Quando me pediram para refletir sobre a VERDADEIRA CARIDADE, confesso que fiquei incomodada com a palavra VERDADEIRA. Questionei-me várias vezes sobre a necessidade da palavra VERDADERA. Fui buscar, na Palavra de Deus a resposta, o sentido de viver a caridade.
A Bíblia nos revela, em suas páginas, que o princípio da caridade nasce de Deus, que é amor. Ela é verdadeira, porque emana do verdadeiro amor que é Deus. Torna-se concreta quando une a nossa própria vida à vida de outras pessoas. A caridade é um dos mais belos atos de doação que fazemos de nós mesmos.
Engana-se quem pensa que fazer caridade é dar uma simples esmola. A palavra de Deus nos revela que a verdadeira caridade vai muito além do dar aquilo que temos, é dar de si, é partilhar a própria vida, é um doar-se para salvar. Podemos dizer, sem medo de errar, que é uma vida que sustenta outra vida nos momentos de dor, sofrimento, pobreza, miséria, invalidez, doenças e tantas outras realidades que assolam o nosso viver.
A pessoa que vive a caridade cristã se compadece, por isso doa mais que a si mesma, doa esperança, fé, amor, ensina a buscar a Deus quando as respostas humanas são insuficientes e somente Deus é a resposta. Gasta tempo, sacrifica-se quando divide a dor do outro, ajudando-o a carregar a cruz do sofrimento, sustentando-o nas horas mais difíceis, apaziguando situações e corações com palavras, gestos ou simplesmente com sua presença, mesmo que silenciosa. É um braço que se estende, é um abraço que acalenta, é um ombro para chorar.
Quem vive o verdadeiro sentido da caridade se cansa, aperta-se, chora junto, porque não é de ferro, sempre encontra forças para ajudar. Mas também se enche de alegria e de paz pelo bem realizado, pela superação alcançada, pelo sorriso que, às vezes, custa a aparecer. Não devemos ter receio de acalentar um coração dilacerado pela dor, são nestas horas dolorosas, de separação, morte ou enfermidade que precisamos estar presentes. É quando acreditamos que não temos nada a doar que o Espírito Santo de Deus inunda nosso ser com palavras de sabedoria, gestos concretos de amor e acolhimento. São nestes momentos que a graça de Deus, que supera todo o nosso entendimento, passa por nós, para revigorar a pessoa necessitada e acaba por nos fortalecer também, porque primeiro a graça passa por nós para chegar a alguém. São João o apóstolo do amor nos diz:
“Nisto conhecemos o Amor: ele deu a sua vida por nós. E nós também devemos dar nossa vida pelos irmãos. Se alguém, possuindo os bens deste mundo, vê seu irmão na necessidade e lhe fecha as entranhas, como permaneceria nele o amor de Deus? Filhinhos, não amemos com palavras nem com a língua, mas com ações e em verdade” (I João 3, 16-18).
São João dá à verdade um sentido muito maior que engloba fé e amor, por isso, em suas cartas, ele afirma que são da verdade aqueles que creem e amam.
Precisamos nos lembrar sempre que está ao nosso alcance viver a verdadeira caridade, porque acolher, abraçar, dar uma palavra de conforto, emprestar os ouvidos para escutar, fazer uma prece, um cuidado, ter paciência, ser presença, levar roupas, remédios e alimentos são gestos que nascem de um coração que ama. O esquecer de si para servir o outro sem esperar nada em troca é a maior riqueza que temos para doar. Às vezes, basta uma ideia simples, um chá, um bolo, uma sopa. Algo do nosso dia a dia, mas que contagia outras pessoas para que a solidariedade, tantas vezes esquecida, seja despertada em nosso viver.
Com as enchentes no Rio Grande do Sul, pudemos tocar nas mais diversas formas de solidariedade, foi comovente ver pessoas que perderam tudo ajudando outras tantas. Pessoas que não pararam em sua própria dor ou no cansaço, mas se mantiveram firmes para aliviar o sofrimento do próximo. Pessoas que deixaram o conforto de suas casas para se colocar em meio à lama e salvar vidas. Pessoas que doaram suas férias, seus conhecimentos para se colocarem a serviço do próximo que sequer conheciam, comunidades que se uniram para arrecadar roupas e alimentos. Pessoas que dividiram o que tinham para comer, dividiram o que tinham para vestir. Todos, que imbuídos pelo verdadeiro sentido da caridade, deram um grande exemplo de amor, solidariedade e respeito à vida.
A verdadeira caridade existe e é vivida dentro da dimensão da compaixão, pois é com o outro que passaremos pelo calvário desta vida colocando nossa confiança em Deus. Um cristão nunca está sozinho quando imbuído de compaixão, faz um gesto de caridade, tornando-se um portador da graça de Deus. A caridade, na concepção cristã, é a essência do cristianismo e nos mantêm abertos à vida e abertos e às pessoas a nossa volta.
A caridade é a virtude de amar ao próximo como a si mesmo. Um agir que nasce da compaixão e não espera reconhecimento. A caridade é um princípio cristão que se mantém ao longo dos séculos, é atual e necessário. A caridade cobre uma multidão de pecados (conf. 1ª Pedro4,8).
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