicidade e de testemunho silencioso da fé em Jesus.
Assim canta a Igreja no hino da Epifania do Senhor: “Por que, Herodes, temes/chegar o Rei que é Deus?/Não rouba aos reis da Terra/quem reinos dá nos Céus”.
Os Santos Inocentes receberam os reinos que Cristo, pelo mistério de sua paixão, morte e ressurreição, conquistou para os eleitos. O testemunho que essas crianças deram em sua breve existência foi suficiente para que recebessem de Jesus o prêmio de seu peculiar martírio. Que dos reinos celestes onde se encontram com o Senhor, os Santos Inocentes intercedam pelos cristãos que, hoje, são perseguidos por ódio à fé e recebam a fortaleza para resistirem e confessarem o Cristo.
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