A fé em Israel é que Deus é soberano. Ele reina sobre o seu povo (cf. 1Sm 12,12) e também sobre todos os povos. Ele é Rei e Senhor (cf. 1Sm 12,12; SI 5,2; 10,16; 29,10). E é em Jerusalém que se encontra o trono de Adonai (cf. 1Cr 28,5).
O povo de Israel retinha a expectativa da vinda do Reino para redimir seu povo mediante a destruição dos inimigos. A manifestação se daria por meio de grandiosa irrupção cósmica e sobrenatural com a vitória do Senhor dos Exércitos, como fizera na libertação do Egito: “E o Senhor nos fez sair do Egito com mão forte e braço estendido, em meio a grande terror, com sinais e prodígios” (Dt 26,8). Tal expectativa e conceito atingiram seu ápice na literatura apocalíptica judaica posterior.
Nos evangelhos, a expressão “Reino de Deus” aparece 51 vezes: quatro em Mateus, catorze em Marcos, duas em João e 31 em Lucas.
O Reino de Deus constitui o centro do ensino de Jesus. Com Ele chega a Boa-Nova (Evangelho), com o anúncio de βασιλεία τοῦ θεοῦ (Reino de Deus). Ele iniciou seu ministério falando do Reino.
Mateus escreve: “Jesus percorria toda a Galileia, ensinando nas suas sinagogas, pregando o Evangelho do Reino, curando todas as doenças e enfermidades entre o povo” (Mt 4,23).
Marcos relata: “Depois que João foi preso, Jesus dirigiu-se para a Galileia. Pregava o Evangelho de Deus, e dizia: ‘Completou-se o tempo e o Reino de Deus está próximo; fazei penitência e crede no Evangelho’” (Mc 1,14-15).
Lucas apresenta Jesus anunciando a Boa-Nova do Reino de Deus e enviando os discípulos a pregarem: “Mas Ele disse-lhes: ‘É necessário que eu anuncie a Boa-Nova do Reino de Deus também às outras cidades, pois essa é a minha missão’” (Lc 4,43). Ele ensinou seus discípulos a orarem pela vinda do Reino (cf. Lc 11,1-4); confortou os seus seguidores com a promessa do Reino (cf. Lc 12,32); convidou a entrar pela porta estreita do reino (cf. Lc 13,22-30).
Em Jesus, esse Reino é presente. Ele afirma: “Mas se expulso os demônios pelo dedo de Deus, certamente é chegado a vós o Reino de Deus” (Lc 11,20). A autoridade e o poder de Jesus em atuação demonstrava que o poder de Deus era uma realidade. A confirmação da presença do Reino de Deus.
O Reino de Deus já é uma realidade presente. Jesus dirige esta palavra aos discípulos: “O Reino de Deus está entre vós” (cf. Lc 17,21).
Falou sobre o como é exigente para alguns entrarem no Reino: “Um homem de posição perguntou então a Jesus: ‘Bom Mestre, que devo fazer para possuir a vida eterna?’. Jesus respondeu-lhe: ‘Por que me chamas bom? Ninguém é bom senão só Deus. Conheces os mandamentos: não cometerás adultério; não matarás; não furtarás; não dirás falso testemunho; honrarás pai e mãe’. Disse ele: ‘Tudo isso tenho guardado desde a minha mocidade’. A estas palavras, Jesus lhe falou: ‘Ainda te falta uma coisa: vende tudo o que tens, dá-o aos pobres e terás um tesouro no Céu; depois, vem e segue-me’. Ouvindo isto, ele se entristeceu, pois era muito rico. Vendo-o entristecer-se, disse Jesus: ‘Como é difícil aos ricos entrar no Reino de Deus!’” (Lc 18,18-25).
O Reino de Deus é dom e graça, tarefa e missão. Inicia no coração de cada pessoa e se concretiza em seu agir: “Dai-lhes vós mesmos de comer” (Lc 9,13). Requer decisão: “Em seguida, dirigiu-se a todos: ‘Se alguém quer vir após mim, renegue-se a si mesmo, tome cada dia a sua cruz e siga-me’” (Lc 9,23). Inicia aqui e agora (a dimensão sociológica) e transcende esta realidade: a plenitude escatológica: “Venha o teu Reino” (Lc 11,2-4).
O Reino de Deus – Malkut/basileia: Reinado – Soberania – Senhorio, não é um lugar. Está em ação no aqui e agora – as parábolas do Reino: o Reino de Deus é como…
Esse Reino traz uma dimensão de ser no aqui e agora e uma ainda não, está em processo na medida em que a vontade de Deus se realiza nos corações, uma vez que nem todos creem ou se determinam pelo que bom e bem na vida.
Em verdade, o Reino não é algo a vir no fim e sim deve ser o fim. Colocar fim a tudo que é antirreino, a injustiça, violência, desigualdade, maldade etc. para que a vontade Deus se realize, a vida em abundância para todos, pois o Reino assume encarnações concretas. Nesse sentido, o Reino de Deus carrega em si uma força profética que divisa o presente e o futuro.
A missão da Igreja é ser neste mundo o sinal/Sacramento do Reino. A comunidade dos seguidores e seguidoras de Jesus é a construtora do Reino de Deus.
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